Projeto do arquiteto Pedro Varella e do artista multimídia e designer Julio Parente, criado para mostra de João Paulo Quintella, ganha prêmio do ITO
Vista do projeto Cota 10, instalado na Praça XV, no Centro Histórico carioca, em janeiro deste ano
O arquiteto Pedro Varella, o artista multimídia e designer Julio Parente e o curador João Paulo Quintella (colaborador frequente de seLecT, inclusive na edição de agosto/setembro) têm um ótimo motivo para comemorar. O projeto dos dois primeiros foi o vencedor do Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel 2015.
Intitulado Cota 10, liderou a premiação, seguido pelos projetos Estúdio Madalena (São Paulo, SP, 2014, segundo colocado), de Anderson Freitas, Pedro Barros e Acácia Furuya (Escritório Apiacás Arquitetos) e Alojamento para Estudantes – Ciudad del Saber (Ciudad de Panamá, Panamá, 2013), de Eduardo Crafig Ferreira de Assis (Escritório SIC Arquitetura). A seleção foi feita pelos arquitetos Abílio Guerra, Carlos Teixeira, Priscyla Gomes e Shundi Iwamizu. Além dos três premiados, outros sete projetos foram escolhidos como finalistas e participam da exposição em cartaz no ITO até 6/9.
Mas o que João Paulo Quintella tem a ver com isso?, o jovem curador é indiretamente responsável pelo Cota 10. Foi dele a curadoria da exposição Permanências e Destruições, produzida pelo Oi Futuro RJ no começo deste ano, e sua coordenação ajudou na concepção do Cota 10. Se São Paulo tem projetos recorrentes que debatem a urbanização e a ocupação dos espaços públicos, foi em clima de novidade que a mostra de Quintella situou esse debate na capital fluminense. Na premissa do curador, a ideia de destruição era o ponto de partida para a reconfiguração de espaços públicos antes inutilizados.
Ao saber da premiação, Quintella declarou em seu Facebook: “Muita felicidade com a notícia de que o ‘Cota 10’, de Julio Parente e Pedro Varella, foi o 1º colocado do Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel 2015. Vencer um prêmio de arquitetura com um trabalho desenvolvido no âmbito de um projeto de arte contemporânea é um indicativo de novas formas de pensamento e prática sobre a cidade. Inserido em um contexto de intervenções em espaços críticos do Rio de Janeiro, ‘Cota 10’ consegue ser ao mesmo tempo expressão e experiência, artística e arquitetônica.”
O projeto
O Cota 10 nasceu com o intuito de questionar as consequências de uma demolição em âmbito urbanístico. Mais especificamente, do Elevado da Perimetral, que conectava uma das entradas do Rio de Janeiro com o Centro da cidade. Pela instalação de um andaime de dez metros de altura, o público que passou pela Praça XV entre os dias 9 e 11 de janeiro de 2015 pode ver o belíssimo panorama da Baía de Guanabara, desobstruído da estrutura de cimento armado por onde os carros cruzavam, após a demolição do Elevado dentro do plano de reconfiguração do Porto do Rio – conhecido por Porto Maravilha.
Além de criar um novo uso para o espaço urbano – um dispositivo para escapar da balbúrdia do Centro do Rio por meio do acesso ao privilegiado horizonte marítimo -, o projeto fez a crítica da urbanização pensada apenas para o trânsito de carros, não de pessoas. Com sua vitória, o Cota 10 não só confirmou-se como iniciativa contundente dentro do pensamento arquitetônico da atualidade, mas também mostra que a premiação do ITO, ao contemplar um projeto de gênese transdisciplinar, situa-se no centro desse debate.