Com pesar, a revista seLecT dedica seu Facebook do dia, à curadora e gestora cultural Camila Duprat (1955 – 2013), reproduzindo o post de seu parceiro de trabalho e amigo, Tadeu Chiarelli, curador e diretor do MAC-USP
Para minha cara Camila Duprat, que se ausentou tão cedo, o poema que Manuel Bandeira escreveu, quando da morte de seu amigo Mário de Andrade:
Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá (Pela fôrça persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguem perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você,
Profundamente.
Mas agora não sinto a sua falta.
É sempre assim quando o ausente Partiu sem se despedir:
(Você não se despediu.)
Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz tempo que êle não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá no meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se.
Para outra vida?
A vida é uma só. A sua vida continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta
(Manuel Bandeira, A Mário de Andrade Ausente, 1945. Publicado em Belo Belo, 1948)