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Postado em 05/01/2015 - 4:57
As miragens da liberdade
Guilherme Kujawski

A prisão da artista Tania Bruguera após performance contra a censura em Cuba mobiliza a comunidade artística e política internacional

Legenda: Vídeo de El Susurro de Tatlin #6 (versión para La Habana), performance da artista cubana Tania Bruguera

No final do ano passado a artista cubana Tania Brugera investiu em sua “revolução cultural” habanera, dias após a reaproximação diplomática entre Cuba e EUA. Na performance El Susurro de Tatlin #6 a artista sobe em um palanque e, ao lado de dois figurantes vestidos com uniformes do exército cubano, lança diatribes e invectivas contra a censura local, denunciando a prisão de blogueiros e o filtro estatal à internet. Ato contínuo, a artista é detida pelas autoridades de Raúl Castro. Nenhuma surpresa.

O fato foi pauta de todos os veículos de arte, indo parar até em editorial do New York Times. Várias coisas a considerar… Primeiro: alguém realmente achou que a quebra do embargo histórico iria modificar alguma coisa em termos de liberdade de expressão na Pérola das Antilhas? Seria muita ingenuidade acreditar que sim. O controle do governo cubano sobre a mídia (e as expressões em geral) tem sido absoluto por mais de cinco décadas e isso não acaba num passe de santeria.

Segundo: tirante os membros do sindicato dos artistas de Cuba, praticamente toda comunidade da arte contemporânea global tomou as dores de Bruguera e se sentiu ultrajada com a detenção. Sabemos que artistas têm uma função social importante, tendo a obrigação moral de preservar a liberdade e lutar contra os desmandos dos donos do poder. Mas é preciso ter cautela e duvidar da causa eficiente da arte, ou seja, da crença de que a chamada “arte política” produza efeitos práticos no mundo real, como a preservação de direitos civis, por exemplo.

De qualquer forma, aqui está a página da performance no Facebook e todo seu antes e depois. A hashtag circulante nas redes é #YoTambiénExijo.