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Postado em 13/06/2014 - 4:01
América Latina Expandida
Giselle Beiguelman, de Nova York


Museu Guggenheim adquire e expõe 50 obras de arte contemporânea da América Latina selecionadas pelo curador Pablo León de La Barra. Exposição vem ao Brasil em 2015

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Legenda: O artista brasileiro Jonathas de Andrade apresenta à imprensa internacional o Museu do Homem Nordestino no Guggenheim

Abre nesta sexta (13) a exposição Sob o Mesmo Sol: Arte da América Latina Hoje, um megaprojeto de aquisições e pesquisa do Museu Guggenheim de Nova York. Com curadoria e coordenação geral do agitador cultural mexicano Pablo León de La Barra, e patrocínio da UBS, a exposição é resultado de dois anos de trabalho do projeto MAP e vem suprir uma grande lacuna do acervo do Guggenheim. 

Apesar de sua relevância, a coleção do museu era até o início de MAP, que começou a partir de uma investigação semelhante focada na Ásia, centrada na produção europeia e norte-americana. A mostra fica em cartaz em Nova York até 1º de outubro de 2014. Será apresentada no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, de abril a junho de 2015, e depois no Museo Jumex, na Cidade do México, México, no segundo semestre do ano que vem.

Dividida em núcleos temáticos, como tropicologia e conceitualismo, apresenta 40 artistas e duplas representando 15 países – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Peru, Porto Rico (EUA), Uruguai e Venezuela. Todas as obras – quase 50 – foram adquiridas pelo museu com recursos do Fundo de Aquisições do Guggenheim UBS MAP. 

Entre os artistas participantes, seis são do Brasil: Adriano Costa, Erika Verzutti, Jonathas de Andrade, Paulo Bruscky, Rivane Neuenschwander e Carla Zaccarigni (argentina, mas radicada aqui). O perfil do grupo de brasileiros, repete-se na exposição como um todo: uma combinação entre artistas emergentes, como Adriano e Jonathas, com artistas em meio de carreira, como Rivane, e consolidados como Paulo Bruscky (que comparece em obra feita em dupla com Daniel Santiago).

América Latina é um noção geopolítica que nunca definiu uma unidade real, mas sim um eixo de dominação ideológica e econômica, apontando para um território difuso, que grosso modo é tudo aquilo que fica abaixo do Texas mais o México. No meio desse angu conceitual, o Brasil sempre foi um problema para defensores e contestadores da ideia de latinidade. Teve outro processo colonial, outra economia, escravidão africana, dimensões continentais, fala português… Foi esse o ponto de partida de nossa coversa com o curador Pablo León de la Barra.

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Legenda: Obra da artista mexicana Minerva Cuevas incorporada ao acervo do Guggenheim

O Brasil ainda é um caso particular na definição de América Latina ou a globalização resolveu esse imbróglio teórico?

A noção de América Latina é muito mais problemática hoje em dia, pois tornou-se muito mais interessante. Cada região tem suas particularidades e suas histórias e estamos também mais capacitados para apreender a enorme diversidade interna dos países. Isso, no caso brasileiro é bastante visível. 

Então, o que é a arte da América Latina hoje?

América Latina, como definição geral, é um clichê. Trabalhamos aqui com um campo expandido, procurando reconhecer e dar visualidade mais às diferenças do que às unidades.

A arte contemporânea do que se convencionou chamar América Latina foi muito associada ao engajamento político e à militância contra as ditaduras dos anos 1970. Nada nessa exposição remete a isso. Essa é uma questão superada? Onde a arte se relaciona com a política aqui? 

Eu diria que há um subconsciente da ditadura, sim, ainda muito presente no imaginário coletivo. E também um subconsciente da conquista – o processo de colonização – e da escravidão (africana e indígena).

Agora não se fala mais em tropicalismo, mas sim em tropicologia, um conceito de Gilberto Freyre que está inclusive servindo de base conceitual para a Bienal da Bahia e que é um dos eixos da exposição que você apresenta no Guggenheim. Como você tomou contato com essa teoria?

Foi na minha primeira viagem ao Recife, há cinco anos atrás. Jonathas de Andrade foi quem me introduziu no tema. Depois, as curadoras Cristiana Freire e Lisette Lagnado me apresentaram os seminários de tropicologia de Gilberto Freyre e isso foi muito importante para mim. Eu já estava interessado na questao tropical como uma questão maior, que nao é só brasileira, mas também muito presente em outros países, como Cuba, Peru e Venezuela. Acho que essa é uma ideia que conecta vários aspectos da exposição como um todo

Serviço:

Sob o Mesmo Sol: Arte da América Latina Hoje
Solomon R. Guggenheim Museum, 1071 Fifth Avenue, Nova York
Até 1º de outubro
guggenheim.org