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Postado em 31/10/2014 - 5:50
Fernando Velázquez
Giselle Beiguelman

Obra coloca em suspensão o ciclo dos relógios mecânicos e responde ao tempo algorítmico

Legenda: Mindscapes Suite, de Fernando Velasquez

No conjunto da obra de Fernando Velázquez prevalece uma lógica algorítmica que coloca em questão o tempo dos relógios mecânicos. Obsoletos, eles são coerentes com um mundo industrial que não existe mais. Os ciclos do artista são outros. Respondem ao tempo da elipse, essa figura geométrica que descreve um novo centro a cada volta, prescrevendo a diferença a cada repetição.

Uruguaio radicado no Brasil, formado em arquitetura em Montevidéu, onde também estudou canto, Velázquez traz para seu trabalho dilemas construtivos e uma experiência de palco que refletem seu background e o atualizam no campo da artemídia. Difícil não reconhecer o arquiteto futurista nas linhas generativas que se replicam por suas telas. Fica fácil entender por que só neste ano de 2014 Velázquez subiu ao palco para realizar suas coloridas e radicais performances multimídia pelo menos duas vezes por mês, entre São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Agora está de malas prontas rumo a Nova York.

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Legenda: Reconhecimento de Padrões (2014), instalação interativa, apresentada no MAM de Goiânia, com imagens gravadas por um drone e combinadas no espaço expositivo por um sensor de presença (Foto: Rhanna Asevedo)

Pesquisador de mão cheia de linguagens – artísticas e de programação –, recentemente colocou um drone (objeto voador não tripulado) para captar imagens para sua instalação Reconhecimento de Padrões, apresentada no Museu de Arte Moderna de Goiânia, em 2014. As imagens são acionadas sempre que um visitante se aproxima por meio de um sistema de reconhecimento de regiões (blob detection). Em síntese, olhos maquínicos, sistemas vigilantes, transformados em lentes de aumento poéticas. Nas palavras de Lucas Bambozzi no texto crítico do catálogo:

Ver – e entender – agora está cada vez mais relegado ao dispositivo. Mas a inclusão do tempo, seja nas imagens mentais, seja nas criadas tecnicamente pelo homem, demanda esforços de memorização da sua sequência. Agora a imagem também me percebe. Ela se altera e se ressignifica em sua superfície, em sua temporalidade. A nós nos cabe fruir.

Arquitetos como Tadao Ando, Marcos Novak e Zaha Hadid compõem parte da base de referências espaciais, estéticas e materiais de Velázquez. Basta olhar uma de suas principais séries Mindscapes (2011-2013) que isso se explicita. As linhas retas, as formas que brotam umas das outras a partir de rotinas computadorizadas, cujo desenvolvimento se modifica sutilmente, aos poucos, até tornar-se algo totalmente distinto e ao mesmo tempo profundamente relacionado com sua matriz, têm sua raiz nesses mestres. Projeto realizado em diversos formatos, de instalação a livro, passando por performances e stills em metacrilato, a série é uma incursão no tempo da memória e nas paisagens mentais, por meio da interpretação visual do que se passa no cérebro.

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Legenda: #L1, After Dan Flavin (2014), apresentada na Galeria Zipper, em São Paulo (foto: Cortesia do artista)

Em sua obra mais nova, #L1, After Dan Flavin, Velázquez volta a essa série, porém estabelecendo um diálogo com o minimalismo norte-americano. Exibida em setembro na Galeria Zipper, em São Paulo, a instalação faz com que as rotinas algorítmicas, tão características da obra do artista como um todo, tomem conta do espaço físico associando-se a um conjunto de néons brancos e recursos sonoros. Toda a informação presente no local, e que permite sua percepção no tempo e no espaço, altera-se conforme o corpo se movimenta e redesenha as paisagens mentais de seus “passageiros”.

*Portfólio publicado originalmente na edição #20