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Racional (2021), de Ana Prata (Foto: Ding Musa / Divulgação)
Postado em 18/08/2021 - 1:11
Agenda do fim do mundo (18 a 25/8)
Olho Nu, de Ana Prata, e outros destaques da programação da semana
Da redação

O capitalismo pandêmico é, como nunca antes, um modo de domínio tecnicamente mediado, ou melhor, semi-tecnicamente mediado. Os dispositivos que governam nossas vidas, desejos, territórios, afetos “respondem à uma necessidade: a da normalização transitiva de todas as situações” (tiqqun, 2015), a neutralização, portanto, de todo acontecimento. Como escrevia Preciado (2020), uma pandemia pode ser também “ocasião para uma reconfiguração em larga escala das técnicas do corpo e das tecnologias do poder”. Tal reconfiguração provou ser amplamente possível a existência de um circuito de produção de valor que se faz, por um lado, por dispositivos racializados que fazem funcionar a descartabilidade da vida criando uma zona de “sacrifícios” pelos quais pessoas que ocupam postos mal remunerados e subalternizados de trabalho são impelidas a demonstrar esforços pelo “funcionamento” do social, da “nação”, da “economia” no contexto de uma emergência pandêmica. O “serviço” torna-se “essencial” apagando o trabalhador que o realiza e as relações pelas quais este trabalhador e trabalhadora estão vinculados. 

Alana Moraes, Neoextrativismo, Guerra de Mundos e Hegemonia Cibernética: Como Nos Tornamos um Laboratório Pandêmico?

EXPOSIÇÕES
Olho Nu, de Ana Prata
Reunindo cerca de 15 pinturas, entre pequenos e grandes formatos, a individual da artista Ana Prata, na Galeria Millan, expande o suporte bidimensional ao posicioná-lo em diálogo com o espaço. Ao fazer uso do gênero da natureza-morta, Prata subverte o lugar histórico da artista mulher numa espécie de enfrentamento por meio de sua produção. “Há também de se indagar sobre a motivação da artista na opção por um gênero de pintura que não é utilizado como tema neutro, mas que pode ser incômodo para uma artista do gênero feminino, justamente pela associação com a ordem da casa”, afirma Livia Benedetti, curadora junto de Ivo Mesquita. A mostra também marca o lançamento da publicação Defeitos Para o Mundo dos Sérios, uma correalização da artista com a Galeria e a Ubu Editora. Em cartaz até 15/9.

Raylana (2013), de Luiz Braga (Foto: Divulgação)

Luiz Braga: Máscara, Espelho e Escudo
O Instituto Tomie Ohtake apresenta obras inéditas e em cores feitas pelo fotógrafo nas últimas quatro décadas. A dimensão íntima e cotidiana, que perpassa o conjunto de retratos expostos, é característica constante da produção de Luiz Braga, que direciona seu olhar à cultura popular brasileira e às diferentes centralidades de um país de imensa escala territorial. “A identidade que tornou o fotógrafo amplamente reconhecido dentro e fora do Brasil foi a de cronista das cores e dos signos cotidianos do Pará, com sua singular imbricação da inventividade popular com a densidade atmosférica amazônica”, escrevem os curadores Paulo Miyada e Priscyla Gomes. Em cartaz até 12/12.

Fitoplâncton (2021), de Delson Uchôa (Foto: Divulgação)

Desvanecer e Exercícios Geométricos Vingados
Obras do artista chileno Iván Navarro e do alagoano Delson Uchôa ocupam o espaço da Luciana Brito Galeria neste mês. Embora individuais, as mostras estão em completo diálogo em torno da luz, cor e das representações geométricas. A série de seis pinturas de Uchôa inspiradas na geometria popular do Nordeste, como Pequena Alvorada (2021), conversa iconograficamente com a instalação de neons coloridos de Navarro, em que o observador experimenta uma ilusão de perspectiva com a sensação de um ambiente aumentado, como em Diamante Duplo (Amarelo – Azul) (2020). Além das duas exposições, a galeria apresenta um conjunto de obras do artista Geraldo de Barros, paralelamente à retrospectiva em cartaz no Itaú Cultural. Até 2/10.

Vista da exposição (Foto: Divulgação)

Encruzilhadas, de Antonio Pulquério
O artista apresenta cerâmicas e colagens na sua primeira exposição individual na Casa Contemporânea, em São Paulo. A ancestralidade, o corpo negro, a Terra-Gaia e os sincretismos religioso e filosófico são processados por meio da história da arte ocidental, em relação direta com questionamentos decoloniais por Pulquério. Suas obras tensionam o pensamento dualista e apontam para as infinitas sabedorias que aparecem dos fluxos, embates e negociações propiciados pelos cruzamentos. Em cartaz até 11/9.

Sapukaîa (2021), de Carlos Mélo (Foto: Divulgação)

Transes, Rituais e Substâncias, de Carlos Mélo
A Galeria Kogan Amaro abre ao público individual do artista pernambucano Carlos Mélo, apresentando um conjunto de 16 obras em diferentes suportes, que utilizam-se de jogos de imagens e palavras para desmontar o estereótipo construído sobre o Nordeste. “A minha perspectiva é de uma região contemporânea aonde as questões se dão em uma realidade que não depende da localização geográfica, mas sim de novos campos simbolistas”, explica o artista. Estão expostas esculturas têxteis da série Overlock, denunciando a indústria de jeans no Agreste do Pernambuco; a série Abismos, com três auto-retratos que carregam referências ao Nordeste e, uma série de fotografias e um backlight, resultados de uma performance de longa duração que compõem a série Sapukaîa. Em cartaz até 18/9.

Vista da exposição (Foto: Divulgação)

3 é 5
Inaugurando o Estúdio 41, espaço cultural dedicado à fotografia, em São Paulo, a mostra da artista Dani Tranchesi reúne uma série de fotografias sobre a dinâmica e os agentes das feiras livres da cidade paulistana. Além da mostra, cujo título refere-se à interação dos feirantes com os clientes na famosa “hora da xepa”, 3 é 5 desdobra-se em um livro, contendo as 95 imagens expostas, e um curta-metragem com registros dos fotogramas do cineasta Pedro Castelo Branco. “Tem um potente apelo visual, mudanças de luz, personagens muito particulares, várias histórias e muitos detalhes. A feira é um mundo muito próximo ao de uma ópera”, afirma Diógenes Moura, curador da exposição. Na terça, 24, o espaço promove conversa entre a artista e o curador, às 18h, com agendamento pelo link https://www.sympla.com.br/conversa-com-a-fotografa-dani-tranchesi-e-o-curador-diogenes-moura—3-e-5__1309297.

New Grids: Baixo-Relevo – DBNR nº 9 (2021), de Daniel Buren (Foto: Flavio Freire © DB-ADAGP Paris / Divulgação)

ABERTURAS
New Grids: Baixos-Relevos, Trabalhos Situados, de Daniel Buren
Abre, na próxima segunda-feira, 23/8, mostra com trabalhos inéditos do artista francês Daniel Buren, um dos nomes mais relevantes da arte conceitual, na galeria Nara Roesler, em São Paulo. Sua produção é conhecida pelo uso de uma padronagem listrada, simétrica e em contraste, alternando listras entre brancas e pretas, em intervenções urbanas e instalações que integram superfícies visuais. A exposição conta com uma série de trabalhos em que o espaço é colocado em relação com cor e o material utilizado (cobre, espelhos, acrílico, etc), fazendo um jogo de luzes e percepções com o olhar. Em cartaz até 23/10.

Sem Título (2019), de Elvis Almeida (Foto: Divulgação)

Bolhas Siderais
Exposição inaugural de novo endereço artsy em São Paulo, Marli Matsumoto Arte Contemporânea, projeto solo da ex-diretora de galerias prestigiosas como Raquel Arnaud, Nara Roesler e Luisa Strina. A mostra coletiva reúne obras de artistas parceiros de longa data, com quem Marli trabalhou ao longo de sua trajetória, como Anna Maria Maiolino, Cildo Meireles, Ana Linnemann, Daniel Feingold e Magdalena Jitrik, somadas a trabalhos de jovens artistas como Raphaela Melsohn, Gaya Rachel, Elvis Almeida, Adriana Aranha, dentre outros. Com curadoria de Juliana Monachesi, a coletiva se organiza a partir dos modos de habitar o mundo, das dinâmicas criadoras que dialogam com os ciclos vitais (do corpo, da natureza, do planeta), e da lógica arredondada e orgânica que se contrapõe à ortogonalidade dos raciocínios puristas. Abertura neste sábado, 21/8.

Sem Título (2021), de Alexandre Nóbrega (Foto: Robson Lemos / Divulgação)

Entre o Visível e o Invisível na Paisagem
A Nós Galeria abre mostra de Alexandre Nóbrega, artista pernambucano da geração 80, em São Paulo. Exibindo mais de trinta obras inéditas, trabalhadas a partir de nuances de branco e técnicas de colagem, o Nóbrega debruçou-se sobre o tema da solidão vivida durante a pandemia, criando composições cartográficas a partir de paisagens imaginárias e de memórias, entre o figurativo e o abstrato, utilizando formas geométricas e campos saturados de cor. “Paisagens não são sempre descobertas, elas também podem ser inventadas, abertas as novas possibilidades, levantando novos questionamentos sobre como podemos ver a paisagem como construção poética e subjetiva da realidade”, afirma o artista. Curadoria de Joana D’Arc Lima. Abertura neste sábado, 21/8; em cartaz até 23/10.

Vista da exposição de Renato Morcatti na Periscópio (Foto: Divulgação)

ÚLTIMOS DIAS
Ilê da Mona, de Renato Morcatti
“O termo ‘ilê’ é uma gíria no meio gay, conhecida no dialeto pajubá, para se referir à casa. E essa palavra vem da língua iorubá, na qual também significa ‘interior de uma casa’”, conta Renato Morcatti sobre o título que escolheu para sua exposição no Espaço Vitrine e no interior da Galeria Periscópio, em Belo Horizonte. A mostra é resultado do reencontro do artista com sua personagem drag queen Tara Wells, que ele performava nos anos 1990 e agora ressurge em estandartes, escultura, pinturas e instalação para reivindicar visibilidade para os gays, as mulheres lésbicas, as transexuais e as travestis. O artista defende que o potencial questionador de Tara segue consistente 30 anos depois do seu surgimento e opera uma afirmação da vida e sua celebração. Curadoria e texto de Luiz Morando. Em cartaz até sábado, 21/8.

4×5 (Foto: Divulgação)

4×5
Com curadoria de Douglas de Freitas e dividida em quatro módulos, a exposição começa com uma seleção de Ana Sario, Alexandre Canonico, Daniel Acosta e Hugo Frasa. Intitulado Espaço, o primeiro módulo do projeto coloca as obras dos artistas em diálogo com a produção de Amilcar de Castro, um dos líderes do movimento neo-concretista, grupo que surgiu no final dos anos 1950 e defendia a liberdade de experimentação. “As formas geométricas planas de Amilcar se abrem para o espaço a partir das suas operações, seja de corte e dobra, seja de deslocamento. Nesse sentido, os artistas participantes desse primeiro módulo, trabalham com a forma e suas possíveis relações com o espaço, seja o espaço real, da tela, ou ainda o mental. Assim, planos constroem elementos no espaço, ou espaços se planificam nas obras”, explica o curador. Os três próximos módulos ocorrem entre agosto e outubro. Em cartaz até sexta-feira, dia 20/8.