icon-plus
Postado em 03/10/2013 - 6:57
Roda da fortuna
Paula Alzugaray

Nas bancas, um raio X do mercado de arte no Brasil, fotos exclusivas de Bob Wolfenson, um ensaio do curador da 31ª Bienal de São Paulo e uma entrevista com Luisa Strina

Index

Diga-me quem te coleciona que te direi que artista és. A provocação lançada por Bruno Faria no Facebook foi respondida por outros artistas com indagações à altura. Diga-me quem te cura que te direi quem és, disse Carlos Mélo. Diga-me quem te “representa” que te direi teu valor, propôs Marilia Sales. Valor, visibilidade e legitimação são as questões da hora, estão na boca do povo.

Quando o mercado de arte atinge no Brasil e no mundo sua maior alta, é também quando se começa a entender que suas funções vão além da compra e da venda. O galerista é um cúmplice do artista, diz Luisa Strina em entrevista nesta edição. É um estrategista que coloca sua obra em museus importantes e nas coleções certas, garante ela. Nobre papel, sem dúvida, especialmente quando as instituições públicas não dão conta de fomentar, de sustentar, ou fazer circular a efervescente e potente produção artística brasileira.

De acordo com os dados levantados pela pesquisa setorial Latitude, lançada em julho, quem sustenta o mercado e realmente consome arte contemporânea no Brasil são os colecionadores privados (responsáveis por 71,5% do volume de negócios das galerias pesquisadas, ante apenas 4,24% de instituições brasileiras). Segundo o mesmo relatório, a distribuição das galerias no País também é desigual: 85% estão localizadas entre São Paulo e Rio. Tudo isso indica um desequilíbrio de forças, um sistema cultural centralizado, cuja outra ponta é extremamente frágil. Um sistema que pede novos modelos.

Se, historicamente, os artistas tensionam as relações da cultura com o mercado (desde Cildo Meireles com sua série Inserção em Circuitos Ideológicos, dos anos 1970, até Lourival Cuquinha e seu sistema subversivo de venda de obras, ambos contemplados nesta edição), agora é a vez de os outros players desse sistema repensarem suas formas de atuação.

Se os mecanismos de patrocínio estão viciados, criadores e empreendedores têm de buscar financiamento longe dos editais e leis de incentivo e reinventar a roda da fortuna da cultura. A palavra-chave para muitos é networking. Para Charles Esche, curador da 31ª Bienal de São Paulo, a palavra- chave é pluralidade. Em ensaio realizado para a Coluna Móvel desta edição, Esche reflete sobre duas posturas divergentes na arte: o mainstream e a investigação. Como Esche, seLecT toma como desafio discernir sobre os limites entre valor simbólico e valor de mercado da obra de arte.

O ensaio A Complexa Ecologia da Coprodução de Sentido, de Esche, abre uma série de cinco artigos escritos pelos cocuradores da 31ª Bienal, que serão publicados nas próximas edições da revista. Assim, seLecT acompanha o processo de construção conceitual da próxima Bienal de São Paulo.