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Postado em 08/07/2015 - 4:42
Duas décadas de teatro
Gustavo Fioratti

Com críticas e artigos de Sábato Magaldi, livro apresenta amplo panorama do teatro entre 1966 e 1989 

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Se houve mais mudanças no cenário teatral brasileiro entre 1966 e 1989 do que pode imaginar nossa vã filosofia, o crítico teatral Sábato Magaldi tornou-se uma das principais testemunhas oculares desses anos em ebulição, tendo publicado, no período, nos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde, uma quantia de textos que ultrapassa a casa dos 2,5 mil. Reunidos no livro Amor ao Teatro (Edições Sesc), com organização da escritora Edla van Steen, sua mulher, centenas de críticas e artigos pescados do conjunto compõem uma memória singular das artes cênicas brasileiras, com foco no Rio, em São Paulo e na empolgante aproximação do fim do século 20.

Com 1.224 páginas, o livro, naturalmente, retrata ainda um momento político sob a ótica das artes, apontando reflexos do contexto em temas e linguagens cujas questões ainda reverberam como pontos-chave para a compreensão da nossa história. Há menções diversas à censura e ao regime militar, iniciado em 1964 e sepultado na Constituição de 1986, e também às questões estéticas sobreviventes ao solapamento da ditadura, dentre as quais destaca-se a ascensão de diretores ao centro dos holofotes.

À peça Macunaíma (1978), marco da contemporaneidade no Brasil assinado pelo diretor Antunes Filho, por exemplo, Magaldi dedica um de seus textos mais longos (no livro, entre as páginas 572 e 576). Há ali um acréscimo sobre essa tomada de poder dos encenadores revelando a admiração do crítico pela figura do intérprete. “Depois de numerosas voltas, ora com a hegemonia do dramaturgo, ora do diretor, o teatro redescobriu uma verdade elementar. Sua especificidade se define pela presença física do ator”, escreveu.

Não é esse o único comentário que procura estabelecer protagonismos. Em outubro de 1971, Magaldi publicou um texto (no livro Atrizes Brasileiras), no qual defende a posição da mulher no teatro. “Atrizes brasileiras são as verdadeiras líderes da nossa vida teatral”, afirma, citando Bibi Ferreira, Maria Della Costa, Tônia Carrero e Marília Pêra. Dercy Gonçalves destacou-se, ali, pelo despudor, “ela abole a Censura e exprime sem restrições o que lhe passa na cabeça”, disse o crítico sobre a peça Tudo na Cama (1973).

Sábato Magaldi também apresentou com cuidado e sabedoria o cenário fomentado pelas companhias brasileiras, apontando o Teatro Oficina como figura central, “disposto a cada criação a dar um mergulho de cabeça que poderia simplesmente espatifá-la”, como bem define em um texto de 1970. Por fim, com eruditismo, urdiu seu estilo sem economizar palavras sinceras, a exemplo de uma crítica ao espetáculo Rock and Roll (1983), com texto de José Vicente, cuja montagem de Antonio Abujamra teria liquidado “inapelavelmente”.

Amor ao Teatro, Edições Sesc, 1.224 págs., R$ 154.