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Nat Wilms e Andrea Zambelli, o duo Hillsideout, com uma de suas criações, o lustre Skyline (Foto: Ruy Teixeira/ Divulgação)
Postado em 28/09/2016 - 8:03
Design artesanal
Dupla ítalo-germânica Hillsideout apresenta linha de peças handmade para a Firma Casa depois de residência de três meses em SP
Luciana Pareja Norbiato

Nat Wilms, 40, é alemã formada em escultura na Itália. Andrea Zambelli, 38, é italiano e fazia restauro de móveis. Eles se conheceram há dez anos e, do casamento na vida, surgiu também a parceria profissional. Há sete anos, resolveram unir expertises em um só projeto: recriar móveis com as próprias mãos.

Nasceu a dupla Hillsideout, que se apropria das características da madeira em suas diversas tonalidades e texturas, em peças de antiquário. Repaginadas, elas ganham o contraste visual de materiais transparentes, como o plexiglass e o acrílico, além de madeiras de cores diferentes da original. O casal se divide entre Bolonha e Berlim na pesquisa e produção de seus projetos.

O resultado são peças autorais que incorporam em sua visualidade o processo artesanal de produção. “Sou de uma região onde se veem muitas peças da Bauhaus (escola de design alemã que produzia peças industriais em série) e não tenho vontade de tê-las na minha casa”, diz Wilms no encontro com a dupla realizado no dia 27/9 na Firma Casa, mediado pelo curador e crítico especializado em design Waldick Jatobá. 

Foi ele, aliás, que deu a oportunidade de Sonia Diniz Bernardini (dona da Firma Casa) conhecer o trabalho do duo, em uma das edições da Made – Mercado, Arte e Design. A feira foi idealizada por Jatobá para explorar as intersecções entre as duas áreas de criação e acontece desde 2013 em São Paulo, com edições especiais em Milão, por exemplo. 

Bernardini chamou a dupla há cerca de três meses para fazer uma residência em São Paulo e, a partir da experiência, criar uma série exclusiva para sua marca de design. Wilms ficou encarregada da pesquisa antropológica, tirando fotos do povo, de costumes e locais da cidade. “A diferença é que muita gente vinha me avisar para ficar atenta com meu equipamento fotográfico, o que não é comum de acontecer em outros países que visitamos, como a Índia, por exemplo”, ela conta. “Não tivemos medo nem nada, mas o alerta das pessoas foi uma coisa curiosa para nós”, completa Zambelli.

Eles visitaram uma plantação de café no interior do Estado e diversos locais históricos da capital, principalmente no Centro. “Cometemos o erro maravilhoso de ir ao Centro da cidade num domingo. Parecia uma cidade-fantasma, o que por um lado deixava a arquitetura muito mais evidente. Mas por outro lado, é muito estranho que haja esse descaso, pois geralmente o Centro das cidades é a região histórica, mais antiga. E já estivemos em muitos Centros de cidades antes, é raro não ter ninguém circulando no fim de semana”, diz Wilms.

Os edifícios Martinelli e Itália, o Museu do Imigrante e os cobogós também chamaram a atenção durante a pesquisa. Wilms diz: “É curioso, pois os cobogós remetem a ornamentos muito encontrados na arquitetura do Oriente Médio, do Marrocos, da Turquia, e quando começamos a reparar, percebemos que em São Paulo ele está em todo lugar.”

Zambelli se encantou com a jabuticaba: “Eu nunca havia provado essa fruta na minha vida.” Mas o que realmente maravilhou a dupla foi a abundância da matéria-prima natural que eles usam por excelência. “Há uma variedade inacreditável de madeiras no Brasil, com tantas cores e texturas, o que é excelente para nós. Quando fomos ao México, por exemplo, só tinha um único tipo, era sempre pino blanco de México“, ele se diverte. Mesmo participando de várias residências, é a primeira vez que a dupla cria uma linha assinada para uma marca como parte desse processo.

O resultado atende pelo nome Just Contrast, que brinca com a variação cromática de madeiras como roxinho, imbuia e jequitibá, aliada a transparências mais ou menos intensas, como o caso da mesa de madeira e acrílico apresentada no bate-papo com a dupla. O tratamento da madeira é o mais natural possível: apenas a cera própria para a conservação do material, sem verniz.

No total, serão de 7 a 11 peças. O número é inexato porque depende de quantas peças Andrea Zambelli conseguirá finalizar nas próximas semanas, entre as quais um armário, um banco e mesas. Nat Wilms volta no dia 29/9 à Alemanha, pois está no prazo-limite para que seu primeiro bebê nasça na Europa.

Voltando no tempo

Se a madeira é certificada e vem da Amazônia, o local de trabalho em que Zambelli foi acolhido para trabalhar é uma oficina de marcenaria tradicional da Vila Madalena. Ele se diverte com a diferença de equipamentos em relação a sua própria oficina e o clima bem brasileiro do local.  “Pelos equipamentos e o lugar, imagino que se pareça com uma oficina dos anos 1960-1970. Nasci em 1976, então não vivi essa época, mas acho que devia ser assim. E eles trabalham muito felizes, riem o tempo inteiro, é muito divertido.”

Mesmo trabalhando entre os marceneiros, Zambelli prefere fazer tudo por conta própria. “Não tivemos problemas de comunicação mesmo em idiomas diferentes, eles pareciam me entender bem. De qualquer forma, eu não falava muito com eles durante o trabalho porque não precisava muito de ajuda, a não ser quando tinha que cortar uma tora inteira de madeira, porque a serra usada lá é daquelas grandes e eu não queria perder meus dedos”, brinca o designer. Todos os produtos criados por seus dedos talentosos são exibidos na Firma Casa a partir de 20/10.