icon-plus
Postado em 28/10/2016 - 12:11
Em memória do massacre
O artista Nuno Ramos organiza vigília com personalidades que irão ler os nomes dos 111 presos que morreram na invasão do Carandiru
Ana Abril

O Dia de Finados (ou dos Mortos), comemorado em 2/11, serviu de palco para uma das maiores tragédias, que culminou no maior julgamento, da história do Brasil, há 24 anos. Desde então, o massacre do Carandiru segue impune pelo sistema judicial brasileiro. Em 27/9, o juíz de segunda instância Ivan Sartori, ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, anulou os julgamentos que condenaram 74 polícias militares à prisão, entre 2013 e 2014. Como forma de protesto à resolução e como homenagem para os mortos durante a invasão, o artista Nuno Ramos organiza uma leitura, que durará 24 horas ininterruptas, dos nomes dos 111 presos mortos no Carandiru.

Os nomes serão lidos por 24 personalidades, cada uma por uma hora. Até o momento, os participantes são: Zé Celso, Luiz Alberto Mendes Júnior, Marcelo Tas, Paulo Miklos, Laerte, Bárbara Paz, Helena Ignez, Emicida, Isabela Del Monde, Nuno Ramos, Ferréz, Carlos Augusto Calil, Jean-Claude Bernadet, Marina Person, Rita Cadillac, Caio Rosenthal e Eliane Dias. O local da leitura tem como palco a cidade de São Paulo: acontecerá no alto de um edifício, na Alameda Barão de Limeira. A vigília será transmitida em streaming por Youtube e Facebook. O evento começa em 1/11, às 16h, e será finalizado, em 2/11, na mesma hora do início da invasão da Casa de Detenção de São Paulo, popularmente conhecida como Carandiru.

Os julgamentos do Carandiru serão celebrados novamente e a Procuradoria ainda pode recorrer da decisão na 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo. As penas impostas aos policiais acusados eram entre 48 e 624 anos de reclusão, mas nunca chegaram a se concretizar.

A defesa pediu a revisão da hipótese de legítima defesa, que foi aceita por Sartori. Porém, as críticas de defensores de Direitos Humanos após a anulação foi imediata: nenhum policial que participou da invasão foi morto ou ferido gravemente, enquanto 102 presos foram assassinados com armas de fogo e outros 9, com arma branca. Especialistas também compararam a impunidade do caso Carandiru com as contínuas mortes cometidas por policiais nas periferias e silenciadas pela corporação e pelo sistema judicial.