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Postado em 11/09/2012 - 3:00
O parque das casinhas de boneca
Juliana Monachesi

Um passeio pelo lado cafona da dOCUMENTA(13) e a busca bem sucedida por uma casa-mostra que fizesse algum sentido em Kassel

Casinha-doug-ashford

Legenda: Esta nem era das piores… Sediava pequenas pinturas com fotografias de Doug Ashford

A atual edição da Documenta de Kassel, como já se apontou fartamente, é imensa, dispersa, horizontal.

Até aí, tudo bem. Os peregrinos da arte contemporânea já enfrentaram empreitadas piores na vida. Por aqui, podemos mencionar o terror de percorrer aquela Cidade dos Containers debaixo de sol na 3ª Bienal do Mercosul, em 2001.

Mas transformar o Parque Karlsaue em uma espécie de Giardini della Biennale miniaturizado (não pelo tamanho do parque, bem maior do que o pântano que Bonaparte mandou drenar em Veneza para fazer jardins públicos que no final do século 19 se tornariam a sede da bienal italiana de arte) foi uma ideia de mau gosto. No site da dOCUMENTA(13) tem a história completa do Karlsaue, que vale a pena conhecer, para efeitos de análise do conjunto de obras expostas ali:

“O parque Karlsaue provém de um jardim público geometricamente ordenado povoado por ervas e plantas exóticas, que foi construído na ilha entre o Fulda e o ‘pequeno Fulda’ em 1586. Por volta de 1700, quando a Orangerie foi construída, o parque foi ampliado ao sudeste ao longo do Fulda, por Landgrave Karl. Este novo desenho em estilo barroco foi caracterizado por uma rigorosa disposição axial simétrica com dois canais artificiais em forma de leque, canteiros geométricos e bosques de carpinos. Em 1785, sob Wilhelm XI, o parque foi remodelado em seu atual estilo inglês, suavizando a antiga rigidez geométrica em favor de uma paisagem mais ‘natural’. Digno de nota, os jardins ornamentais em frente da Orangerie foram transformados em um grande campo de bocha. Hoje, o parque de 125 hectares, com seus campos e árvores antigas, é uma popular área de lazer frequentada por praticantes de corrida, banhistas e andadores de cão durante o dia, e por amantes à noite. Desde a Documenta 2, em 1959, quando numerosas esculturas foram instaladas na frente da Orangerie – que era então uma ruína antes de sua renovação em 1980 -, incluindo obras de Alexander Calder e Lucio Fontana, o parque tem sido utilizado pela Documenta como um local para projetos ao ar livre, por exemplo, durante a Documenta 8, de 1987, quando Thomas Schütte instalou seu pavilhão Eis no Karlsaue, ou, em 2002, quando Dominique Gonzalez-Foerster criou Park: A Plan for Escape.”

Karlsaue

Legenda: As mais de 50 “atrações” pelo parque nem sempre se achavam no exato local apontado no mapa…

A proposta de Carolyn Christov-Bakargiev para o parque, em vez de tomá-lo como campo de intervenções e obras de escala pública, foi encomendar pequenas casinhas para abrigar pequenas exposiçõezinhas que davam muito trabalho para localizar, quase sempre na medida inversa à qualidade das obras que seriam ali encontradas. Com a honrosa exceção de Song Dong, Carol Bove, Christian Philipp Muller, Sam Durant e Janet Cardiff, que dispensaram as casinhas e criaram tensões impressionantes entre suas obras e o contexto do Karlsaue, e excluindo-se os trabalhos de Alexandra Sukhareva, Dinh Q. Lê, Omer Fast e Lori Waxman – bons apesar do espaço inapropriado -, tudo o mais instalado no parque era de uma enfadonha banalidade.

Aliás, em alto contraste com a inconstância das microexposições nos micropavilhões do parque, pode-se afirmar com segurança que os grandes destaques da dOCUMENTA(13) se encontram em casas, mas não estas especialmente construídas para a mostra no Karlsahue, e sim em casas desgarradas no roteiro de espaços inusitados por onde a exposição se espalhou. As obras que não devem faltar no top 10 de nenhum visitante mais atento – e que estão sediadas em “casonas” pela cidade – são 12 Ballads for the Huguenot House (2012), de Theaster Gates, The End of Summer (2012), de Haris Epaminonda e Daniel Gustav Cramer, Here & There (2012), de Anna Maria Maiolino, e This Variation (2012), a comentadíssima performance de Tino Sehgal.