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Helena Almeida, Pintura Habitada, 1975 (Foto Filipe Braga. © Fundação de Serralves, Porto)
Postado em 16/02/2016 - 1:08
Feminismo além-mar
Helena Almeida, uma das mais importantes artistas contemporâneas de Portugal, ganha retrospectiva abrangente no Jeu de Paume, em Paris
Luciana Pareja Norbiato

Ao subverter a bidimensionalidade da pintura usando sua imagem como suporte, Helena Almeida não só se inseriu na contracultura portuguesa dos anos 1970 como, principalmente, fez um delicado libelo na afirmação da mulher como agente de sua própria história. Ao contrário de artistas como Cindy Sherman, que partem da própria figura para construir ficções diversas, ou de auto-retratos que fixam a imagem do artista no tempo, Almeida utilizou como suporte fotografias suas tiradas pelo marido, o arquiteto e escultor Artur Rosa.

Nelas, criou fotoperformances, ou pinturas performáticas, em que o plano cede lugar ao corpo como obra, em sua presença, sua potência de ocupação espacial, seu tônus. Antes de ser representação, a obra, protagonizada pelo corpo e pelo gesto, é presença, é ação. Não à toa, ela cravou a frase que se tornou a definição de seu trabalho: “minha obra é meu corpo, meu corpo é minha obra”.

Ainda pouco conhecida fora de Portugal, a artista, nascida em 1934, ganha retrospectiva abrangente no Jeu de Paume, em Paris. Na mostra, sua trajetória é recontada a partir dos trabalhos abstratos dos anos 1960, em que dialogava com Lucio Fontana na tentativa de romper com a superfície. Ao contrário do colega argentino, em vez de usar gestos agressivos, desnudava delicadamente os chassis.

Na década seguinte, a artista passou a usar suas fotos como base pictórica e de desenho, em que sua pose parece agir na pintura, como se pintasse seu entorno. Em seu trabalho, a imagem feminina perde o caráter lânguido e estático para relacionar-se com o suporte de forma a ser, como queria a artista, a própria obra. Sem ser panfletária, a obra de Helena Almeida é subversiva ao romper com a ideia moderna da mulher passiva. É colocando-se no centro da ação, como agente de sua própria narrativa, que a artista fundamenta a proposição de uma vida balizada por premissas estéticas e da arte balizada pela própria existência.

Almeida segue atuante, o que pode ser comprovado na exposição por séries como Sedução, um conjunto de fotoperformances de 2002, e a fotografia sem título em que um casal caminha com uma perna amarrada à do outro (2010). No período em que enfoca o feminismo, seLecT traz uma galeria de imagens de Helena Almeida que estão em cartaz até 22/5 em Paris.