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Postado em 10/09/2012 - 7:18
Canteiro de Operações
Mariel Zasso

Mais uma iniciativa dentro do projeto Arte/Cidade, a intervenção procura destacar áreas urbanas que se tornaram críticas em decorrência dos rumos da própria urbanização

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Legenda: “A paisagem não é um cenário idílico e estável, mas uma contínua mutação. A arte deve trabalhar com esses processos e não tentar apaziguá-los”, diz Nelson Brissac. (Foto: divulgação)

Durante seis dias, cinco containers de 12 metros de comprimento serão empilhados por um guindaste, rearranjados em conformações distintas, à vista do público, em 18 posições diferentes, no Memorial da América Latina. Enquanto isso, no ramal ferroviário da Mooca, cerca de 30 vagões abandonados ao longo dos trilhos, entre as estações Mooca e Ipiranga, serão cobertos com tela sintética destacando-se da paisagem de muros e galpões industriais.

Cobrir elementos massivos com um véu leve e transparente e experimentar a suspensão e o reposicionamento de grandes volumes, testando os limites da estruturação e do equilíbrio, são os motes da intervenção urbana Canteiro de Operações. Entre 11 e 16 de setembro, o público poderá acompanhar não só a dança do empilhamento dos containers, mas também poderá desnaturalizar a realidade dos trens estagnados e sem uso.

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Legenda: Não se trata de “pegar uma coisa e fazer uma obra de arte”, mas sim “apresentar possibilidades diversas do que pode ser feito”, diz José Resende. (Imagem: José Resende/reprodução)

O projeto foi idealizado por Nelson Brissac Peixoto, professor da PUC-SP, doutor em filosofia e o criador do projeto Arte/Cidade, em conjunto com o escultor José Resende. Juntos, convidaram e agregaram ao grupo a engenheira Heloisa Maringoni, que contribui com seu saber na solução de questões inerentes à medidas em toneladas e movimentos de guindastes.

A complexa operação representa o desdobramento mais sofisticado do projeto Arte/Cidade, encabeçado por Brissac desde 1994, que 18 anos depois já se tornou um marco da intervenção artística no espaço urbano no Brasil. Com a intenção de “pensar o que é possível ser feito com os resíduos urbanos”, as intervenções propostas pretendem também chamar a atenção para o abandono não só da ferrovia como do entorno de uma região que já foi a principal rota de escoamento da produção paulista para o litoral, através do Porto de Santos.

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“A ideia por trás dessa proposta de alterar a situação existente de abandono desses vagões é apontar uma discussão a ser feita, buscando tirá-la do senso comum ao ampliar o repertório de questões a serem pensadas”, diz Resende.

A dificuldade de identificar a quem pertencia o objeto de intervenção é sintoma da situação: ninguém sabia mais quem eram os donos dos vagões enferrujados, abandonados há pelo menos dez anos logo abaixo do Viaduto São Carlos. O ponto de partida para Canteiro de Operações, por fim descobriu-se, pertence ao antigo espólio da Rede Ferroviária Federal, e faz as vezes de motor de uma discussão que, de acordo com os idealizadores do projeto, precisa ser tirada do senso comum para ser confrontada – ou ao menos vista – pela sociedade.

SERVIÇO:

Dia 11 a 16 de Setembro

– Memorial da América Latina – O público poderá acompanhar o empilhamento dos containers, com três reposicionamentos por dia.

Dia 15 de setembro às 11:00 horas
Auditório do Memorial da América Latina – Apresentação do projeto, com a presença dos autores

Dia 11 a 30 de setembro
Ramal ferroviário da Mooca – entre as estações Mooca e Ipiranga – O público poderá ver os vagões recobertos dos viadutos, mas sobretudo passando de trem pelo trecho.

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