Legenda: Fabiana Faleiros (Pelotas, 1980. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo). Lady Incentivo, 2014. Logomarca e vinheta sonora
Anunciantes é uma curadoria site-specific que adere às características do meio editorial e comenta – seja afirmando, refutando ou mantendo em suspenso – as motivações da iniciativa que o recebe e promove. Essa iniciativa é originalmente a revista Plataforma, publicada em formato iPad pela seLecT e Latitude, um programa de divulgação internacional da arte brasileira organizado pela associação das principais galerias comerciais do País, a Abact. Dentro do espelho dessa publicação feita no Brasil e toda traduzida para o inglês para atingir seu público-alvo, a presença do conjunto de artistas convidados para a mostra acontece em espaços dedicados a publicidade. Os anúncios-obras espalham-se pelas páginas de Plataforma. A partir de lógica semelhante, alguns dos anúncios aparecem na edição impressa da seLecT.
Legenda: Jorge Menna Barreto (Araçatuba, 1970. Vive e trabalha entre São Paulo e Florianópolis). No More Tears, 2009. Cartaz com still do shampoo Johnson&Johnson
Entre iniciativas inéditas e apropriadas de outros contextos, foram veiculados, aqui, aqui e na Plataforma, anúncios-obras e um caderno de classificados, nos quais predominam textos curtos de toda a sorte de oferta e procura. Nesse caderno foram compilados cerca de 40 anúncios, dentre os quais obras históricas de “arte-classificada”, um gênero fundamental para a geração conceitualista brasileira, e também peças recentes, enviadas de vários lugares do Brasil a partir de uma chamada por e-mail e pelo Facebook.
Legenda: Gia (Salvador, 2002). Cervejagia, 2009. Vídeo promocional da cerveja criada pelo coletivo e bebida nas rodas de samba que ele promove
O projeto Anunciantes lida com o hábito de se ler/consumir publicidade nos veículos de comunicação, sejam eles diários ou especializados. A revista norte-americana Artforum, por exemplo, costuma ter cerca de 120 páginas de propaganda entre as 250 totais. A familiaridade do público com esse lugar de persuasão cria oportunidades de recepção para propostas artísticas de cunho experimental. Sem apagar o estranhamento da primeira leitura, essas iniciativas infiltram-se em um código de linguagem que organiza diversas instâncias da vida comum. A publicidade converte-se em tática para os artistas, “inserção em circuito ideológico”, conforme postulou Cildo Meireles em 1970, quando grafou mensagens subversivas em garrafas de Coca-Cola e cédulas de dinheiro em circulação.
Legenda: Regina Parra (São Paulo, 1981). Sem Título, 2014, óleo sobre papel
Os anúncios-obras materializam uma presença pública – embora muitas vezes ínfima – da arte e levantam questões como: a quem se direcionam? Como se reportam numa esfera pública tomada por desejos de compra e como, dentro dela, conseguem formular os desvios de um comportamento programado? O que têm a dizer e a oferecer para uma audiência internacional ávida por toda a sorte de notícia sobre um Brasil emergente e supostamente exuberante?
Acesse a íntegra do projeto Anunciantes baixando gratuitamente a revista Plataforma na Apple Store e do Google Play.
*Curadoria publicada originalmente na #select21