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Postado em 25/03/2014 - 5:31
Poder transformador
Paula Alzugaray

A nova edição da revista seLecT é política do começo ao fim: ensaio fotográfico de Marcos Chaves sobre as relações entre arte, política, folia e catarse; curadoria de artistas que propõem reflexões sobre estruturas de poder; entrevista exclusiva com os curadores da 31ª Bienal de São Paulo; e muito mais… 

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Legenda: Foto da matéria sobre coletivos da periferia assinada por Luciana Pareja Norbiato

Em entrevista à seLecT 17, a equipe curatorial da 31ª Bienal de São Paulo afirma que esta não será, absolutamente, uma Bienal política. Enquanto isso, do outro lado do planeta, na Coreia do Sul, a Fundação Bienal de Gwangju anuncia o tema de sua 10ª Bienal: Burning Down the House. As duas bienais inauguram praticamente juntas – Gwangju em 5 de setembro, São Paulo no dia seguinte –, com projetos bastante coincidentes, apesar da rejeição do curador Charles Esche à ideia de uma bienal política.

O poder transformador do fogo – uma alusão à escalada de reformas incendiárias que hoje colocam em jogo as regras socioeconômicas do mundo capitalista – é a imagem central da Bienal coreana. Já o evento de São Paulo, que terá como título Como Falar de Coisas Que Não Existem, se afirma como um lugar para imaginar outros mundos possíveis. “O melhor será conseguir captar a imaginação política”, considera a curadora Galit Eilat à equipe editorial de seLecT.

Mesmo que ambas as bienais reconheçam as possibilidades e inviabilidades de a arte lidar diretamente com a política, os universos da poética e da política se encontram sempre em ações libertárias, impossíveis de ser contidas dentro das instituições político-partidárias ou do aparato tradicional do Estado. Esta edição se dedica a esses encontros, imprevistos e multifacetados.

Aos coletivos e às multidões que nem sempre sabem o que querem, que ainda não afirmam uma nova ordem mundial, mas que ecoam um grande e sonoro NÃO! Nesse sentido, a seLecT 17 é política do início ao fim. Da capa, que estampa Ato Único I (2001), de Iran do Espírito Santo, obra integrante da mostra Poder Provisório, que investiga as instâncias legitimadoras da arte e da política, no MAM-SP, até a última página, a seção Em Construção, que antecipa o trabalho de Nino Cais para a 3ª Bienal da Bahia.

No texto, a repórter Luciana Pareja Norbiato lembra que a Bienal da Bahia foi interrompida pelo regime militar e agora volta à ativa, 46 anos depois. A edição é política ao convidar o artista Marcos Chaves para realizar um ensaio sobre as relações entre arte, política, folia e catarse. E o olhar de Chaves é político ao identificar no Carnaval carioca cenas que parodiam e ridicularizam o poder policial, o que, se não vinga nem resolve, ao menos exorciza as atrocidades que as comunidades dos morros do Rio vivem diariamente. Esta é, portanto, uma edição que celebra o poder transformador da arte, da política e das ruas.