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Postado em 24/06/2012 - 8:36
Para mergulhar no Software Livre
Mariel Zasso

Fórum Internacional Software Livre celebra em julho sua 13ª edição

Legenda: Na sua 13ª edição, o Fórum Internacional Software Livre – fisl, é o mais significativo encontro de comunidades de software livre na América Latina

Da motivação de um grupo de pesquisadores e ativistas pelo conhecimento compartilhado nasceu o que viria a se tornar o maior evento de Software Livre da América Latina. A primeira edição do Fórum Internacional Software Livre foi realizada no ano 2000, e surpreendeu os organizadores pelo interesse e participação.

Treze anos depois, o evento tornou-se um marco no calendário de interessados em tecnologias livres no mundo todo, tendo sediado inclusive encontros inusitados como o do então presidente Lula com o Peter Sunde, um dos três suecos que fundaram o The Pirate Bay, que na época acabara de ser acusado judicialmente por ajudar milhões de internautas a quebrar leis de direitos autorais.

A edição deste ano do fisl segue a tradição de evento montado comunitariamente – como funciona a maioria dos projetos de softwares livres, desenvolvidos, muitas vezes de modo voluntário, por comunidades de programadores – e tem sua grade de atividades proposta e curada pelos participantes. Qualquer pessoa pode propor uma atividade dentro das temáticas propostas pelo Fórum, e após encerrado o período de inscrições de palestrantes, estes são convidados a votar e escolher suas favoritas.

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Legenda: O jovem sueco fundador do Pirate Bay era perseguido no seu país quando encontrou Lula durante a 10ª edição do fisl, em 2009. (Foto: Mariel Zasso)

Além das propostas gerais, um comitê de programação convida palestrantes de renome internacional em suas áreas para complementar o time. Um dos responsáveis pelo nascimento da moeda peer-to-peer BitCoin
, Amir Taaki, dois dos principais desenvolvedores do player VLC, Jean-Baptiste Kempf e Felix Paul Kuhne, além do presidente-fundador da Linux Foundation, um dos ídolos das comunidades de Software Livre, John Maddog Hall, são só alguns dos grandes nomes que passarão por lá.

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Legenda: Para John Maddog Hall, o fisl é compromisso anual marcado na agenda. Não há participante do evento que não tenha uma foto a seu lado. (Foto: Cristiano Sant’Anna/divulgação)

Engana-se, porém, quem pensar que o fisl é um evento voltado apenas para desenvolvedores de software: a programação contempla temas como ecossistema, cultura digital, robótica e metareciclagem, educação e negócios. Todos eles explorados em suas relações com o software livre.

Mas o que é afinal software livre?

A primeira distinção a qual um leigo costuma ser submetido é: software livre não é software grátis. Um software pago pode ser livre, e vice-versa. Em parte, a confusão é um resquício do idioma de origem do termo free software. Em inglês, a mesma palavra free serve tanto para “livre”, como em liberdade, como pra “grátis”, como em “free beer” (cerveja grátis).

Mas o que está em questão aqui não é uma distribuição gratuita de programas de computador. Um software é considerado livre quando seus criadores explicitam na sua licença as “quatro liberdades”: liberdade para usá-lo para qualquer propósito, liberdade para estudar seu funcionamento e adaptá-lo às suas necessidades, liberdade para fazer cópias e distribui-lo (mesmo que cobrando por isso), e liberdade para aperfeiçoá-lo.

Para estudar o funcionamento e para poder aperfeiçoar ou adaptar um software, é preciso ter acesso à “receita” de como ele é feito: o código-fonte. Todo software livre tem obrigatoriamente seu código-fonte público, acessível a qualquer interessado, que será livre para modificar e inclusive inventar um novo programa sobre as mesmas bases se quiser. Para a maioria de nós, não-programadores e pouco ou nada aptos a fazer tais modificações, isso pode parecer sem importância. Mas vejamos agora porque isso diz respeito também a você.

No início, todo software era livre

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Legenda: Considerado o fundador do movimento, Richard Stallman veio a Porto Alegre no início de junho falar sobre software livre e lançar oficialmente a 13ª edição do evento. (Foto: Cristiano Sant’Anna/divulgação)

As chamadas “quatro liberdades” fazem parte da definição da Free Software Foundation, fundada em 1985 por Richard Stallman com o objetivo de promover a adoção do software livre, em outras palavras, promover a eliminação de restrições sobre a cópia, redistribuição, estudo e modificação de programas de computadores – bandeiras do movimento.

É certo que toda ideia nasce de uma necessidade, e não foi diferente neste caso. Depois de trabalhar como programador em projetos de software no MIT, Stallman revoltou-se com os rumos que a pesquisa e a indústria de softwares estavam tomando, e em 1984, afasta-se da universidade para criar o projeto GNU, uma opção deliberada de rejeitar a noção de software como segredo industrial.

Até pouco tempo antes, o conceito de software livre não existia simplesmente porque todos os softwares o eram. Ninguém pensara até então em tratar códigos-fonte como segredos. Mas a ainda recente indústria de programas para computador logo vislumbrou o mercado crescente. E a revolta de Stallman, estopim do movimento, surge de uma situação muito prosaica.

Uma impressora que entrou para a história

Nos anos 80, no MIT, a velha impressora coletiva apresentava problemas, e os programadores não se furtaram a melhorar o software que a comandava para resolver inoperâncias do dia-a-dia. Mas eis que chega uma impressora nova, um presente caro e moderno cortesia do próprio fabricante. A nova máquina também apresenta problemas, os rapazes acreditam que são capazes de resolvê-los da maneira que já havia funcionado. Mas o software da impressora não incluia acesso a seu código-fonte. Não apenas o fabricante não oferecera, mas também o colega que teria trabalhado nele negou-se a compartilhar: tinha assinado um contrato que exigia segredo.

Com todas as produtoras de software encaminhando-se para rumos semelhantes, parecia haver apenas uma saída para continuar sendo programador: assinar um contrato no qual prometesse não compartilhar o código-fonte, e melhorar os softwares como empregado da empresa.

Mas Richard Stallman criou a via do meio: abandonou o MIT, fundou a Free Software Foundation, e continua lutando para manter livre o fluxo de ideias na área de softwares. O movimento software livre inspira ainda hoje, direta ou indiretamente, diversas vertentes de luta pelo conhecimento como bem comum, em vez de segredo de corporações. Copyleft, creative commons, uma verdadeira revolução nas noções modernas de direitos autorais, brotam também da internet e são certamente fruto do espírito do tempo. Mas o movimento sofware livre, na figura de Richard Stallman, merece os louros por ter gritado o primeiro basta.

seLecT participará com cobertura especial

“Tecnologia que liberta”. É essa filosofia que norteia o Fórum Internacional Software Livre, que celebrará dentro de um mês mais um grande encontro de ativistas do conhecimento livre e compartilhado. Interessado e não pode ir? Os leitores de seLecT poderão pegar carona até Porto Alegre acompanhando aqui pelo site destaques da programação especialmente selecionados dentre cerca de 500 atividades. Para quem quiser ir mais longe, confira o serviço abaixo.

Saiba mais:

13º fisl – Fórum Internacional Software Livre

De 25 a 28 de julho

Centro de Eventos da PUC-RS

Porto Alegre – RS

Inscrições:  R$ 72,00 a R$ 300,00

Para saber mais sobre Software Livre, visite o portal do
Projeto Software Livre Brasil
e não deixe de acompanhar nossa cobertura do fisl.