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Mauricio Parra - Atrás da Porta do Corredor, Dois Gatos e o Ateliê do Meu Amor (Foto: Divulgação)
Postado em 14/06/2016 - 4:36
Hoje não lastimo a ausência
Mauricio Parra abre individual na Galeria Mezanino com trabalhos que oferecem um panorama de sua recente pesquisa
Felipe Stoffa

“Por muito tempo, achei que a ausência é falta”. É assim que se inicia o poema Ausência, de Carlos Drummond de Andrade. O texto é emprestado pelo pintor e gravurista Mauricio Parra que, em suas composições, nos indaga para algo que parece perdido ou pouco descoberto. Entretanto, ausência é para o artista complemento de si mesmo, uma suspensão temporal promovida por seus trabalhos.

Mauricio Parra - Natureza Morta Com Ossos e Pedras (Foto: Divulgação)
Mauricio Parra – Natureza Morta Com Ossos e Pedras (Foto: Divulgação)

É a partir do sentimento melancólico que a nova individual do artista na Galeria Mezanino apresenta um conjunto de 100 obras em pequenas dimensões, lançando luz em sua poética. São 59 pinturas, 30 aquarelas e 13 gravuras em metal. O título da exposição, Ausência é Um Estar Em Mim, faz parte do poema de Drummond.

Mas o poeta logo diz que ausência não pode ser roubada por ninguém. “A pintura, gravura ou o desenho são para mim formas mais concretas de gravar na memória, de me localizar. Vejo o conjunto dessas obras quase como um autorretrato. É no trabalho que me encontro e tento buscar sentido”, diz o artista.

Mauricio Parra - Auto Retrato de Camisa Vermelha (Foto: Divulgação)
Mauricio Parra – Auto Retrato de Camisa Vermelha (Foto: Divulgação)

Mauricio Parra é natural de Pindamonhangaba, interior de São Paulo. Formou-se em arquitetura e urbanismo na Universidade de Taubaté, mas sua poética vêm do convívio nos ateliês de gravura de Rubens Matuck, Roberto Grassmann e no Museu Lasar Segall. Seu estilo é marcado pelo uso do bolo armênio, técnica que consiste em preparar o suporte que recebe a pintura com argila diluída em cola. Normalmente costuma pintar sobre tiras de madeira, quando as encontra pelas ruas.

As obras em exposição são resultado de três anos de trabalho, iniciados durante sua primeira viagem internacional, quando Parra partiu para uma residência em Gludsted, na Dinamarca. Ao chegar no país, percebeu que uma de suas malas, repleta de caixas de remédios, formava uma bela composição. “O que eu vi, abrindo aquela mala, não foram caixas de remédios, mas, sim, uma experiência cromática”. Esse instante captado pode ser percebido pelo público nas pinturas Composição nVIII e nXIV.

Mauricio Parra - Composição nºVIII (Foto: Divulgação)
Mauricio Parra – Composição nºVIII (Foto: Divulgação)

Para Mariana Coggiola e Claudinei Roberto, responsáveis pela curadoria da mostra, “a perspectiva de falência do corpo do artista sugere aqui um caminho de emancipação. As imagens de Mauricio são seus pontos de contato consigo, o inventário de sua estância, sua memória envernizada. A consciência da finitude é pulsão de vida”. Estes pontos de contato perdidos na memória são agora exteriorizados em seus auto retratos, como também suas composições de objetos, situações cotidianas relembradas e descobertas por um artista dedicado ao instante.

Mauricio Parra - Auto Retrato de Costas Careca nºIII (Foto: Divulgação)
Mauricio Parra – Auto Retrato de Costas Careca nºIII (Foto: Divulgação)

Serviço
Galeria Mezanino
Rua Cunha Gago, 208, Vila Madalena, São Paulo
De 14 de junho a 23 de julho
De terça-feira a sábado, das 11h às 19h
Tel.: (11) 3436 6306