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Postado em 09/12/2012 - 7:44
A feira como experiência (Art Basel Miami – parte 3 – epílogo)
Paula Alzugaray

Porque uma feira como a Art Basel Miami Beach é o centro das atenções do mundo da arte

White Cube

Legenda: Stand da galeria White Cube, entre os mais concorridos

É a primeira vez que participo da Art Basel Miami Beach. Esta é uma feira tão importante para as galerias brasileiras que deverá, definitivamente, entrar no calendário de cobertura da revista seLecT. Brian Boucher, editor de notícias da Art in America, concorda comigo. “É uma feira tão importante para as galerias nova-iorquinas que eu também deveria ter vindo outras vezes”, confidencia ele, também visitante de primeira viagem a Miami. 

Metade das galerias expositoras são provenientes das Américas. 99 são dos Estados Unidos e 15 do Brasil, em um total de 250 galerias rigorosamente selecionadas por um comitê especializado que conta com a participação de dois galeristas brasileiros, Luisa Strina e Marcio Botner. “Mas a essa presença soma-se uma lista de importantes galerias europeias e um número crescente de galerias asiáticas”, afirma Annete Schönholzer, co-diretora da Art Basel, entusiasmada com a entrada da primeira galeria indiana no evento e com a presença da jornalista Neelam Raaj, editora assistente do jornal The Times os India, entre os jornalistas estrangeiros credenciados.

Longo 2

Legenda: Obra de Robert Longo na galeria Metro Pictures, de Nova York

Art Basel Miami Beach entra em sua segunda década ostentando sinais de vigor e reforçando pergunta que não cala jamais: por que as feiras não param de crescer? “As feiras de arte contemporânea crescem junto com as economias”, afirma Akio Aoki, diretor internacional da Galeria Vermelho. Onde há crescimento econômico, portanto, brota uma, duas, até chegar a dezenas de feiras. Hoje existem duas dezenas de feiras satélites à Art Basel Miami, como NADA, Untitled, Context Art, Design Miami etc.

Mesmo que a crise internacional tenha se feito sentir na temperatura das vendas nos dois primeiros dias de feira, Miami guarda a posição segura de ponto de convergência de negócios de toda a América Latina. 

As capitais latino-americanas, por sua vez, crescem em importância econômica e projetam ao mundo sucessos nascentes. Lançada em 2005, a SP-Arte se tornou rapidamente o mais importante evento do mercado de arte da América Latina, impulsionando o Rio de Janeiro a criar a ArtRio em 2011 e o surgimento de feiras de galerias emergentes, como a PARTE, em São Paulo. É digno de nota, também, que Lima inaugurou há dois anos duas feiras internacionais, de fotografia e arte contemporânea. A tese de Aoki se confirma se atentarmos para a ARCO, feira internacional de Madri e uma das pioneiras na Europa que, desde o início da grave crise que assola a Espanha, sofre um encolhimento de sua representatividade mundial. 

Hoje todos os olhos voltam-se para a recém-nascida Arte Basel Hong Kong, cuja primeira edição está prevista para acontecer entre 23 a 26 de maio de 2013. A feira já nasce gigante: terá 250 galerias da Ásia, Américas e Europa, mesmo número de galerias participantes em Miami. Metade delas, porém, serão da Ásia e países do Pacífico, como estratégia de proteção de mercado. 

Longo

Legenda: Obras de Robert Longo na galeria Thaddaeus Ropac, de Paris: tigre asiático?

White Cube 2

Legenda: A galeria White Cube, de Londres, foi a primeira a abrir filial em Hong Kong

Seguindo os passos da inglesa White Cube, que abriu uma galeria em Hong Kong, no início de 2012, a Art Basel abre sua filial no oriente a partir da compra de uma feira local, a Hong Kong Art Fair, fundada em 2007. Da primeira edição, participam duas galerias brasileiras, Nara Roesler e Mendes Wood, que entram no mercado asiático em condição de igualdade com as grandes galerias europeias e norte-americanas. “Hong Kong é a porta de entrada da Ásia. Ao estar na primeira edição, vamos desenvolver mercado e espaço para os nossos artistas ao mesmo tempo que as galerias dos Estados Unidos e da Europa”, diz Daniel Roesler.
Com filial nas Américas, na Ásia e na Europa, a Art Basel se consolida não apenas como a mais poderosa feira internacional, mas com um lugar de encontro cultural e fortalecimento de laços entre os continentes.

Nara

Legenda: Obra de Lucia Koch, na galeria Nara Roesler

“Miami é importante para estabelecer contato com instituições e colecionadores internacionais”, diz Laura Marsiaj, que participa da Art Basel Miami há 4 anos. No ano passado, a galerista do Rio de Janeiro vendeu vários trabalhos do artista Paulo Vivacqua, dois deles para as importantes coleções Thyssen-Bornemisza, da Espanha, e Cisneros Fontanals Art Foundation, de Miami. Esta última abriu, no mesmo dia da inauguração da feira, excelente curadoria de seu acervo, assinada por Jose Roca e Moacir dos Anjos (leia resenha da exposição na edição 10 de seLecT, nas bancas em fevereiro). 

Este ano, ela voltou à Miami com um trabalho de Vivacqua, a instalação sonora Desert (2012), definida pelo artista como “deserto em uma caixa”. “É importante estar em Miami, mesmo trazendo um projeto como este, que é mais difícil de vender. Miami Basel é uma porta de entrada para outras feiras importantes, como a Frieze London”, diz Marsiaj, que almeja entrar na feira inglesa em 2013.

Vivacqua

Legenda: Instalação Desert, de Paulo Vivacqua, projeto solo da galeria Laura Marsiaj na seção Art Positions

Art Positions

Legenda: Seção Art Positions, na Art Basel Miami Beach

Embora muitos galeristas brasileiros concordem que a Frieze Art Fair tenha mais repercussão institucional e Miami tenha mais resultado comercial, no segundo dia de feira, a galeria Vermelho havia vendido “Redburst” (2012), de Chiara Banfi, para o MCASD (Museum of Contemporary Art San Diego), da Califórnia, e uma obra de Cinthia Marcelle para a Tate Modern – além de outras 15 obras para colecionadores privados internacionais.

Chiara Banfi_redburst - Foto Rafael Cañas

Legenda: Redburst, de Chiara Banfi, vendida para o MCASD, da Califórnia

Esses indicativos apontam que a feira não é hoje só lugar de venda imediata, mas sim o espaço por excelência onde os galeristas trabalham para a consolidação de seus artistas. Daí a importância crescente que os debates e as mostras curatoriais assumem nesses eventos.
Focados na função estratégica dessas ações, a Abact (Associação Brasileira de Arte Contemporânea) e a Apex Brasil investiram em um painel de discussões sobre os desafios e oportunidades no mercado de arte no Brasil e no México, do qual participaram Ana Leticia Fialho, pesquisadora brasileira, Mireya Escalante, diretora da Coleção Isabel e Agustin Coppel Collection, do México, e teve como moderador o critico de arte Charmaine Picard, do jornal The Art Newspaper, de Nova York.

Entre os eventos agregados (cada vez mais protagonistas), a Art Basel Miami programou uma mostra de arte pública, da qual participaram os brasileiros Raul Mourão e Lourival Cuquinha, e o chileno Ivan Navarro, entre outros, e dois programas de discussões e palestras, o Art Salon e o Art Conversations (ler matéria Se as feiras fossem teatros – Art Basel Miami parte 2, no site de seLecT). 

Cuquinha

Legenda: Obra de Lourival Cuquinha, na seção Art Public

Navarro

Legenda: Obra de Ivan Navarro, na seção Art Public

Para contribuir com a difusão global dos efeitos e acontecimentos desta edição da feira, todas as conversas do Art Conversations estão disponíveis em vídeo no site da feira e no site do apoiador do projeto, a vodka Absolut, que se agregou este ano ao corpo de apoiadores. “Não somos patrocinadores, somos ativadores de experiências”, afirma Vadim Grigoriam, líder do projeto Absolut Art Bureau, que encomendou a obra “Güido” para a dupla cubana Los Carpinteros (leia “Se as feiras fossem panópticos – Art Basel Miami parte 1”). “Guido não é uma escultura nem um espaço arquitetônico. É uma experiência”, completa Grigorian, apontando para a função inevitável das feiras de arte hoje: conectar.

Festa

Legenda: Obra de Los Carpinteros, comissionada para a Art Basel Miami

*A jornalista Paula Alzugaray viajou para a Art Basel Miami Beach a convite da Absolut Vodka