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Sarina Tang (ao centro, de cinza) visita instalação de Cildo Meireles em Inhotim com os quatro curadores chineses que trouxe ao Brasil com a Latitude (Foto: Divulgação)
Postado em 03/10/2016 - 6:33
Desvio para o Brasil
Por meio de parceria com projeto da Abact, Sarina Tang traz curadores chineses para imersão em arte brasileira
Luciana Pareja Norbiato

Sarina Tang não para. Nascida em Pequim e criada aqui, divide-se entre seu país natal, Nova York, Brasil e Itália, esta última “só por prazer”. Curadora e colecionadora, vem trabalhando incessantemente nos últimos 20 anos para criar uma ponte sólida entre as artes visuais de Brasil e China.

Entre residências e exposições que organiza nos países, foi a responsável pela mostra de Song Dong no CCBB (após residência do artista na Baró Galeria), que ficou com a 7ª colocação no ranking de 2015 do The Art Newspaper entre as exposições de arte contemporânea mais vistas. Entre 2009 e 2014, promoveu a série de residências Shared and Divergent, que levou à China nomes como Caio Reisewitz, Leda Catunda e Marcos Chaves.

Por sua atuação sistemática, amealhou uma distinção que ajuda a consolidar seu papel de mecenas entre os dois países – além de facilitar o pedido de apoio governamental brasileiro para suas iniciativas: “Acabo de ganhar a primeira edição do Prêmio Itamaraty de Diplomacia Cultural, que aconteceu em 24/8, em Pequim”, ela conta à seLecT. Em agradecimento, ela emprestou duas obras de Vik Muniz e uma de Janaína Tschape para figurar no hall de entrada da Embaixada Brasileira na China.

Nessa edição da ArtRio, aproveitou o gancho da feira para propor uma parceria de sua fundação, a Currents, com a Latitude, plataforma de internacionalização da produção nacional mantida pela Associação Brasileira de Arte Contemporânea. “Criei minha fundação para fazer projetos da China para o Brasil. No início, a ideia era fazer o intercâmbio entre a China e países estrangeiros, mas minha relação com o Brasil foi se estreitando e  agora me especializei nessa ponte específica.”

Currents e Latitude dividiram as despesas da vinda de quatro curadores chineses, que se uniram ao grupo internacional de colecionadores e curadores de arte trazidos pela Abact, que incluiu a alemã Karoline Pfeiffer (leia matéria aqui). É a primeira vez que os jovens Bao Dong, Felicia Chen, Zhang Li e Zhuzhu vêm da China ao Brasil, mais especificamente à ArtRio, 32ª Bienal e Inhotim. “Eu queria aumentar o roteiro com uma ida a Inhotim. É a primeira vez que eles vêm para o Brasil, seria uma pena não poderem conhecer o instituto. O Itamaraty se prontificou a me ajudar com a vinda deles”.

Da 32ª Bienal, que visitou neste dia 30/9, guardou boas impressões. “Achei essa Bienal linda por três motivos. Primeiro, o tema da incerteza é extremamente atual, é o que estamos passando no mundo inteiro. E o que o Jochen (Volz, curador) explicou é que, apesar da incerteza, temos que viver uma vida positiva. E os artistas estão fazendo exatamente isso, principalmente os do Brasil. Em segundo lugar, a montagem, com as perspectivas diferentes, privilegiando os vários ângulos dos trabalhos, que podem ser vistos de diversos pisos, de longe, de perto, é ótima. Terceiro, frequentemente as bienais focam em artistas já consagrados. Essa tem alguns consagrados, mas muitos com os quais não estamos acostumados, e esse é um dos princípios de uma Bienal, trazer novos nomes.”  

Além dessas visitas, Tang conseguiu agendar idas a ateliês de dez artistas de São Paulo e dez do Rio de Janeiro. “Há dez anos, a China não conhecia nenhum nome de artista brasileiro. Atualmente, há uma curiosidade enorme. O Vik Muniz foi o primeiro artista a fazer exposição lá, há dois anos, então não marquei visita no ateliê dele. Quero que o pessoal tenha contato com artistas que eles ainda não conhecem. Já levei artistas brasileiros para a China, mas achei que a estratégia de trazer os curadores era mais interessante, consistente, pois permite que eles tenham um conhecimento mais abrangente.”

A estratégia é uma forma de trazer calor para dois mercados que perderam atividades nos últimos anos. “É uma pena que o mercado brasileiro esteja um pouco mais frio. O mercado chinês ainda se mantém, mas também não está como há quatro anos. Uma forma de manter o aquecimento desses dois cenários é fortalecer essa ponte entre eles.”

Projetos para o futuro

Sarina Tang já mira nos anos que vêm em conversas com galeristas e curadores de seu país natal. “Um dos curadores que eu trouxe da China é de Xangai. Eu o conheço desde 1999, e ele agora é o diretor da melhor galeria daquela cidade, então estamos tramando fazer uma expo com dois ou três artistas brasileiros sozinhos ou dialogando com artistas chineses em meados de 2018”, ela adianta. Além dessa iniciativa, Tang já está em conversação para que no mesmo ano galerias de Hong Kong façam mostras de artistas brasileiros paralelamente à Art Basel local. Quatro galerias já estão envolvidas, e a agitadora continua conversando com novas interessadas. Também em 2018, a ideia é levar nomes brasileiros a uma nova exposição sazonal na chinesa Wuzhen. Conhecida como Cidade das Águas, sediou no começo deste ano uma mostra com trabalhos de nomes como Marina Abramović, Bill Viola e Damien Hirst, entre outros cerca de 40 artistas.  

“Está na hora de consolidar o mercado brasileiro como um dos mais dinâmicos da atualidade, mas para isso preciso de atividades que sejam mais amplas. Trazer os curadores foi uma boa estratégia, mas agora quero criar várias iniciativas juntas com artistas brasileiros na China. Para chamar a atenção dos chineses, não basta fazer uma exposição isolada, é preciso fazer vários eventos. É preciso fazer barulho.”

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