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Trabalho de Amadeo Azar que integra a exposição (Foto: Divulgação)
Postado em 29/07/2016 - 6:30
Cidade utópica
Exposição Cidades Invisíveis propõe novas iniciativas para o Rio de Janeiro, metrópole que há anos sofre com suas transformações urbanísticas
Felipe Stoffa

Para chegar à cidade de Despina, deve-se ir de barco ou a camelo, nos relata Italo Calvino. A cidade imaginária faz parte das outras 54 que compõem o livro Cidades Invisiveis, em que cada capítulo é dedicado à narração de uma cidade inventada pelo escritor italiano. Apesar de ficção, a obra nos convida à reflexão sobre as formas em que podemos observar e dialogar com as cidades. No caso de Despina, sabe-se que sua paisagem muda conforme o meio de acesso a ela. E por mais que o romance fala de ilusões, algo similar acontece em nossas metrópoles.

Tanto a obra quanto o conto relatado são ponto de partida para a nova exposição Cidades Invisíveis, em cartaz na Associação Cultural Despina (o próprio espaço tem inspiração no romance), no Rio de Janeiro, com curadoria assinada por Felippe Moraes. A mostra reúne diversas expressões além das artes plásticas: arquitetura, literatura e cinema. E para completar, algumas pinceladas de carnaval. Esse híbrido de produções ativa a discussão da curadoria, que se volta para questões relacionadas às formas de se pensar a cidade, no caso o Rio de Janeiro, e como podemos propor novas iniciativas para uma metrópole que, há anos, sofre com suas profundas transformações urbanísticas. “Cidades Invisíveis é um projeto em sintonia com o momento atual não só do Rio de Janeiro, mas também com o Brasil e o mundo, em que os atuais modelos de cidade, e mesmo nações, já não correspondem aos anseios e necessidades dos seus habitantes. A construção de novos modelos é necessária e esta exposição pretende contribuir para o debate”, complementa Consuelo Bassanesi, diretora artística da Despina.

Le Corbusier - Projeto modernista para o Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)
Le Corbusier – Projeto modernista para o Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)

A mostra traz trabalhos de arquitetos e artistas como Ana Holck, Hildebrando de Castro, Marcos Chaves, Milton Machado, Oscar Niemeyer, Pedro Varella e Le Corbusier, entre outros que dialogam a partir de três eixos curatoriais: demolição, construção e delírio. O primeiro procura apresentar obras que discutem as problemáticas que estão em jogo diante das diversas políticas públicas governamentais que trazem consequências sociais como gentrificações, realocações, remoções e deslocamentos populacionais. Já no eixo construção, a proposta é que os trabalhos falem diretamente sobre a atualidade dos diversos projetos urbanos e arquitetônicos no Rio de Janeiro, muitos deles controversos. Por fim, delírio mergulha no universo subjetivo da mostra, tratando a metrópole carioca como, antes de tudo, uma ideia, permitindo que o público possa entrar no ambiente lúdico de Calvino e projete sua própria cidade utópica.

Com isso, o público pode dialogar com o imaginário utópico que a exposição propõe. “Como artista, antes de ser curador, o projeto foi pensado de forma a criar uma ruptura na nossa compreensão sobre cidades, suas construções, demolições e delírios. Acontecendo em uma metrópole plural como o Rio de Janeiro, e tendo-a como fio condutor das discussões, não seria possível ignorar seu característico rompimento entre disciplinas, entre o público e o privado, a realidade e a fantasia carnavalesca. Desta forma compreendemos a cidade como uma miragem: podemos vê-la de maneira diferente da sua realidade, mas ela também nunca deixa de ser a imagem que fazemos dela”, explica Felippe Moraes.

Anton Steenbock - Hotel Tropical (Foto: Divulgação)
Anton Steenbock – Hotel Tropical (Foto: Divulgação)

Serviço
[Cidades Invisíveis]
Associação Cultural Despina
Rua Luis de Camões, 2, Centro, Rio de Janeiro
Até 30/8
De terça a sexta-feira, das 11h às 19h
Tel.: (21) 3197 6002