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Postado em 17/02/2012 - 6:49
A extravagância Hirst-Gagosian
Juliana Monachesi

Damien Hirst espalha suas Spot Paintings nas 11 Gagosians do planeta e ainda promove gincana cultural cujo objetivo é visitar todas as sedes

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Legenda: Damien Hirst exaurido na Gagosian Gallery de Londres (foto: Andrew Testa/NYT)

Inspirado por uma lista de mostras em cartaz em todas as Gagosians do mundo, que viu alguns anos atrás na entrada da galeria na avenida Madison, em Nova York, Damien Hirst resolveu solicitar as 11 sedes em um período concomitante a seu marchand Larry Gagosian para realizar uma retrospectiva de suas Spot Paintings – pinturas que em 2008 ele tinha anunciado que não faria mais e que voltou a fazer dois anos depois. 

O galerista concordou e, atualmente, as duas Gagosians de Londres, as três de Nova York e as outras em Paris, Roma, Hong Kong, Atenas, Genebra e Beverly Hills (Califórnia) sediam a mostra Damien Hirst: The Complete Spot Paintings (1986-2011). Como seria impossível expor as cerca de 1.400 pinturas de bolinhas, foram selecionadas cerca de 300 obras, a maior parte delas realizada nos últimos 20 anos e proveniente de coleções de museus e particulares em 20 países diferentes.

Em dezembro de 2011, Carol Vogel antecipou a extravagância Hirst-Gagosian no New York Times, adiantando que menos de um terço da exposição estaria à venda: “Embora funcionários da galeria digam que ainda é cedo para se falar em preços, trabalhos semelhantes, em leilões, arrecadaram de US$ 100 mil a US$ 1,8 milhão, dependendo da data, do tamanho, do desenho e do estado da obra. Uma retrospectiva completa virá em seguida, a partir de 4 de abril, na Tate Modern”.

A sagaz jornalista de arte do NYT pressagiou, coberta de razão, que “assim como muito do que Hirst já fez, a festa das bolas virá acompanhada de uma tempestade de críticas”, incluindo algumas declarações desabonadoras de um crítico de arte londrino – arrematadas por uma afirmação blasé do próprio Hirst: “Uma vez, alguém veio até mim e disse – Por que você faz essa bolinhas idiotas? Elas são cretinas, um insulto à pintura”.

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Legenda: Vista da exposição The Complete Spot Paintings (1986-2011) na galeria Gagosian da West 21st Street, em Nova York

Entre tantas reportagens, artigos e críticas publicadas desde então demolindo a mostra multi-venue de Hirst, seria difícil resumir em um única coluna do media reader toda a celeuma. Selecionamos um artigo da Artinfo, uma crítica de Roberta Smith no New York Times e duas matérias sobre outros artistas, uma acerca de Yayoi Kusama e uma dedica à obra de On Kawara, para que os leitores da seLecT tenham uma ideia geral da repercussão da mostra.

O Arlog propõe “entender tudo isso direito logo para poder seguir em frente”, com base em “onze fatos sobre as notórias pinturas de bolas de Damien Hirst”, espécie de tudo o que você sempre quis saber sobre as Spot Paintings mas tinha medo de perguntar. O artigo de Jarrett Moran, coletânea generosa de informações espalhadas por outras publicações, começa com os números estimados de Spot Paintings já realizadas – 1.400 desde 1986 -, de obras reunidas nas onze mostras gagosianas – mais de 300 -, e de pinturas de bolinhas que o próprio Hirst pintou – cinco (que o artista considera “uma merda”).

Merecem destaque os seguintes fatos:

5 – Rachel Howard pinta os melhores quadros de bolas: “A melhor pessoa que já pintou bolinhas para mim foi Rachel. Ela é brilhante. Absolutamente brilhante. A melhor Spot Painting você pode ter assinada por mim é uma pintada por Rachel”.

7 – Hirst ameaçou processar a British Airways por violação de direitos autorais após a companhia aérea ter utilizado bolas coloridas em um anúncio.

8 – As tensões com o antigo patrono Charles Saatchi transbordaram quando Saatchi exibiu formalmente um Mini Cooper coberto de bolinhas que Hirst tinha pintado para doar para caridade. Hirst não lista essa retrospectiva em seu CV.

9 – Hirst fez uma tiragem de um kit de pintura de bolas ao estilo “pintura por números”, contendo uma tela em branco, bolas numeradas e latas de tinta numeradas. Estas pinturas de bolas não pintadas vendem por mais do que as pintadas, e elas geralmente permanecem sem pintar.

11 – Um assistente uma vez pintou cinco bolas amarelas em uma fileira. Hirst disse que isso não era suficientemente aleatório. “Tivemos uma briga feia”, admite Hirst. “Agora eu percebo que ele estava certo, e eu estava errado.”

A gênese das Spot Paintings, segundo Carol Vogel, é subconsciente, por causa do pai de Hirst, que era vendedor de carros em Leeds, no norte da Inglaterra, e que pintou a porta da casa da família com bolinhas azuis. “Eu dizia às pessoas que morava na casa com a porta branca de bolinhas azuis”, afirmou o artista em entrevista a Vogel. Em 1986, quando começou a série das bolinhas, Hirst conta que “estava fazendo umas colagens que se pareciam com pinturas de Nicholas de Staël ou de Hans Hoffmann, e estava lidando com vários problemas de forma e cor. O que me fez continuar fazendo as bolinhas foi o fato de que elas sempre ficavam lindas. A ideia era que fosse uma série sem fim. É uma coisa conceitual, não é a realidade”.

Até sábado, atualizaremos este artigo com comentários sobre as três outras matérias mencionadas.