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Postado em 23/10/2011 - 6:26
Cacofonia agradável que não leva longe
JM

Para a crítica de arte Roberta Smith, mostra individual de Ida Ekblad em NY é uma obsoleta profusão de precedentes

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A exposição de Ida Ekblad na galeria Greene Naftali é o début da jovem artista norueguesa na cena comercial nova-iorquina, e a incisiva crítica de arte Roberta Smith nem perde tempo em preâmbulos para sentenciar: é uma cacofonia agradável que não leva a arte muito adiante.

A resenha, curta e grossa, publicada na primeira sexta-feira de outubro no NYT, é uma aula de argumentação e também de como demolir uma exposição sem perder a pose. Vamos acompanhar o crescendo do invulgar raciocínio de Smith, que funciona como um passo-a-passo da excelência da resenha negativa fundamentada.

1ºpasso – apresentar o contexto, mostrando que o criticado tem cacife: “a pintora norueguesa Ida Ekblad, que mal fez 30 anose já participa da exposição Illuminations, na Bienal de Veneza deste ano, está realizando a primeira exposição em uma galeria de Manhattan”, começa o texto.

2ºpasso – apresentar o problema: “Suas jazzísticas novas pinturas geométrico-gestuais, que são ferozes na cor e espessas na tinta aplicada com zelosa improvisação, demonstram problemas de comprometimento e uma ambigüidade despreocupada que está muito na moda. Elas são irônicas ou sinceras? Será que elas conscientemente reciclam estilos passados ​​ou são involuntariamente atoladas em idéias recebidas? De qualquer forma, a profusão de precedentes nestas obras diminui o incentivo para refletir sobre tais questões”.

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3ºpasso – dar nome aos bois (de todas as fontes onde a artista bebeu para criar as pinturas expostas na galeria): “Elas quase poderiam ter sido feitas na década de 1950 por um expressionista abstrato ou um pintor do grupo Cobra, ou por algum neo-expressionista dos anos 1980. Em termos da pintura da década de 1980, elas evocam uma fusão improvável das vertiginosas paisagens semiabstratas de Per Kirkeby com as arrogantes figuras angulares de Helmut Middendorf, bem como as formas contorcidas genéricas de Joan Thorne, um pintor abstrato americano por quem o neo-expressionismo passou ao largo. Lufadas de esperteza da arte de rua e grafite e a irreverência de pintores de Colônia, como Michael Krebber e Albert Oehlen, mantêm a regressão total à margem”.

4ºpasso – desqualificar o restante, as esculturas que acompanham as pinturas obsoletas, como igualmente old school: “Para os americanos de uma certa idade, o empilhamento de forma e tinta pode evocar algo a que Frank Stella poderia ter recorrido em meados dos anos 1970, se tivesse sido incapaz de arcar com os custos de fabricação de seus relevos de pássaros exóticos, que foram pintados em alumínio de núcleo oco. Familiaridade também assola as esculturas de sucata de reposição e as estruturas de aço soldado que se assemelham a portões, envernizadas em tons de azul, vermelho ou branco, que conjuram agregações deslocadas da obra de Anthony Caro, John Chamberlain, David Smith e Jim Dine”.

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5ºpasso – o golpe de misericórdia, encerrando em grande estilo: “A arte mais velha é sempre propícia para redirecionamentos, mas é preciso foco e um processo de pintura cuja novidade vá além da atitude. O tratamento pictórico obsoleto da sra. Ekblad e o efeito dominó de referências produzem uma cacofonia agradável, mas não muito progresso”.

(Todas as imagens são de obras sem título, datadas de 2011, expostas na galeria Greene Naftali, em NY. Fotos: Artnet)