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Postado em 12/09/2014 - 9:13
17 centímetros
Paula Alzugaray

Obras de Teresa Serrano na Casa Daros, RJ, apontam para padrões e contradições de ideais religiosos

Teresa

Legenda: Teresa Serrano diante da obra “Do mesmo diâmetro” (2012)

Teresa Serrano poderia estar na 31ª Bienal de São Paulo. Se o grupo curatorial de “Como (…) coisas que não existem” conhecesse melhor o contexto da arte latino-americana, certamente teria considerado a inclusão de “Moldagem a sopro” (2012) ou de “Do mesmo diâmetro” (2012) em sua seleção de obras críticas às religiões, ao lado de Yael Bartana ou o grupo Etcétera e León Ferrari. Serrano está no Rio, apresentando quatro obras na mostra “Ilusões”, na Casa Daros. “Nestes trabalhos feitos a partir de moldes, eu quis falar sobre a religião, que foi feita para controlar as pessoas”, diz a artista à seLecT.

Em “Do mesmo diâmetro”, a artista aproxima os adornos de cabeça das três grandes religiões monoteístas do planeta – a cristã, a judaica e a islâmica –, chamando a atenção para o fato de que todos têm o mesmo diâmetro: 17 centímetros. “De que nos serve termos os mesmo diâmetro de cabeça se depois nos matamos em defesa de ideias?”, indaga ela. A obra foi concebida e realizada em 2012, dois anos antes de Teresa ser surpreendida pela fotografia de um abraço entre líderes das três religiões – o Papa Francisco, o rabino judeu Abraham Skorka e o muçulmano Ombar Abboud –, que aconteceu em maio, diante do Muro das Lamentações. “Uma acertada coincidência”, não te parece?”, diz ela.

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Legenda: o “abraço das religiões”, protagonizado em maio por líderes das três grandes religiões do planeta, coincide com a obra “Do mesmo diâmetro”, de Teresa Serrano

Já a instalação “Moldagem a sopro” apresenta quatro dos chapéus mais simbólicos da Igreja Católica – o solidéu, a mitra, o barrete e o chapéu Saturno – feitos com a técnica artesanal do sopro em vidro. Na escolha do material, uma referência à necessidade de transparência nas estruturas ideológicas. Na escolha da técnica do sopro, alusões ao poder divino da criação, mas também à conotação sexual do uso da boca. 

A artista mexicana nascida em 1936, residente entre a Cidade do México e Nova York, é um dos dez integrantes da mostra “Ilusões”, que reúne cerca de 50 obras da coleção Daros Latinamerica. Segundo Hans-Michael Herzog, que assina a curadoria com Katrin Steffen, a exposição traz diferentes visões dos artistas sobre a permanente oscilação entre verdade, realidade e ilusão.