icon-plus
Faculdade de Direito do Largo de São Francisco 1827 #1, de Flávia Junqueira | Divulgação
Postado em 29/09/2021 - 10:18
Agenda do fim do mundo (29/9 a 6/10)
Exposições de Flávia Junqueira, Marina Saleme e Célia Euvaldo estão entre os destaques da semana
Da redação

Bomba-Relógio
O momento presente é uma explosão,
uma cisão
um passado e futuro
deixando
estes valorosos desprezíveis,
as ruínas,
sentinelas
em uma aurora ignorata
espargida de profecia.
Só os momentâneos
óculos da morte
firmam o fugitivo
Momento.

Mina Loy (1882-1966), em Escritura Estilhaçada – Manifesto Feminista, Notas Sobre a Existência e Outros Escritos

 

ABERTURAS
Igrejas Barrocas e Cavalinhos de Pau, de Flávia Junqueira
“O título da mostra é emprestado de um ensaio do antropólogo Roger Bastide, de 1944, em que traça justamente um paralelo entre o barroco brasileiro e as ornamentações de cavalos de carroceis”, escreve Icaro Ferraz Vidal Junior sobre a individual da artista na Zipper, com inauguração neste sábado, 2/10, às 11h. Sua produção intenciona criar universos próprios e transportar o pensamento de quem a testemunha para outros lugares, sejam fantasiosos, fictícios ou encantados. Nessa exposição, reúne um conjunto de obras que desdobram e aprofundam suas pesquisas em torno das relações entre encantamento, infância e ornamento. Balões, bolhas de sabão e cavalos de pau povoam arquiteturas ornamentadas em imagens que constroem uma noção ampliada de infância, como recusa da racionalidade instrumental moderna. 

Foto Edouard Fraipont | Divulgação

Apartamento S, de Marina Saleme
O CCBB RJ recebe, a partir de 6/10, mostra da artista paulistana com instalação composta de cerca de 1.500 obras. Desenhos e pinturas, recentes e inéditas, tratam de temas como espera, solidão e separação. Os desenhos estão dispostos em uma mesma parede, ocupando do chão ao teto a sala no segundo andar da instituição, o que resulta em uma imagem ao mesmo tempo monumental e fragmentada. Conhecida por realizar pinturas de grandes dimensões, Saleme criou, para esta exposição, obras em pequenos formatos, que reproduzem uma mulher sentada, com as mãos nos ombros, a cabeça abaixada e as pernas e pés tensionados. Apesar de reproduzirem a mesma imagem, nenhum é igual ao outro. Dependendo do ângulo, essa figura parece estar desesperada, cansada ou pensativa”, conta a artista. 

Laranja (2021), de Rubens Ianelli | Foto Sergio Guerini/ Divulgação

Delicadeza e Resistência, de Rubens Ianelli
Abre hoje, 29/9, mostra da produção recente do artista em pintura, desenho e painéis em azulejo. Com curadoria de Daniela Bousso, a individual é um convite a compreender os diálogos entre a biografia e as situações históricas e culturais por que ele passou como militante político e médico radicado no Acre. “O resultado destes deslocamentos é uma visualidade que remete ao geometrismo indígena, aos símbolos de civilizações arqueológicas e à figuração pré-colombiana”, escreve a curadora. O hibridismo da linguagem de sua produção alinha as abstrações do modernismo brasileiro e europeu às tradições ancestrais de povos ameríndios, operando um resgate da memória latino-americana de maneira dialética. Na Galeria Contempo, em São Paulo.

Foto Riã Duprat | Divulgação

Célia Euvaldo
A artista, conhecida por suas pinturas em preto e branco, realiza mostra na galeria Roberto Alban com um conjunto de trabalhos que explora a presença da cor e a relação entre gesto e matéria. Marcando o momento de ruptura e renovação de sua poética, as pinturas expostas fazem um jogo entre o p&b e uma nova paleta de cores (vermelho, laranja e lilás), trazendo, também, a dimensão física de seu corpo e do gesto como chave da produção. “Em todos os quadros, deixo uma parte da tela sem pintar. Faço isso porque vejo essas duas matérias como ‘coisas’, ‘corpos’, algo quase escultórico”, afirma Euvaldo. A mostra acontece de forma híbrida, com visitação online no site da galeria www.robertoalbangaleria.com.br. Em cartaz até 16/10.  

Divulgação

Em Rede(s)
Com curadoria de Priscila Arantes, a mostra online é desdobramento do 1º Edital de Artistas Independentes da Artsoul. Como exposição inaugural do projeto, é apresentado um olhar expandido sobre a produção dos participantes, com fotos, vídeos, entrevistas, verbetes críticos e conexões em rede que evidenciam as potências poéticas de cada um. Alex Batista, Gabriel Samuel Alves, Lâmina, Larissa Camnev, Marc do Nascimento, Marília Scarabello, Regina Pessoa, Rodrigo Linhares e Thiago Navas são alguns dos artistas selecionados. A partir dos múltiplos nós, tessituras, memórias e paisagens, constrói-se o diálogo entre os 25 artistas da coletiva. Acesso pelo link artsoul.com.br/emredes. Até 12/10.

Frame de À Disposição do Assombro, de Wellington Gadelha | Foto Priscilla Sousa/ Divulgação

ÚLTIMOS DIAS
Panorama Raft
O festival realiza, de 1 a 3/10, três atividades de encerramento da edição. Com projetos selecionados de todo o país, além de cinco voltados para pesquisa e desenvolvimento, o Panorama Raft reúne dez projetos de artes do corpo, dança e performance, apresentados em formato digital. Os eventos da próxima semana são: Serenatas Dançadas, de Soraya Portela, 1/10, às 20h; À Disposição do Assombro, de Wellington Gadelha, 2/10, às 19h, e Assombro e Trincheiras: O Que Acontece Depois Que O Mundo Acaba (?), de Tieta Macau, Abeju Rizzo, Elton Panamby e Inaê Moreira, 3/10, às 19h. Acesso pela plataforma http://panoramafestival.com/.  

Foto do SlamBR 2018 no Sesc Pinheiros | Foto de Sergio Silva/ Divulgação

ONLINE
Slam BR
Valendo vaga para a Copa América, a 8a edição do torneio começa nesta quinta-feira, 30/9, e ocorre até 3/10, em formato online. Com poetas campeões e campeãs dos 12 estados do Brasil, o evento acontece desde 2014 e reúne figuras da cena nacional dos Poetry Slams, batalhas de poesia falada surgidas na década de 1980 nos EUA e que hoje se estabeleceram como uma das mais democráticas formas de expressão popular. “Considerando as dificuldades que temos enfrentado no campo da cultura nos últimos dois anos, estamos felizes em conseguir realizar as edições do Slam SP e Slam BR em 2021 e com uma participação expressiva das comunidades. Os campeonatos estaduais de slam acabaram se entrelaçando ao nacional, já que o formato online possibilita que poetas de vários estados participem”, afirma Roberta Estrela D’alva, responsável pelo evento. As partidas podem ser acessadas pelo Facebook do Slam Brazil ou no Youtube do Núcleo Bartolomeu.

Divulgação

Ela Não Seguia Tudo, de Ricardo Basbaum e Marcelo Rezende
O projeto é fruto de trocas entre o artista e o pesquisador, a partir de uma proposição do aarea.co para a Jaqueline Martins. Ocupando o site da galeria, o trabalho toma proveito de ferramentas de programação para propor um website que abriga linhas narrativas paralelas, onde o usuário é convidado a criar percursos entre desenhos de nós dispostos em um diagrama. A proposta traz outra perspectiva sobre o processo de organização da narrativa sobre a arte conceitual brasileira e propõe reflexões sobre como o conceitualismo se dá na produção atual. https://galeriajaquelinemartins.aarea.co

Foto Igor Furtado | Divulgação

Procure Vir Antes Do Inverno, de Ventura Profana
Participante da terceira edição do Pivô Satélite, a artista, escritora e compositora carioca ocupa a plataforma digital da galeria com trabalhos inéditos. A série de vídeos, fotografias, textos e colagens questiona a hipocrisia moral e a lógica patriarcal das igrejas, especialmente as neopentecostais. Profana estrutura seu trabalho a partir do conceito de “edificação”, construção espiritual e física pensada para projetar vidas pretas travestis e dissidentes. “Meu trabalho é refletir o tempo todo sobre o plano maligno que nos aprisiona. É a restituição da minha imagem como corpo celestial, divino, superpoderoso”, afirma. A proposta integra o projeto curatorial Sexo, Mentiras e Videotape, de Raphael Fonseca. Disponível até 28/10 pelo link www.pivo.org.br/satelite.

Foto Jéssica Patrícia Soares | Divulgação

CINEMA
Mostra de Cinemas Africanos
O cinema de gênero permeia as exibições desta edição do MCA. De 1 a 10/10, 30 títulos de ficção e documentário, a maioria inéditos no Brasil, são exibidos pela plataforma do Sesc Digital. Além das 12 sessões – dez longa-metragens e dois programas de curtas, todos legendados em português – cursos e um catálogo digital são disponibilizados ao público. Entre os 16 países em destaque, são exemplos o cinema de gênero da África do Sul, Nigéria e Uganda. “Em geral se vincula a ideia de cinema africano a filmes de arte ou política; queremos quebrar esses estereótipos”, comenta a curadora Ana Camila Esteves sobre Juju Stories (2021), do coletivo nigeriano Surreal 16, que abre o Festival. O evento é online e gratuito. Acesso pelo link http://sescsp.org.br/cinemasafricanos.

Capa de Cuspes & Perdigotos, arte de Raul Loureiro | Divulgação

LITERATURA
Cuspes & Perdigotos, de Mikha
O segundo volume de contos da trilogia iniciada com Formigas & Rabanetes, da escritora paulistana, apresenta 15 histórias sobre as dores e loucuras contemporâneas. O urbano e o feminino dialogam com o incômodo à medida que a narradora discorre sobre a internação involuntária de uma mulher conduzida pela necessidade de vasculhar sua consciência, que acaba por renunciar à normalidade para equilibrar-se entre o delírio e a sanidade. A leitura dos textos não requer ordem, mas nem por isso é desconexa. “Não pense você que encontrará frufrus e florzinhas nas 15 histórias que essa autora enfileira diante de nossos olhos extasiados. Sempre em primeira pessoa, sempre sem negar o protagonismo de seus atos, Mikha narra episódios fortes com uma lucidez desconcertante”, escreve no prefácio a jornalista Regina Valadares. O lançamento acontece dia 9/10, às 14h, na Lanchonete Flor do Dia, em Pinheiros.  Editora Raiz, 120 págs., R$50.