icon-plus
Postado em 27/07/2015 - 9:11
Arquitetura como arte
Luciana Pareja Norbiato

Projeto do arquiteto Pedro Varella e do artista multimídia e designer Julio Parente, criado para mostra de João Paulo Quintella, ganha prêmio do ITO

Projeto - cota 10, Arquiteto - Pedro Varella

Vista do projeto Cota 10, instalado na Praça XV, no Centro Histórico carioca, em janeiro deste ano

O arquiteto Pedro Varella, o artista multimídia e designer Julio Parente e o curador João Paulo Quintella (colaborador frequente de seLecT, inclusive na edição de agosto/setembro) têm um ótimo motivo para comemorar. O projeto dos dois primeiros foi o vencedor do Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel 2015.

Intitulado Cota 10, liderou a premiação, seguido pelos projetos Estúdio Madalena (São Paulo, SP, 2014, segundo colocado), de Anderson Freitas, Pedro Barros e Acácia Furuya (Escritório Apiacás Arquitetos) e Alojamento para Estudantes – Ciudad del Saber (Ciudad de Panamá, Panamá, 2013), de Eduardo Crafig Ferreira de Assis (Escritório SIC Arquitetura). A seleção foi feita pelos arquitetos Abílio Guerra, Carlos Teixeira, Priscyla Gomes e Shundi Iwamizu. Além dos três premiados, outros sete projetos foram escolhidos como finalistas e participam da exposição em cartaz no ITO até 6/9.

Mas o que João Paulo Quintella tem a ver com isso?, o jovem curador é indiretamente responsável pelo Cota 10. Foi dele a curadoria da exposição Permanências e Destruições, produzida pelo Oi Futuro RJ no começo deste ano, e sua coordenação ajudou na concepção do Cota 10. Se São Paulo tem projetos recorrentes que debatem a urbanização e a ocupação dos espaços públicos, foi em clima de novidade que a mostra de Quintella situou esse debate na capital fluminense. Na premissa do curador, a ideia de destruição era o ponto de partida para a reconfiguração de espaços públicos antes inutilizados.

Ao saber da premiação, Quintella declarou em seu Facebook: “Muita felicidade com a notícia de que o ‘Cota 10’, de Julio Parente e Pedro Varella, foi o 1º colocado do Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel 2015. Vencer um prêmio de arquitetura com um trabalho desenvolvido no âmbito de um projeto de arte contemporânea é um indicativo de novas formas de pensamento e prática sobre a cidade. Inserido em um contexto de intervenções em espaços críticos do Rio de Janeiro, ‘Cota 10’ consegue ser ao mesmo tempo expressão e experiência, artística e arquitetônica.”

O projeto

O Cota 10 nasceu com o intuito de questionar as consequências de uma demolição em âmbito urbanístico. Mais especificamente, do Elevado da Perimetral, que conectava uma das entradas do Rio de Janeiro com o Centro da cidade. Pela instalação de um andaime de dez metros de altura, o público que passou pela Praça XV entre os dias 9 e 11 de janeiro de 2015 pode ver o belíssimo panorama da Baía de Guanabara, desobstruído da estrutura de cimento armado por onde os carros cruzavam, após a demolição do Elevado dentro do plano de reconfiguração do Porto do Rio – conhecido por Porto Maravilha.

Além de criar um novo uso para o espaço urbano – um dispositivo para escapar da balbúrdia do Centro do Rio por meio do acesso ao privilegiado horizonte marítimo -, o projeto fez a crítica da urbanização pensada apenas para o trânsito de carros, não de pessoas. Com sua vitória, o Cota 10 não só confirmou-se como iniciativa contundente dentro do pensamento arquitetônico da atualidade, mas também mostra que a premiação do ITO, ao contemplar um projeto de gênese transdisciplinar, situa-se no centro desse debate.