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Carteiras Profissionais (2022), de Nario Barbosa. [Foto: Nario Barbosa]
Postado em 10/08/2022 - 5:02
Agenda para Adiar o Fim do Mundo (10 a 17/8)
Dentre os destaques da semana, estão a Ocupação Tônia Carrero, no IC, individual de Evandro Carlos Jardim e Festival #Agora no MAM-Rio
Da Redação

Não é preciso uma sensibilidade especialmente extraordinária para perceber que o Brasil não tem sabido aproveitar o dínamo revolucionário que teria a oferecer a si mesmo e ao mundo. Nossa perpétua convulsão social e a renitência de uma gênese fundada em genocídio indígena, escravidão negra e ridículas tiranias dão testemunho cristalino e inequívoco disso. Apesar das dores, dissabores e infernos, Caetano sempre esteve nu com a sua música e com o povo que é fonte e alvo de sua inspiração. Seguindo as pegadas ziguezagueantes do seu passeio por esta terra que queremos nossa, talvez possamos juntar forças para, em uma vertigem visionária, ver um caminho alegre e luminoso para o Brasil.

Caetano, Brasil, sim., de Danichi Hausen Mizoguchi e Eder Amaral [N-1 Edições].

ABERTURAS
Achados e Perdidos, de Nario Barbosa
Neste sábado, 13/8, a OMA Galeria, em São Paulo, abre a individual do artista sergipano, com texto crítico de Ícaro Ferraz. A mostra reúne 15 fotografias inéditas de objetos esquecidos em estações de trem e metrô da capital paulista. Sendo as estações locais de chegadas e partidas, o observador é convidado a imaginar as histórias dos proprietários, o que os levou a deixar seus pertences para trás ou por quê nunca retornaram para buscá-los. Barbosa utiliza linhas coloridas e agulha para bordar ponto a ponto sobre as fotografias, destacando objetos do cotidiano, como chaves, óculos, alianças, ferramentas de trabalho, mas também, uma pia. 

Tônia Carrero na peça Ela é Bárbara (1993) [Foto: Divulgação]
Ocupação Tônia Carrero
A partir de 13/8, o IC abre a 56ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural, que celebra a trajetória da atriz carioca. Por meio de fotos, vídeos, textos, documentos e demais objetos, a mostra contempla várias facetas da homenageada: da imagem de diva ao enfrentamento em época de censura. E, em especial, ressalta-se um de seus principais traços: a alegria de ser atriz, de surpreender a plateia, de renovar sempre as emoções. Realizada no ano do centenário da artista, a Ocupação se estende ainda para uma publicação e um site, lançados no dia de abertura do projeto, em um percurso que ressoa a exclamação tão usada por Tônia: ma-ra-vi-lha! Entrada gratuita.

O Pesadelo da Terra; Gótica Baía (2022), de Thiago Rocha Pitta [Foto: Divulgação]
O Suplício de Cabral, de Thiago Rocha Pitta
Na Simões de Assis, a mostra, com abertura nesta quinta-feira, 11/8, estabelece uma alegoria sobre o processo de destruição em curso no Brasil desde a chegada dos portugueses. Diante do contexto de bicentenário da independência e em ano eleitoral, Rocha Pitta desenvolve aquarelas em estrutura fílmica, como um storyboard do cinema, voltando-se como um turbilhão para o que se tornou o Brasil a partir de 1500: um território construído sob um registro de violência sistêmica. Outra característica que acentua a ideia de uma sequência é o fato de que a trama é dividida em capítulos, como séries dentro da história. Somos apresentados a Prenúncio, A Travessia, Um Mal Entendido, O Pesadelo da Terra, O Conselho Terrano, O Baptismo e, o epílogo, O Suplício de Cabral. No mesmo dia, a galeria abre também Festa do Interior, individual de Sérgio Lucena com 18 pinturas inéditas, fruto de seu interesse contínuo pelas noções de celebração e beleza.

Sem título (2022), de Dudi Maia Rosa [Foto: Edouard Fraipont/Divulgação]
EM CARTAZ
Tudo de Novo, de Dudi Maia Rosa
Um recorte amplo da obra da artista, entre criações que datam de 1993 até os dias atuais, é exibido na mostra, na Galeria Millan, até 10/9. A obra pictórica de Maia Rosa não nasce sobre a superfície, mas sim através da cor inserida por detrás de sua base e por meio de planos amplos. São cerca de 40 trabalhos que respondem ao aqui e ao agora, com aspectos tridimensionais de cores e formas internas, e volumes que retém a luz dentro de si, assemelhando-se com quadros, telas de projeção e vitrais. O título deriva de uma frase escrita por Maia Rosa em uma das pequenas obras em resina e fibra de vidro e, segundo Victor Gorgulho, curador da exposição, em texto que acompanha a exposição, “remete à natureza irrevogável do labor artístico próprio do ateliê, da vivência diária do estúdio onde nascem e concretizam-se as ideias artísticas; bem-sucedidas ou falhas”.

Sem título (1980), de Evandro Carlos Jardim [Foto: Filipe Berndt/Divulgação]
Neblina, de Evandro Carlos Jardim
Até 16/10, a mostra, no Instituto Tomie Ohtake, é dedicada à produção do gravador, pintor e desenhista paulistano, e apresenta parte de sua pesquisa acerca da cidade de São Paulo. Organizada em torno de um conjunto de gravuras chamadas Tamanduateí Contraluz, a exposição, com curadoria de Paulo Miyada e Diego Mauro, reúne 50 obras impressas na mesma matriz de cobre desde 1980. “A partir desse traçado primeiro, Jardim operou a gravura como uma espécie de avesso da arqueologia, como uma prática de escavação que, ao invés de revelar um fato do passado, produz infinitos novos traçados”, comenta a dupla de curadores. 

Vista da mostra Noites de Esperança na Cidade Maçarico [Foto: Divulgação]
Noites de Esperança na Cidade Maçarico, de Sandra Cinto
Além de celebrar 30 anos de parceria da galeria com a artista, a individual na Casa Triângulo destina-se à construção de espaços para que pessoas revisem a cidade e iniciem práticas de reconstrução em territórios e campos dizimados. ”Ao compor musicalidades feitas de sonhos que se entrelaçam, a artista preserva movimentos em sua prática quixotesca que compreendem o verbo esperançar como fundamento de generosidade, maneira encontrada de fazer de outro modo dentro da arte”, escreve o curador Josué Mattos. Utópica e espiritual, a mostra busca reduzir a diferença substancial de arquipélagos, constelações e pequenos pontos que manifestam a conjunção de indivíduos com a natureza. Até 17/9. 

Registro da performance Bori (2008-2022), de Ayrson Heráclito [Foto: Divulgação]
ÚLTIMAS SEMANAS
Ayrson Heráclito: Yorùbáiano
Como parte da programação da mostra, em cartaz até 22/8, na Pinacoteca Estação, o artista realiza a performance Bori (2008-2022), no octógono do edifício Pina Luz, amanhã, 11/8, das 17h às 19h30. Nesta apresentação, o artista conduz uma montagem pública de mandalas de alimentos em torno das cabeças de 12 performers que representam os filhos das principais divindades do candomblé: Oxossi, Omolú, Xangô, Ossain, Oxumarê, Kitembo “Tempo”, Oxum, Yansã, Yemanjá, Nanã e Oxalá. A entrada e circulação de visitantes no octógono será controlada para não interferir no bom andamento da performance. Os visitantes que não conseguirem entrar no espaço poderão também acompanhar por meio de um telão com transmissão ao vivo, ao lado do octógono.

Capa de Mar é Sempre Beira Pra Quem Tem Medo de Fundo, de Fernanda Moreira [Foto: Divulgação]
LITERATURA
Mar é Sempre Beira Pra Quem Tem Medo de Fundo, de Fernanda Moreira
Depois de cinco anos, Ladrilha, projeto de ocupação de poesia no espaço público, da jornalista e escritora carioca, vira livro, com lançamento dia 15/8, na livraria Janela. Tudo começou com azulejos espalhados pelo Rio de Janeiro com o objetivo de dialogar com as ruas a partir da palavra e do afeto. Hoje, já são mais de 300 peças coladas na cidade, em São Paulo e em Salvador, todas autorais e ligadas às temáticas feministas, políticas e literárias. O livro reúne alguns dos textos já intervidos nesses espaços e outros inéditos, entre poesia e prosa, escritos entre os períodos de 2012 a 2022. 

Alma Clandestina (2018), de José Barahona [Foto: Divulgação]
FESTIVAL
Agora É Que São Elas
Entre 13 e 14/8, o MAM-Rio sedia a terceira edição do Festival #Agora, que se desdobra acerca do tema Mulheres da Independência. Pela primeira vez em territórios cariocas, o evento conta com dois dias de debates, workshops, exposição, feira, mostra de cinema e oficinas no espaço do museu. Dentre os destaques da programação gratuita, está a exibição do documentário nacional A Mulher da Luz Própria (2019), de Sinai Sganzerla, seguido de conversa com a diretora e Helena Ignez; Parahyba Mulher Macho (1983), de Tizuka Yamasaki; Alma Clandestina (2018), de José Barahona, e muito mais. Confira toda a programação no site do MAM-Rio