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Postado em 26/08/2011 - 2:21
Torto e direito: entrevista com Marcio Kogan
Entrevista com Marcio Kogan, arquiteto vencedor do Leaf Awards, um dos mais importantes prêmios da arquitetura mundial

Formas orgânicas dominam os projetos de design e arquitetura. Sinal de tempos que mudam e da tecnologia que avança. Quatro arquiteos – Marcio Kogan, Eduardo Longo, Anna Dietzsch e Guillaume Sibaud – Revelam o que pensam das linhas tortas e retas.

Por Marlia Scalzo

Marcio Kogan sempre adotou as linhas retas em seus projetos e com elas ganhou prêmios nacionais e internacionais, como o Leaf Awards, um dos prêmios mais importantes da arquitetura mundial, e o Design Awards, da revista Wallpaper. Juntamente com seu filho Gabriel, também arquiteto, ele responde às nossas perguntas.

O homem está dando mais valor ao seu lado torto ou o homem entortou?

Provavelmente, o homem está cada vez mais torto.Esses projetos ditos orgânicos ou torturados são formas dispendiosas de construir, são absolutamente irracionais. Elas só interessam àqueles que querem, a qualquer custo, fazer uma movimentação econômica do setor da construção civil, sem que essa produção tenha qualquer relação com a necessidade dos usuários e com a racionalidade construtiva derivada das leis da física. Trata-se de uma revisão constante da arquitetura do espetáculo, em que a arquitetura deixa de ser uma ciência que satisfaz as necessidades do homem para se tornar um simples produto de marketing. Os espaços resultantes dessa arquitetura torturada têm uma péssima qualidade funcional e seu processo de
construção é irracional e muito caro. Há um gasto gigantesco e desnecessário de material e de espaço.

Por que você acha que isso acontece?

É como um modismo. Essas arquiteturas têm espaço porque chamam a atenção do público. São como grandes esculturas que servem como chamariz para um produto qualquer. É interessante, no entanto, que em momentos de crise, como agora, essas arquiteturas perdem espaço para arquiteturas racionalistas e mais simples. Mesmo na arquitetura a crise serve como lição
para o homem.

Em que lugar desse processo você se enquadra? Como você se move entre o torto e o reto?

A questão não é um duelo entre o reto e o torto. O que me perturba bastante nesse processo é um esforço descomunal para produzir essas formas orgânicas, muitas vezes criando sistemas estruturais extremamente caros e complexos, contrariando muitas vezes o bom senso e
a própria natureza. A arquitetura sempre é, sempre foi e sempre será construção e, nesse sentido, a arquitetura orgânica muitas vezes contraria a maneira mais racional de se vencer a força da gravidade. Existem exceções. A arquitetura orgânica de Oscar Niemeyer é uma espécie
de contraexemplo da arquitetura orgânica mais usual, porque ela é derivada de uma incrível intuição estrutural. O que estamos vendo, porém, em geral pelo mundo, é um show de riqueza e desperdício.

Você sente que tem de se adaptar a um novo modo de pensar nesse mundo em que todos reaprendem as maneiras de guardar coisas, seja no computador ou em casa?

As novas tecnologias, obviamente, trouxeram conquistas incríveis, tanto para difusão de informação quanto para organização e processo de trabalho. Na arquitetura, isso não é diferente. Hoje podemos enviar um arquivo de um projeto para um arquiteto do outro lado do mundo em segundos, estabelecendo um processo colaborativo antes impensável. A inserção da prancheta
eletrônica dos computadores há quase duas décadas foi uma revolução incrível, umas das maiores da história da arquitetura. O problema, no entanto, é que a tecnologia abre muitos caminhos possíveis e é fundamental, mais do que nunca, que o homem consiga julgar quais são as melhores escolhas e como usar os novos meios. Nem todos os caminhos abertos são necessariamente positivos para a própria humanidade.

Quem move quem nessa superação de modos de viver e pensar? É o artista que sonha, a indústria que evolui ou o público que reivindica?

É um conjunto. Todos inventam e utilizam essas novas tecnologias. Cientistas, por exemplo, desenvolvem tecnologias imaginadas por artistas. E os artistas depois se valem dessas tecnologias. O grande problema é imaginarmos que podemos não presenciar essa superação de
modos de viver e pensar, mas sim uma reprodução dos mais velhos e piores modos de vida e pensamentos. Devemos sempre desconfiar de que isso pode acontecer.

Que projetos você julga marcantes dessa fase em que vivemos?

É interessante reparar que a arquitetura contemporânea pós-1968, produziu muito menos obras-primas do que a arquitetura moderna da primeira metade do século 20. Os novos edifícios raramente permanecem atuais em uma década e mais raramente permanecem assim pelos próximos cinco séculos. O Centro Georges Pompidou, em Paris, de Richard Rogers e Renzo Piano, é um raro exemplo feliz dessa arquitetura contemporânea, executada quando esse “novo pensamento” começava a aparecer. Mais recentemente, o Rolex Learning Center, do escritório japonês Sanaa, que parece beber muito do próprio Niemeyer, também é um bom exemplo.

Introdução

Entrevistas:

Eduardo Longo

Anna Dietzsch

Guillaume Sibaud

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arquitetura   Marcio Kogan