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Postado em 25/11/2014 - 4:50
Eu vi o mundo, ele começava no Nordeste
Paula Alzugaray

Na seLecT nº 21, o mundo começa no Nordeste brasileiro: dureza, densidade, contradições, paisagem e conflitos sociais da região alimentam a obra de artistas e intelectuais

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O mundo de Cícero Dias começava no Recife. Ele inteiro coube no painel de 12 metros pintado sobre rolo de papel craft, entre 1926 e 1929. Couberam o carro de boi, a procissão, os navegantes. O aviador, a tecnologia, a arquitetura antiga, as vistas cariocas de Santa Teresa, a morte, o jogo, a capital francesa e ainda todos os países que o artista viria a visitar. Na seLecT nº 21, o mundo começa no Nordeste brasileiro. Em toda sua metragem, descortinada ao longo de 108 páginas editoriais, a revista toma o caminho da desconstrução de mitos e da revisão de ultrapassados clichês de centro e periferia (ou de polarização política), e faz do Nordeste o seu centro.

No trajeto descobrimos uma paisagem que não se esgota em nove estados, mas se espraia por um território muito mais vasto, sempre atravessado e magnetizado pelos quatro pontos cardeais. De largada, na seção Mundo Codificado, a editora convidada Cristiana Tejo aponta algumas matrizes nordestinas do pensamento brasileiro: quem são os intelectuais, os artistas, movimentos e invenções que conferem ao País inteiro a sua nordestinidade. Na sequência, Giselle Beiguelman nos faz entender as relações entre a arquitetura modernista soviética e o modernismo brasileiro, que, como o mundo de Cícero Dias, começou no Recife, nos anos 1930. Ambos movimentos marcados pelo isolamento político, econômico e cultural de suas regiões (em relação aos “centros”), mas ambos orientados para o futuro.

O Nordeste é um território que aponta para o futuro, já dizia Falves Silva, artista paraibano expoente da Arte Correio, movimento que interligou a região com o mundo. Terreno duro, mas rico e cheio de contradições, diz Jonathas de Andrade no Fogo Cruzado. O Nordeste está no centro quando faz cinema e quando fomenta dois polos de criatividade e tecnologia pioneiros no Brasil. É centro quando conhecemos a coleção da Fundação Edson Queiroz, que faz de Fortaleza destino obrigatório para quem quer ter vivo contato com a história da arte moderna brasileira. Visitada pela repórter Luciana Pareja Norbiato, a Fundação está hoje entre as principais instituições doadoras para os museus do Sudeste brasileiro, como o MAM-SP, o MAR e o Masp.

Precisamos mesmo rever nossas coordenadas!