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Postado em 08/02/2013 - 6:56
A dinastia Ai Weiweb
João Paulo Quintella

Últimos dias da exposição do dissidente chinês no Museu da Imagem e do Som de São Paulo

Nenhum artista contemporâneo possui tamanha exposição midiática quanto o chinês Ai Weiwei. Quer provar isso? Jogue seu nome no Google. O número de resultados encontrados chega próximo dos 50 milhões, número semelhante ao de Neymar, por exemplo, e quase 20 vezes maior que os hits para Marina Abramovic. Damien Hirst, sem dúvida um dos artistas mais comentados da última década, soma “apenas” 5 milhões.

A exposição Interlaced, aberta no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, é sua primeira individual no Brasil e condensa boa parte da produção do artista, incluindo obras emblemáticas como o tríptico Derrubando uma Urna da Dinastia Han (1995).

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Legenda: Estudo da Perspectiva, de Ai Weiwei

Talvez seja esse o trabalho que melhor sintetize o lado mais eminente da obra de Ai Weiwei, o do ativismo político. A crítica ao governo chinês, simbolizado pela dinastia Han, se expande e mira outras instâncias do poder em trabalhos como os Estudos de Perspectiva (1995-2010). Nele, a imagem revela apenas o braço do artista e sua mão ostentando o gesto universal do dedo médio para fachadas de prédios e monumentos icônicos como o Parlamento Inglês, a Galeria Saatchi, a Torre Eiffel e a Tate Modern.

São, no entanto, outras facetas de Ai Weiwei que o transformam nessa figura hipermidiática. O uso da internet aliado à exploração da própria imagem fez com que o rosto e a voz de Ai Weiwei se disseminassem ao redor do mundo. Atacado pela censura do seu país, Ai Weiwei virou o jogo e trouxe a rede para dentro do próprio trabalho. Em Interlacing, que será exibido no MIS em São Paulo até dia 14 de abril, podemos ver nas paredes do museu textos e imagens postados em seu blog antes de ser retirado do ar. É esse processo de reconstrução, realinhamento e reapropriação que confere força a sua obra. Tal qual o líder que tanto repudia, Ai Weiwei se autopromove e se dilui na malha da cultura. Seu antagonismo ao poder, no entanto, gera contradições. Sua critica política parece mascarar um personagem com traços ególatras e um gosto pela auto-representação que aparece desde trabalhos mais antigos, como nas séries de fotografia tiradas durante sua estadia em NY na década de 80, organizadas pela curadoria em dois módulos, um no primeiro e outro no terceiro andar do MIS. Nessas imagens, é recorrente a busca por um espelho ou por um posicionamento de câmera que aponte para o próprio artista.

Como Nan Goldin, Ai Weiwei explora sua própria experiência como recurso imagético mas, ao invés da complexidade afetiva, direciona seu olhar para gestos ou acontecimentos políticos. Arte, vida e política se embaralham. É essa fusão que gera a ambiguidade entre a mensagem e o mensageiro. Quem sobressai?

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