Importante nome da Geração 80, Angelo Venosa exibe cerca de 20 obras divididas em três novas séries de dimensões e materiais variados, esculturas processuais que derivam de sua pesquisa sobre forma desenvolvida ao longo de sua trajetória artística. A primeira das séries é composta por sólidos construídos em camadas, saindo diretamente da parede ou do chão ou apoiados num suporte negro em que se vê a projeção bidimensional da continuidade de sua forma (chamados de “quadros”, estabelecendo uma relação entre pintura e escultura), num jogo entre a ideia e a matéria. Aqui, Venosa parte de uma forma ideal, criada no computador, para construir os volumes pela sobreposição de camadas, num resultado visualmente orgânicos.
O grupo com os maiores trabalhos da mostra apresenta o desenvolvimento da pesquisa de Venosa em busca de corpos estruturados externamente, ou seja, formas ocas delimitadas apenas por sua camada externa, como exoesqueletos. Nessas obras, o embate do artista com o material torna-se mais evidente, já que as peças são formadas pela justaposição de camadas de compensado parafusadas umas nas outras. Novamente, a idealização inicial da obra é forçada contra seu limite material, que só pode ser configurado de fato durante sua realização.
Finalmente, pequenos elementos produzidos por uma impressora 3D, que se assemelham a estruturas orgânicas tais como corais – surge aí novamente a ideia do exoesqueleto – compõem conjuntos heterogêneos, como um gabinete de curiosidades da Era Moderna. “São também um forte espaço de experimentação no sentido mais direto e lúdico do termo” como define Venosa.
Pela integração de madeira à matéria plástica que constitui as camadas de impressão – que geram um paralelo à realização manual dos volumes em camadas do primeiro grupo de obras -, as peças ganham aparência entre orgânica e artificial, num efeito trompe l’oeil. E incorporam como parte da obra os erros de processamento (os chamados “stringings”, quando filetes de camadas sobram para fora da peça, como fios puxados), o que subverte a objetividade do processo tecnológico, inserindo a inexatidão e o acaso.
Assim, o sentido que perpassa esses trabalhos e os conecta à trajetória de Angelo Venosa é a assimilação da indefinição como componente de um mundo cada vez mais avesso ao imperfeito e baseado na certeza. Em seus quebra-cabeças processuais que, como numa ilusão de ótica, desmontam a todo instante a aparente coerência de seus elementos integrantes, o artista nos remete constantemente ao momento presente, na forma da experiência de contato com a obra, imprevisível como o próprio processo de criação. Mais importante do que compreender um sentido estático da obra é perceber-se instigado por suas contradições, que criam uma ponte entre a assertividade científica, cerebral, e a natureza de que somos parte.
Serviço
Galeria Nara Roesler
Avenida Europa, 655, Jardim Europa, São Paulo
Abertura 20 de fevereiro, das 11h às 15h
Período expositivo: 22 de fevereiro a 9 de abril
Segunda à sexta, das 10h às 19h, sábado das 11h às 15h
Tel.: (11) 30632344