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Postado em 26/08/2011 - 6:14
Portfólio: Janaina Tschäpe entre mundos

Em colaboração com um arquiteto e um biológo, a artista Janaina Tschäpe dá forma a espaços aquáticos para abrigar seres imaginários que inventou ao longo de uma década.

Por Paula Alzugaray

A ameaça global de elevação do nível dos oceanos faz artistas, designers e arquitetos planejarem casas e cidades flutuantes, para uma vida no mar. Entre esses espaços urbanos de vocação fantástica, sobressaem dois novos projetos de Janaina Tschäpe, orientados para um futuro em que a terra será escassa e a saída parece ser habitar os oceanos. Os trabalhos, em fase de gestação, enfatizam a relação dessa artista com o meio líquido.

É das águas claras e turvas, das ondas e tempestades, do sangue e das lágrimas que brotam as criaturas imaginárias habitantes dos vídeos, fotografias, pinturas e desenhos de Janaina Tschäpe. Jellyspace será uma nave penetrável, concebida para flutuar como uma prancha de surfe.“Sempre quis construir um objeto entre um submarino e um foguete, que pudesse navegar a água, a terra e o céu, algo que nos transportasse entre todos os elementos”, diz a artista.

Criada em parceria com o arquiteto Lloyd Huber, a estrutura será construída em poliuretano e coberta com uma pele de silicone. A ideia é que essa massa epidérmica forme tentáculos leves e pesados, que boiem ou afundem, dando vida e movimento ao objeto. Por outro lado, Tschäpe se associa atualmente ao biólogo David Gruber para realizar um dicionário imaginário de seres marinhos. “Acredito em um paralelo entre arte e ciência e tento desenvolver uma linguagem fictícia que encontre um espaço real”, diz.Os seres contemplados pelo dicionário são reais. São espécies com bioluminescência, a propriedade de uma proteína fosforescente produzida por algas, águas-vivas, corais e peixes, atualmente pesquisadas por Gruber.

Os desenhos de Tschäpe são interpretações da narrativa científica dessas espécies. O livro original, todo desenhado a lápis, será como um diário de pesquisa, elo entre arte e ciência. “Uma ponte para ver e entender a proximidade desses dois mundos.” O elo entre mundos vem sendo tecido pela artista desde o início de sua formação, nos anos 90, quando a biotecnologia já transformava organismos, favorecendo a aparição de uma natureza extra-humana. Contextualizada nesse ambiente de mutações físicas e a partir de uma prática artística que promove a coexistência entre ciência, realismo fantástico e ficção científica, Tschäpe criou sua extranatureza.

Confira as imagens da artista em nosso canal Flickr