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Postado em 28/11/2014 - 6:10
A saideira
Guilherme Kujawski

Exposição na Biblioteca Mario de Andrade encerra as comemorações pelo centenário do romancista e contista argentino Julio Cortázar

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Legenda: Registro de Cortázar em Saignon, na Provença (foto: Colette Portal)

Pode parecer maniqueísmo barato, mas que é divertido dividir a humanidade em dois estamentos, ah, isso é. Não os manjados, de perfil sociológico – do tipo Morlocks e Elois, o qual poderia ser descrito perfeitamente como os dois pólos de um conflito de classes da era antropocena –, mas os sardônicos, como coxinhas e hipsters, ou, como vislumbrou o escritor argentino Julio Cortázar: cronópios (criaturas sensíveis e idealistas) e famas (seres pretensiosos e formalistas).

O centenário do cronópio argentino chega ao seu final em grande estilo, com a exposição Cortázar, 100 anos: Raridades & Um Recuerdo, que abre a partir do dia 02 de dezembro na Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo. É uma exposição não apenas recomendada, mas obrigatória para todos aqueles que prezam o diálogo entre texto e imagem. Fãs e curiosos em geral, por exemplo, terão a oportunidade de sorver opticamente uma edição de Casa Tomada criada pelo designer Juan Fresán.

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Legenda: Página de Casa Tomada, criada pelo designer Juan Fresán (foto: Fabio Morais)

Nesta edição, pode-se verificar como a obra do mestre argentino é híbrida e emaranhada visualmente, jamais se rendendo à palavra escrita pura e simples. O conto narra a fantástica história de dois irmãos que vivem em uma casa que, subitamente, é assolada por uma entidade metafísica, e os dois vêem-se obrigados a ocuparem espaços menores, até o paroxismo de terem de abandonar o imóvel.

Outra obra rara apresentada na exposição é Los Autonautas de la Cosmopista, um road novel escrito em parceria com sua última mulher, a fotógrafa e ativista norte-americana Carol Dunlop. Além das obras mencionadas, a mostra conta também com um trabalho inédito da fotógrafa francesa Colette Portal, que registrou o escritor no período em que ele morou na França.

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Legenda: Aquarela de Julio Silva para o livro Silvalândia

As relações de Cortázar com artes visuais sempre foram intensas, como bem conta o colaborador da seLecT Ronaldo Bressane em seu texto de estréia no Medium Brasil. Ao falar do lançamento do livro El Último Combate na Espanha, Ronaldo explora a parceria artística de Cortázar com o pintor Julio Silva, seu tocayo e amigo. Assim, nos é contado como emergiu o almanaque-colagem A Volta ao Dia em 80 Mundos, um perfeito exemplo de livro-objeto, ou melhor, de livro como obra de arte total.

Serviço:

Abertura: 2 de dezembro de 2014, às 19 horas (encerramento: 17 de dezembro)

Horários: segunda a sexta das 8h30 às 19h30 e sábado das 9 às 17 horas

Onde: Biblioteca Mário de Andrade, Rua da Consolação S/N