“Mas, dirão vocês, nós lhe pedimos que falasse sobre as mulheres e a ficção — o que tem isso a ver com um teto todo seu?”
Em 1928, Virginia Woolf, já renomada romancista, foi convidada a palestrar para a Sociedade das Artes, em Newnham, para uma plateia de mulheres. A temática original, mulheres e ficção, acabou de certa forma subvertida, e o que as moças ouviram foi um verdadeiro manifesto feminista, em um discurso direcionado à sua emancipação.
“A mulher precisa ter dinheiro e um teto todo dela se pretende mesmo escrever ficção”
A conferência e o livro dela resultante mostram ao público, por meio da hipotética mas absolutamente verossímil trajetória de uma personagem fictícia — “Mary Beton, Mary Seton, Mary Carmichael ou o nome que lhes aprouver, isso não tem a menor importância” — a realidade completamente desigual de oportunidades e de direitos entre homens e mulheres.
Virginia Woolf desenrola as ideias que a levaram a tal conclusão — de que “a mulher precisa ter dinheiro e um teto todo dela se pretende mesmo escrever ficção” — e ao fazê-lo, explicita a relação entre produção intelectual, científica ou artística, e as condições materiais.
As mulheres de então, ou demasiado pobres ou demasiado submissas, são desencorajadas pelos homens a produzirem suas próprias obras, sendo constrangidas a acreditar que sua produção é de má-qualidade ou naturalmente inferior — fato que infelizmente ainda não pode ser lido como mera curiosidade histórica. Ela demonstra a influência dessas circunstâncias sobre a produção intelectual feminina, explicando a consequente raridade de tal produção na época.
A escritora, que se suicidou em 1941, talvez ficasse feliz com os pequenos avanços femininos no séc. 21, ao saber que no Brasil, o programa do governo federal Minha Casa Minha Vida, que subsidia moradias para famílias de baixa renda, passou a prever a partir de hoje que, em caso de separação, a casa fica com a mulher. Ao ver que, embora lentamente, as mulheres ganham voz e reconhecimento como protagonistas que são na formação do mundo contemporâneo.
Além do valor histórico como documento feminista, a obra serve também como panorama crítico literário da época, e está disponível para download na internet, em domínio público, após 71 anos da morte de sua autora.
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