California dreaming - Revista seLecT

_{Ao escolher Lindsay Lohan como musa, Richard Phillips atualiza a boa e velha Pop Art diante de uma Califórnia nostálgica}

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Pensar o ideal da beleza em pleno século 21, quando o próprio “idealismo” se encontra estilhaçado no olho deste furacão ao qual alguns nomeiam de pós-modernidade. Ironia ou sinceridade, a verdade é que a escolha de Lindsay Lohan como musa artística foi um gesto calculado meticulosamente pelo artista americano Richard Phillips que dedica praticamente toda sua nova individual na Gagosian a esta atriz polêmica.

Conhecido por retratar belas mulheres em pinturas hiperrealistas e em grande escala _ que em muito lembram fotos publicitárias_ o artista resolveu criar uma espécie de working in progress que revitaliza a ideia do retrato pictórico feminino, tão comum ao longo da história da arte e que apresenta a nostalgia de uma Califórnia que um dia foi sinônimo de luxo e status para as estrelas do cinema.

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Legenda: Retrato de Sasha Grey, Richard Phillips, 2012 (Reprodução)

Além das pinturas feitas a partir de um curta metragem onde retrata Lohan em trajes de banho dentro de uma piscina infinita, o artista realizou outros dois filmes, um deles protagonizado pela ex-atriz pornô Sasha Grey, de quem Phillips também fez retratos a óleo. Tanto Lohan quanto Gray aparecem em cenários estereotípicos do contexto californiano. Lohan na piscina, figura emblemática do “California Dreaming way of life” _ que durante a década de 1960 também foi figura tema de trabalho do veterano David Hockney, que dedicou uma série de pinturas às piscinas de mansões do ensolarado estado norte-americano _ e Grey, que por sua vez, é retratada passeando pela casa modernista projetada pelo arquiteto John Lautne_ hoje cartão postal da cidade de Los Angeles.

Os três filmes foram exibidos inicialmente no circuito da
última Bienal de Veneza e resultaram em um terceiro mais recente,
produzido em 2012, onde o artista colaborou com o documentarista
especializado em esportes radicais Tayler Steele. Denominado First
Point, o filme produz um encontro estranho entre a estética noir e o
mundo do surf, e teve a participação da surfista Kassia Meador, que na
trama trabalhou como dublê de Lohan. O uso do vídeo como ferramenta para o retrato também é uma escolha acertada, uma vez que ele potencializa as telas à óleo que a posteriori funcionam como uma espécie de still dos filmes.

Lindsay

“Minhas imagens envolvem um tipo de beleza decadente – e isso sempre foi um segmento do meu trabalho”, declarou o artista, que elogiou a intensidade emocional de Lohan, glorificando-a como uma “colaboradora” e não uma “mera modelo” em entrevista recente feita para o release da exposição. Além de realizar essa espécie atualização do retrato feminino, onde o conceito de beleza atual parece ser uma mistura de decadance avec elegance, essa mesma decadência parece recair no mítico star system que um dia foi motivo de orgulho para California, berço do cinema hollywoodiano e que é feito de celebridades que acabam sendo humanizadas pela frequência com que suas esferas íntimas são escancaradas na mídia marrom.

Apesar de aparecer lindíssima tanto nos filmes quanto nas pinturas, intencionalmente o que artista parece fazer é uma espécie de anti-retrato da atriz que constantemente estampa as capas de tablóides e sites de fofocas desfigurada ou bêbeda em fotos de flagra ou em imagens onde aparece sendo fichada pela polícia. Nesse sentido, Phillips também revisita a estratégia da Pop Art de Andy Warhol, ao maquiar esse star system às avessas vivido por Lohan, dando-lhe uma aparência de glamour, algo associado à Hollywood.

A individual de Richard Phillips fica em cartaz até o dia 20 de outubro, na Gagosian Gallery, de Nova York.

Assista abaixo aos filmes Lindsay Lohan e Sasha Grey:

http://www.youtube.com/watch?v=–rs7Ni7nmA&feature=player_embedded