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Postado em 28/09/2015 - 1:59
A arte de olhar
Camila Régis

Com dez anos de história, Paraty em Foco traz programação integrada ao espaço público e se consolida como principal festival de fotografia do país

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Legenda: © Antoine D’Agata, Cambodia, 2006, cortesia Magnum Photos

O centro histórico de Paraty, no litoral fluminense, é conhecido por suas ruas de pedras, casas coloniais e uma quantidade imensa de turistas, brasileiros e estrangeiros, que portam câmeras ou celulares para fotografar a paisagem local. Entre os últimos dias 23 e 27 de setembro, a cidade viu seu número de flashes disparar exponencialmente. Parte dos visitantes que passeavam pela área central eram fotógrafos, profissionais e amadores, entusiastas, pesquisadores, curiosos e estudantes que vieram à cidade para participar do Paraty em Foco, principal evento dedicado à fotografia no país. 

Organizado por Iatã Canabrava, o festival chegou a sua 11ª edição com um cronograma integrado ao espaço público. Palestras e entrevistas com nomes importantes do circuito da fotografia internacional aconteceram em locais como a tenda principal, ao lado da Igreja Matriz, gratuitamente. Para participar, bastava fazer um credenciamento. Na primeira noite, o francês Antonie D’Agata, conhecido por suas imagens que abordam temas polêmicos como drogas e prostituição, fez uma fala de abertura. Nos dias seguintes, fotógrafos como o finlandês Arno Rafael Minkkinem, o australiano Max Pam, os brasileiros Claudia Jaguaribe e Christian Cravo também conversaram com o público sobre temáticas dentro do eixo curotarial deste ano: a “representação e autorrepresentação na era dos dispositivos eletrônicos”.

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Legenda: © Max Pam, My Daughter, Paris (2008)

Além dos debates, exposições se espalharam por diversos pontos de Paraty. A célebre série fotográfica Supertourist, de Max Pam, pode ser vista em grandes cubos que ocupavam a Praça da Matriz. A Casa de Cultura abriga três mostras: ID – Retrato contemporâneo por artistas brasileiras, com trabalhos de mulheres como Lenora de Barros, Claudia Andujar e Sofia Borges; Richard and Famous, com obras de Richard Simpkin; e Autorretrato sensorial, com imagens clicadas por Edu Monteiro.

Apesar de acontecer em um município com um pouco mais de 35 mil habitantes, o festival, devido ao seu cuidado com o planejamento, ganhou ares dos eventos que ocorrem em grandes centros. “O festival funciona quase como uma bienal. A curadoria está bem amarrada, com palestras e workshops relacionados entre si. Isso é importante pois existe um ponto da curadoria que ela se torna aberta ou fechada demais”, comenta a diretora do EAV Parque Lage, Lisette Lagnado, logo após participar da mesa “Caminhos, políticas e definições para uma fotografia em processo de expansão de ideias e reflexões”, na quinta-feira (24).

Durante os dias do evento, moradores e visitantes se viram imersos no contexto ideal para de fato olhar a fotografia e perceber reflexões que ela gera em um mundo no qual a cultura imagética impera. “O Paraty em Foco criou um espaço privilegiado onde você pode vir e mergulhar num processo que podemos chamar de ‘frequentação intensiva de fotografia’, ou seja, cinco dias ouvindo, vendo, sentindo e se emocionando através da fotografia e seus protagonistas”, finalizou Canabrava.