O projeto original da Galeria Leme, que teve seu prédio fielmente reconstruído em endereço próximo ao original depois de a construtora Odebrecht arrematar o terreno no fim de 2011, previa uma entrada lateral para a galeria. Mas o atraente pátio encimado por um corredor que liga os dois pavilhões acabou ganhando a preferência para o acesso. Com o terceiro projeto do programa Situ, em que artistas são convidados a fazer intervenções externas na galeria, o venezuelano Ricardo Alcaide parece ter sanado a questão.
Sua instalação consiste em um grande volume geométrico ocupando todo o vão central da galeria, como uma rampa. O material é madeira, a mesma utilizada para moldes de concreto armado como os usados na produção do próprio prédio da Leme. Nas clivagens e reverberações de usos e materiais, procedimentos e comportamentos, o artista bagunça o coreto e, por meio de uma intervenção relativamente simples, obriga staff e público a interagirem com a galeria de forma inusual, numa descontextualização do cotidiano por meio da reapropriação da arquitetura.
Por uma mudança quase banal, é possível dar-se conta do papel fundamental que o entorno e a funcionalidade urbanística operam na vida diária e na percepção da realidade. De quebra, ainda ressalta como o caráter de provisoriedade, tão comum na infaestrutura brasileira, transforma na prática a cidade e seu habitante. O projeto Situ #3, de Ricardo Alcaide, pode ser visto, ou melhor, experienciado até 15/3. A curadoria é de Bruno de Almeida.