icon-plus
Fotograma do vídeo que registra a performance Frio, de Berna Reale (Fotos: Cortesia da Artista)
Postado em 12/07/2017 - 6:36
O som do soco no ar
Trabalhos inéditos da Berna Reale chegam no CCBB São Paulo no contexto do projeto CCBB Música.Performance
Ana Abril

Em uma semana cheia de programação dedicada à performance – exemplo disso é a Mostra de Performance Arte VERBO 2017 na Vermelho -, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) São Paulo se une ao movimento com o projeto CCBB Música.Performance. Nesse contexto, vale a pena conferir Vão, com curadoria de Agnaldo Farias, a exposição que ocupa o subsolo do edifício histórico, localizado no centro da cidade.

Um simples passar dos olhos nos revela a cor rosa dominante nos trabalhos expostos, e um olhar mais atento evidência o rosto de uma personagem conhecida no contexto performático: Berna Reale. Dessa vez, trabalhos fotográficos e de videoarte imortalizam as performances inéditas e especialmente realizadas para a mostra. A temática, como é caraterística nas obras da artista paraense, possui um forte apelo político e social, e nessa ocasião, evoca questões sobre vulnerabilidade, violência, gênero e abuso de poder.

Frame do vídeo Frio

 

Enquanto dois homens vestidos de preto juntam gelo com pás, obsessiva e inutilmente, Berna Reale tenta enxugar com um pano uma montanha de gelo triturado. É a performance Frio, realizada em vídeo. Nela, a artista veste uma capa de chuva transparente e umas luvas e abafadores de som de cor rosa. Baseando-se na associação cultural entre o rosa e o feminino, Berna Reale escolhe essas cores para pontuar o gênero que quer abordar no trabalho. “Quando pensei em realizar Frio, eu queria mostrar um ser assexuado, mas que fosse feminino e, também, frágil e forte, presente e ausente. Queria que, para os observadores, fossem perceptíveis ou não as questões e sofrimentos desse ser, igual ao que acontece com as questões e sofrimentos de muitos humanos do gênero feminino, sejam mulheres, trans, gays, etc.”, explica Berna Reale à seLecT.

Imagem da instalação fotográfica Vã

 

Som e imagem são aliados nos trabalhos da mostra. Na instalação fotográfica Vã, por exemplo, a artista explica que existe “o som do soco no ar”. Isso porque as imagens mostram Berna Reale socando o ar, sobre o estrado metálico de uma cama e vestida com um calção também metálico – que lembra ao cinto de castidade da Idade Média. Nas mãos, luvas de boxe de pelúcia rosa evocam novamente o feminino. Já no vídeo Em Pelo, a artista realiza uma dança, rodeada de pilhas de peles, que imita os passos de um toureiro.

Frame de vídeo que registra a performance Em Pelo

 

Apesar de estarem registrados em vídeos e fotografias, o conceito da performance é fundamental nos três trabalhos: “Eu estou sempre presente executando uma ação, onde meu corpo é um elemento simbólico que compõe a estética e reforça o conceito de que tudo isso é performático”, diz Berna Reale. Tal e como Agnaldo Farias afirma no texto curatorial, Berna Reale se posiciona como uma artista construtora do seu tempo, e não meramente espectadora. “Nossa artista aposta na força do enigma, concentrado na imagem do seu próprio corpo travestido e atravessando as cidades, abrindo espaço entre seus habitantes, a começar pela Belém onde vive”, escreve.

Na abertura da mostra, que acontece em 15/7 (sábado), Berna Reale e Agnaldo Farias realizam bate-papo sobre o processo de realização da exposição e sobre o tema principal do programa do CCBB: a desesperança como estado de espírito. Além de Vão, o projeto CCBB Música.Performance recebe filme da nova produção do videoartista Matthew Barney e ocupação cinético-sonora de Alejandro Ahmed e Grupo Cena 11.

Imagem da performance Frio, de Berna Reale

 

Serviço
Vão, de Berna Reale
CCBB São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – São Paulo
De 15/7 até 28/8
www.bb.com.br/cultura