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Alva com Oito Cabeças (2010), de José Bechara, na Celma Albuquerque Galeria de Arte
Postado em 12/09/2017 - 10:36
A união faz a força
Galerias de Belo Horizonte unem-se em iniciativa 10 Contemporâneo e movimentam a cidade com exposições simultâneas
Luana Fortes

Se uma galeria já consegue impactar o circuito de arte brasileiro, imagina dez? Quando se encontraram em uma feira de arte há um ano, importantes galeristas de Belo Horizonte decidiram unir forças para criar o 10 Contemporâneo, projeto colaborativo que busca formar público e fortalecer o mercado de arte. “Seguindo a máxima que a união faz a força, todos nós ganhamos na convivência com as demais galerias”, conta o galerista Murilo Castro à seLecT. “Assim podemos melhorar a oferta para o mercado, desenvolver o mercado e criar um processo didático para o público interessado (…)”, completa.

A ideia é simples, mas o resultado importante. Se ainda falam sobre eixo Rio-São Paulo quando o assunto é arte, a necessidade de iniciativas como essa é evidente. A efervescência da produção artística brasileira deve ter como resposta um igualmente efervescente circuito de museus, instituições culturais e galerias. 

O projeto começa com a programação completa de um dia. As 10 galerias montam exposições, cada qual à sua maneira, e abrem as portas na mesma data. Uma van é disponibilizada para facilitar o trajeto entre espaços e o público só precisa se preocupar em escolher quais galerias gostaria de visitar. Se esse dia não for suficiente para passar por todas as exposições, não há de se desesperar, elas permanecem em exibição por cerca de um mês.

O 2º Circuito 10 Contemporâneo aconteceu em 2/9, das 10h às 18h. Quem teve a oportunidade de participar, deparou-se com atmosferas receptivas e a presença de artistas, galeristas e curadores. Mas para quem não conseguiu visitar as exposições ainda, a seLecT preparou uma agenda especial.

Vista da exposição A Cor Construída

A Cor Construída, Ricardo Homen, até 30/9, AM Galeria, Rua do Outro, 136 | amgaleria.com.br
As diretoras Angela Martins e Emmanuelle Grossi, da AM Galeria, fizeram questão de exibir a produção de um artista mineiro. Por isso, apresentam a individual A Cor Construída, de Ricardo Homen, com curadoria de Grossi. A exposição dá a chance de conhecer pela primeira vez as experiências do artista com a tridimensionalização de suas pinturas. A partir de uma expografia eficaz, cada núcleo da mostra se assemelha a uma grande e única obra. A presença de formas geométricas e cores vibrantes faz com que relações entre sua produção e o neoconcretismo sejam comuns. No entanto, pinceladas muito gestuais e a conotação sexual por trás de suas pinturas e objetos desafia essa percepção. “Eu acho que essas são referências, mas quando você chega perto da pintura do Ricardo… É diferente”, diz Grossi à seLecT.

Vista da exposição

Anjos, Meninas, Figuras e Abstratos, Mariza Trancoso, até 30/9, Galeria Beatriz Abi.Acl, Rua Santa Catarina, 1155 | galeriabeatrizabiacl.com.br
Anjos, Meninas, Figuras e Abstratos trata-se da individual de Mariza Trancoso, que se debruça essencialmente sobre a pintura. A artista ocupa as paredes da Galeria Beatriz Abi.Acl com trabalhos de diferentes épocas, desde 1989 até 2016. Ao caminhar pela exposição, é possível perceber fases em sua pesquisa, que ora apresenta figuras claras, ora se aproxima da abstração. “Meu trabalho é absolutamente ligado à preocupação com a condição humana”, conta à seLecT. Mesmo nas obras mais recentes, em que lida com a representação de resíduos como o lixo, a artista não se desprende de vínculos com ações humanas.

Sem Título (2015), de Beth Jobim

Volumetria, até 30/9, Celma Albuquerque Galeria de Arte, Rua Antônio de Albuquerque, 885 | galeriaca.com
Os galeristas Luiz Albuquerque e Flavia Albuquerque, filhos de Celma Albuquerque, quem nomeia o espaço, apresentam a exposição Volumetrias. Com a presença de Beth Jobim, José Bechara, José Bento, Raul Mourão e Waltercio Caldas, a mostra discute como obras de arte podem reconfigurar o espaço ao seu redor. Alguns bidimensionais, outros tridimensionais, os trabalhos se relacionam com as salas da galeria de diferentes modos. “Poderíamos pensar que cada uma dessas obras/volumes, à sua maneira, apresenta um código próprio e uma forma de dialogar com a arquitetura. Seriam estas as estratégias para que as mesmas se façam ver no espaço?”, questiona Flavia, que também assina a curadoria da exposição.

Objetos de Barrão

RE-, Barrão, Children’s Corner, Renata Egreja, e Meu Mundo Teu, Alexandre Sequeira, até 21/10, dotART, Rua Bernardo Guimarães, 911, salas 8 e 18 | dotart.com.br
Aproveitando o espaço privilegiado da dotART, a galeria traz três individuais, com curadoria de Wilson Lazaro. A exposição Children’s Corner, de  Renata Egreja, tem a infância como plano de fundo e conta com pinturas repletas de formas e cores. RE-, de Barrão, traz aquarelas e objetos escultóricos do artista em que ele se concentra na cor branca. Diferente do que pode parecer, as aquarelas, que tem como referência os objetos, foram feitas depois deles. Alguns desses trabalhos nunca foram vistos antes. E, ainda, Meu Mundo Teu ocupa a chamada Sala Pensando da galeria com trabalhos de Alexandre Sequeira.

Vista da exposição

Célia Euvaldo, até 30/9, Galeria Lemos de Sá, Avenida Canadá, 147 | lemosdesagaleria.com.br
Beatriz Lemos de Sá, galerista, escolheu montar uma individual da artista Célia Euvaldo. A exposição traz imponentes pinturas que se espalham cautelosamente pelas paredes. Cada trabalho usufrui do tamanho da galeria, bastante espaçosa, e é beneficiado pela distância entre obras. A relação de cores e texturas perceptíveis na produção de Euvaldo fica ainda mais evidente pela disposição escolhida.

Vista da exposição

José Resende, até 4/10, Galeria de Arte Manoel Macedo, Rua Lima Duarte, 158 | manoelmacedo.com.br
José Resende já expôs na Galeria de Arte Manoel Macedo antes. Mas, como ele mesmo diz, isso aconteceu no final do século passado. O que ninguém poderia prever é que a sua segunda individual no local seria bem sucedida justamente porque o artista já tem familiaridade com ele. “Quis um novo desafio que não tivesse nada a ver com aquele, mas eu já tinha o espaço na minha cabeça. Por isso que a exposição foi muito resolvida e determinada para cá”, conta Resende para a seLecT. O artista ocupou uma sala não exageradamente grande e com pé direito bastante alto. O trabalho é composto por oito estruturas iguais, que se espalham pela galeria de maneiras diferentes. “Aqui, você tem uma certa tensão dos trabalhos sendo vistos de vários lados, porque, na realidade, é um trabalho só. Cada um quer ser um, mas é um pouco o outro”, revela.

Vista da exposição

A Convergência do Design e da Arte Contemporânea, até 7/10, Galeria Murilo Castro, Rua Benvinda de Carvalho, 60 | murilocastro.com.br
A Galeria Murilo Castro uniu forças também com a paulistana Galeria Nicoli, focada em estimular debate entre design e arte contemporânea. Juntas, exibem obras que trazem reflexões e dúvidas pertinentes ao público. Uma delas, por exemplo: Posso sentar aqui? A exposição conta com trabalhos que fazem de utilitários obras de arte ou inutilizam a função de um objeto para torná-lo uma obra de arte. “Talvez não seja possível fazer uma convergência absoluta, mas o que se busca realmente é fazer com que as formas dos utilitários, que o design hoje desenvolve, seja uma coisa mais artística, mais interessante, mais sedutora, mais relevante e que venha marcar esse momento criativo que o Brasil está vivendo”, diz Murilo Castro à seLecT. Entre os artistas apresentados, estão nomes como Abraham Palatnik, Sérvulo Esmeraldo, Nazareth Pacheco e Camille Kachani.

Trabalho de Deneir

Um Sobrevôo Sobre o Erudito e o Popular, Deneir, Fogo Fátuo, Adriana Coppio e Alencar Loch, até 6/10, Orlando Lemos Galeria, Rua Melita, 95 | orlandolemosgaleria.com.br
Na galeria de Orlando Lemos, o segundo andar dá um gostinho do acervo do espaço, enquanto três individuais dividem o amplo primeiro andar. Um Sobrevôo Sobre o Erudito e o Popular exibe trabalhos de Deneir que reverberam em sentidos para além da visão. Suas obras respondem a movimentos que ocorrem ao seu redor e se modificam diante da posição do espectador. Já Fogo Fátuo mostra pinturas de Adriana Coppio que desvendam as entrelinhas entre o familiar e o misterioso. Cenas cotidianas são apresentadas com um paradoxo técnico. Alguns elementos são pintados com nitidez, enquanto outros aparecem esfumaçados. Por fim, a individual de Alencar Loch exibe pinturas em que o artista constrói campos pictóricos com gestos bastante expressivos.

Patinete (1986)

Uma Face Inédita, Thomaz Ianelli, até 11/10, Quadrum, Avenida Prudente de Morais, 78 | quadrumgaleria.com.br
Uma inédita individual de Thomaz Ianelli ocupa a Quadrum até 11/10. A exposição conta com o apoio do Instituto Cultural Thomaz Ianelli e apresenta objetos e assemblages nunca antes exibidos. De acordo com a mulher do artista, viúva desde 2001, existem cerca de 130 trabalhos do tipo, mas Ianelli não gostava de exibí-los. Ele considerava suas obras como seus filhos, então não gostava de mostrá-los para não os vender. “Ele chegou até a esconder quadros debaixo da cama da minha mãe”, conta Célia à seLecT, em meio a muitas risadas. No entanto, sua mulher sempre achou importante a exposição. “Foi uma grande luta minha, porque a obra precisa ser vista, precisa ser criticada e precisa ser cuidada”, reflete.

Escalando (2017)

Intervenções, Solange Costa, até 2/10, Studio Cícero Mafra, Rua Xingú, 487 | studiociceromafra.com
Para Intervenções, o galerista e também artista Cícero Mafra decidiu exibir trabalhos de Solange Costa. Especialmente para a mostra, a artista realizou intervenções em óleo sobre fotografias do próprio Mafra, criando universos bastante particulares. Não fosse o bastante, somente o espaço do Studio, arquitetado por Amarílis Siqueira e repleto de trabalhos de Mafra, já vale a visita.