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Postado em 26/08/2011 - 2:41
Torto e Direito: entrevista com Eduardo Longo
Entrevista com o arquiteto Eduardo Longo, autor do projeto Casa Bola em São Paulo

Formas orgânicas dominam os projetos de design e arquitetura. Sinal de tempos que mudam e da tecnologia que avança. Quatro arquiteos – Marcio Kogan, Eduardo Longo, Anna Dietzsch e Guillaume Sibaud – Revelam o que pensam das linhas tortas e retas.

Eduardo Longo, nome que vem sempre acompanhado dos adjetivos visionário e não convencional. Autor do projeto da Casa Bola, em São Paulo, nos anos 1970, o arquiteto se autointitula um neomodernista bem-humorado.

O homem está dando mais valor ao seu lado torto ou o homem entortou?

De fato, a arquitetura torta tem feito sucesso. Algumas dessas propostas de arquitetura espetáculo são, a meu ver, monumentos ao desperdício irresponsável, ainda que, algumas vezes, belos.

Por que você acha que isso acontece?

Talvez pela convergência de diversos fatores: computação, consumismo, exibicionismo, ampliação do turismo, tédio, liberdade. As peças retas começaram a se render ao cansaço lá pelos anos 70; o racionalismo do less is more, do international style, o funcionalismo da máquina de morar, a austeridade dos projetos e a ausência de ornamentos foram dando lugar ao pós-modernismo, com suas marcantes referências ao classicismo e à fantasia, numa concessão ao humor e à libertação dos cânones do modernismo. Paralelamente, desenhos desconstrutivistas iam surgindo, relegando modulação, prumo e nível em busca do inusitado. Hoje, nota-se que há espaço para todas as tendências; do neorracionalismo dominado pelo ortogonal às elucubrações, que são temas desta matéria.

Em que lugar desse processo você se enquadra?

Ainda estudante e por alguns poucos anos depois, elaborei os meus projetos de maior sucesso; obras que se destacavam pela quase ausência de ângulos retos, simetria ou modulação – autênticas arquiteturas tortas. Aos 30 anos, autocriticando meus exageros formais e complexidades construtivas, fechei por alguns anos o escritório em busca do oposto, isto é, da racionalidade e da síntese, cujo símbolo é a esfera. Tornei-me, talvez, um neomodernista, evitando o orgânico, adotando a reta e o círculo. Fiz também diversas incursões pelo humor pós-moderno.

Você sente que tem de se adaptar a um novo modo de pensar, nesse mundo em que todos reaprendem as maneiras de guardar coisas, seja no computador ou em casa?

Guardar coisas no computador (e, agora, nas nuvens virtuais) é uma das maravilhas da modernidade. Guardar coisas em casa – no sentido de adquirir, colecionar armazenar – foi comportamento abandonado, confesso que com certa dificuldade, desde os anos 1970.

Quem move quem nessa superação de modos de viver e pensar? É o artista que sonha, a indústria que evolui ou o público que reivindica?

O artista propõe, o público escolhe e a indústria fornece.

Que projetos você julga marcantes dessa fase em que vivemos?

O museu de Bilbao, de Frank Gehry, é um ícone pioneiro e máximo da bela arquitetura torta (que deveria ter esgotado o tema sem inspirar tantos seguidores até hoje, quando sustentabilidade e consumo responsável seriam as desejáveis palavras de ordem). O adendo em vidro translúcido do Atkins Museum, em Kansas City (EUA), por Steven Holl, é um elegantíssimo representante da arquitetura reta. Lembrei do espremedor de laranjas de Philippe Starck como exemplo da emoção associada ao prosaico. E das diversas iCoisas criadas pelo genial Steve Jobs. No geral, surpreendo-me com a vitalidade, variedade e quantidade de audaciosos, bonitos e inteligentes projetos da arquitetura e engenharia contemporânea.

Introdução

Entrevistas

Marcio Kogan

Anna Dietzsch

Guillaume Sibaud