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Postado em 21/10/2011 - 6:54
O cinema participativo de 5x4x3x
Juliana Monachesi

Na obra de Lea van Steen e Raquel Kogan, narrativa é transformada pela manipulação de espelhos pelos visitantes

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Neste sábado, a Funarte recebe a videoinstalação 5x4x3x, da dupla de artistas Lea van Steen e Raquel Kogan, em que imagens geradas por quatro projetores são vistas em dez finas telas de tule colocadas no espaço, depois de rebatidas por espelhos que os visitantes podem manipular. Os filmes projetados têm em média cinco minutos de duração e são exibidos em loop, mas a visualização fragmentada deles em combinações infinitas pela participação do público resulta em uma metatela de cinema em constante edição colaborativa, e tudo em tempo real.

A obra já teve três implementações anteriores: no Continuum – II Festival de Arte Tecnologia de Recife, na Mostra Live Cinema 2010, no Rio de Janeiro, e na 22a Mostra Audiovisual Paulista, no MIS, em São Paulo, todas no ano passado. “Essa nova implementação na Funarte é uma mistura das montagens anteriores: no Oi Futuro [Rio] foi exibida como uma performance de palco, em que convidávamos o público a interagir, em Recife e no MIS, a obra ficava inerte até alguém posicionar o espelho”, contam as artistas.

Live2

O interesse pelo espelho como dispositivo de edição de imagens surge na produção da dupla com a obra BMG8970, em 2005. O vídeo nasceu por acaso, quando as artistas se depararam com uma velha caminhonete de mudança carregada de objetos transitando pela cidade, que decidiram registrar. “Entre colchões, sofás e fogões, um espelho reflete as imagens que foram deixadas para trás; pedaços do tempo, da velocidade, contrastes, efemeridades do espaço urbano de uma metrópole, vistos através de um novo recorte”, poetiza a sinopse do vídeo que marca o início da parceria entre elas.

Lea van Steen e Raquel Kogan, que têm “carreira solo” estabelecida, já fizeram em parceria, desde 2005, mais de dez projetos. Recentemente, em exposição no Santander Cultural -a curadoria Agora/Ágora, assinada pela editora de artes visuais da seLecT, Angélica de Moraes- a dupla apresentou duas obras que se valem de espelhamentos: Ponte e Sub_Título. Ponte já tinha sido exibida no Sesc Paulista, em 2008, dando a ilusão de que o prédio se conectava ao edifício do Itaú Cultural. Nas palavras de Marcus Bastos sobre a instalação, “nesta ponte, uma estrutura em U preenche o vazio da sala escura, que funciona como anteparo de imagens que rebatem no vidro -sombras cinemáticas suspensas que se desdobram em seus próprios reflexos; movimento que multiplica o espaço físico para além de seu limite evidente”.

Em entrevista à seLecT por e-mail, as artistas falam sobre as obras exibidas no Santander: “Os espelhos estão presentes em quase todas as nossas obras. Sub_Title explora a relação entre imagens e mundo, ao revelar o processo da mídia vídeo por meio de reflexos sucessivos. Depois de gravar e regravar situações em que planos e contraplanos ganham complexidade cada vez maior em função dos reflexos internos que os recortam, montamos uma série multitela que vai da sobreposição no mesmo quadro de plano e contraplano à movimentação de câmera sobre câmera no mesmo espaço, agora fraturado por tempos diferentes”.

Vocês consideram 5x4x3x um projeto de cinema expandido?, é a última pergunta de nossa entrevista. “Achamos que ele é cinema expandido, assim como Ponte, no sentido de transformar a execução, a visão das imagens; continua sendo imersivo, mas não contemplativo, e sim participativo; sempre diferente mesmo sendo o mesmo, é a utilização de tempos diferentes para criar uma narrativa que se transforma aos olhos de quem vê/manipula”, resumem.

Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2011
22 de outubro, às 16h, até 20 de novembro
Sala Flávio de Carvalho – Alameda Nothmann, 1.058, Campos Elíseos