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A colecionadora Cleuza Garfinkel, doadora para seis museus brasileiros, no stand da Galeria Estação, na companhia da diretora Vilma Eid (Foto: Paula Alzugaray)
Postado em 30/09/2016 - 7:12
Menos é mais
Apesar do menor número de galerias, a temperatura do preview da ArtRio 2016 foi sensivelmente mais elevada do que em 2015
Paula Alzugaray e Ana Abril

A ArtRio 2016 começou em meio a especulações sobre a redução de seu tamanho: de quatro pavilhões passaram a ser três e de 80 galerias, a 73. Mais do que uma simples redução do número de galerias, que é o menor desde 2011, a feira deste ano também teve de lidar com a saída das gigantes internacionais White Cube, Gagosian, Pace e Hauser & Wirth. Outra perda importante foi o desaparecimento do programa Prisma, deixando as galerias divididas entre o Panorama, voltado às galerias estabelecidas no circuito de arte, e Vista, para as mais jovens com projetos curatoriais experimentais. O novo tamanho da feira condizia com a realidade do Brasil e a crise política e econômica do país eram tidas como gatilhos desse encolhimento.  A temperatura do preview da ArtRio 2016, no entanto, foi sensivelmente mais elevada do que a de 2015, que, na época, coincidiu com o rebaixamento da nota de investimento do Brasil na Standart and Poors. 

De modo geral, a feira carioca foi avaliada positivamente pelas galerias, que ressaltaram “o fato de a feira ter diminuído, o que resultou em uma seleção mais rigorosa de obras e em maior qualidade”, palavras de Alexandre Roesler, da galeria Nara Roesler, que vendeu a obra Silêncio Homenagem a Tunga (O Silêncio de Tunga é Maior que o Grito de Munch), de Paulo Bruscky, e outros trabalhos de Abraham Palatnik e de Vik Muniz. Ou seja, o dia da abertura para convidados da ArtRio 2016 teve um comércio agitado, e não foi pouco.

Nas primeiras horas desta quarta-feira (28/9), muitas galerias já contabilizavam vendas consistentes, como a Benjamin & Gomide, que vendeu uma tela de Rubem Valentim de 1974 por R$ 120 mil; ou a Sim Galeria, de Curitiba, que vendeu cinco obras – todas para colecionadores paulistanos –, entre elas, uma tela de Rodrigo Andrade.

Pequena escultura em latão e ouro do dinamarquês Olafur Eliason, “The Gaze of Versailles” (2016), da Luisa Strina (Foto: Paula Alzugaray)
Pequena escultura em latão e ouro do dinamarquês Olafur Eliason, “The Gaze of Versailles” (2016), da galeria Luisa Strina (Foto: Paula Alzugaray)

Luisa Strina vendeu, nas primeiras horas– quando o Pier Mauá só estava aberto para os colecionadores tidos como “top” –  a mais recente obra da série Ágrafo, de Laura Lima (em portfolio da seLecT #32), intitulada Anônimo; e uma pequena escultura em latão e ouro do dinamarquês Olafur Eliason, The Gaze of Versailles (2016).

O perfil dos compradores tinha ares nacionais, especialmente cariocas, enquanto os colecionadores estrangeiros eram tidos como exceções. Também eram minoria as galerias internacionais, 14 frente as 59 brasileiras. Segundo Alexandre Roesler, elas foram as grandes prejudicadas pela instabilidade política e econômica. Para ele, até mesmo o zika vírus teve uma influência negativa sobre o público estrangeiro, deixando-o receoso de pisar em terras brasileiras.

Exemplo disso foi a ausência das gigantes internacionais White Cube, Gagosian, Pace e Hauser & Wirth. A David Zwirner e Other Criteria, duas americanas, por outro lado, se mantêm firmes e fortes. O próprio Zwirner estava demasiado ocupado para falar, correndo de um canto a outro do estande, onde a pequena tela de Morandi destacava-se. Já a Other Criteria, representada por Lauren Gentile, manager de vendas e de operações americanas, afirmava sorridente: “Sempre nos damos bem no Brasil”.

Ainda que o momento de tímida recuperação econômica apontasse para uma feira mais low profile, se faziam notar grandes exibições, como a parede com seis telas de Volpi, na galeria Almeida e Dale; o Picasso de mais de R$ 10 milhões na mesma galeria; ou o Jean-Michel Basquiat de mais de R$ 20 mil na Colecionador Escritório de Arte. Às 18h, embora ainda não tivesse efetivado uma venda, Luiz Danielian, da Colecionador Escritório de Arte, palpitava positivamente sobre as próximas horas, pois “os clientes mais importantes já tinham passado pelo expositor”.  

Quem, sim, confirmou o bom ambiente de negócios foi a galeria Marilia Razuk, que vendeu obras de Vanderlei Lopes, José Bechara, Alexandre Canonico e Hilal Sami Hilal, entre outros. Lays Adde, assistente de Razuk, comparou a feira com a anterior edição: “Na 5ª edição da ArtRio, a nota de risco do Brasil acabava de ser rebaixada e o clima era de desânimo. Além disso, o tamanho da feira foi reduzido e está melhor, pois antes era muito cansativo visitar tudo”. Alex Gabriel, sócio diretor da Fortes Vilaça, também comemorou as vendas de duas esculturas de Barrão, uma tela de Franz Ackermann e outra de Lucia Laguna, fazendo um paralelo com 2015. “É muito cedo para avaliar, mas tivemos um primeiro dia melhor do que o ano passado, com a maioria de compradores cariocas, paulistas, mineiros e, por último, estrangeiros”. A instalação interativa de Rivane Neuenschwander foi a protagonista do expositor, sempre rodeada de interessados em colocar as etiquetas de tecido com palavras cheias de conotações sociais e políticas, como transgênero e merenda, sobre a tela de feltro. Também era possível ver muitos visitantes da ArtRio com as etiquetas da obra da artista penduradas na roupa. Nada menos que duas unidades da instalação de Neuenschwander foram parar nas mãos de compradores.

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Palacete Levy, de Flavia Junqueira, vendido na Zipper Galeria (Foto: Ana Abril)

A renovação da Praça Mauá e as melhorias no transporte até a feira também ganharam o gosto dos expositores. “O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) deixa os paulistanos que desembarcam no Santos Dumont na porta dos armazéns”, afirma Juliana Cintra, da Silvia Cintra + Box 4, onde foram vendidas quase uma dezena de obras só no primeiro dia. Concordando com Cintra, Fabio Cimino, dono da Zipper Galeria, comentou: “A mobilidade no ano passado era muito difícil, pois tudo estava em construção”. Duas obras de João Castilho e uma de Flávia Junqueira foram vendidas na Zipper, enquanto as negociações continuavam acontecendo.

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O Pássaro, de Santidio Pereira, vendido na estreia da Galeria Estação (Foto: Ana Abril)

Inclusive a Galeria Estação, que estreia na ArtRio 2016, vendeu duas obras de Santidio Pereira, artista finalista do 5º Prêmio Energias da Arte, do Tomie Ohtake. “Uma das obras foi vendida por foto, pois está em São Paulo”, explicou Vilma Eid, diretora da galeria.

Doações
Enquanto isso, a diretoria do Museu de Arte do Rio (MAR), capitaneada pelo novo diretor cultural (confira a entrevista exclusiva para seLecT) fazia seu tradicional promenade “tagueando” as obras de sua preferência. Entre elas, um desenho em nanquim de Waltercio Caldas, na Ronie Mesquita Galeria, do Rio, e uma xilogravura de 1957 de Lygia Clark, da Almeida e Dale, de SP. Quem também doou para seis museus brasileiros foi a colecionadora Cleuza Garfinkel.

O acontecimento paralelo da 32ª Bienal de São Paulo, o rastro deixado pelas Olimpíadas, a diminuição do número de expositores e o renovado boulevard olímpico deixam a ArtRio 2016 com uma abertura em boa forma e com expectativas muito positivas.