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I Love You So Much (2016), de Leda Catunda, reúne desenhos eróticos pesquisados na internet (Foto: Eduardo Ortega)
Postado em 29/12/2016 - 10:00
Autoespetáculo liquidificado
Leda Catunda expõe em São Paulo, mapas identitários que incorporam também a imagem consumida, editada e publicada nas redes sociais
Paula Alzugaray

Uma certa estética da maciez, associada ao trabalho de Leda Catunda desde que ela escolheu pintar sobre cobertores, acolchoados e tapetes, estende-se também à estrutura de suas composições pictóricas. A artista inventou uma forma de montar – que se repete efusivamente em seu trabalho –, em que pequenas células de informação acoplam-se umas às outras, formando conjuntos articulados. Em associação à biologia, essa movimentação agregadora de estruturas moles equivaleria a células que se partem e se multiplicam, gerando organismos compostos e multifacetários. Assistimos a esse movimento nas séries de trabalhos realizados nos últimos dez anos, agora reunidas na exposição Leda Catunda – I Love You Baby, curadoria de Paulo Miyada, no Instituto Tomie Ohtake.

I Love You Baby (2016), de Leda Catunda (Foto: Eduardo Ortega)
I Love You Baby (2016), de Leda Catunda (Foto: Eduardo Ortega)

Em Crowd (2016), um mar de pranchas estampadas com fragmentos de roupas, marcas e adornos cultuados por surfistas; e em Lobo (2014), a complexa fauna iconográfica das tribos metaleiras. Cada obra corresponde a um microrganismo composto de associações de elementos que se alinham, se aproximam e se invadem, movidos por forças de atração e identificação.

As séries recentes I Love You Baby e I Love You So Much acentuam o princípio de atração que rege tanto as relações humanas em sociedade quanto a coexistência de símbolos nas composições de Leda Catunda. “A sociedade de massa, identificada no século passado pelo desmedido fluxo imagético entre poucos produtores de conteúdo e um sem-fim de consumidores, pouco a pouco atualiza-se em uma rede multidirecional, em que cada indivíduo tanto consome quanto edita, customiza, compartilha e oferece a si mesmo como mais uma imagem a ser consumida pelos outros”, escreve Miyada no catálogo da exposição.

As assemblages de Leda Catunda são mapas identitários que agora incorporam também a imagem consumida, editada e publicada na mais poderosa e democrática das vitrines, as redes sociais. Mar Linda (2016) é uma reorganização visual da timeline de uma jovem com todas as caras, bocas e fantasias que ela tem direito de expor. Ana e André (2016) apropria-se de fotografias de um álbum de viagem de um casal de férias, publicadas em suas redes. Há ainda as composições que, como grandes nuvens de tags, misturam todos os tipos de mitologias, “as mais diversas e liquidificadas, com tudo o que postei, o que posto, o que postarei”, como define a artista à seLecT.

Serviço
Leda Catunda – I Love You Baby
Instituto Tomie Ohtake
Avenida Faria Lima, 201, São Paulo
Até 15/1/2017