icon-plus
Postado em 16/05/2013 - 6:35
China pelo pincel
Nina Gazire

Coleção Musée Chernuschi traz seiscentos anos de história da pintura chinesa em exposição inédita no Brasil

Zhang Daqian Le Mont Emei (detail) Mc 8769

Monte Emei, Zhang Diang. 

Entre 1953 e 1972, o pintor chinês Zhang Diang cuidou metodicamente de seu jardim, localizado em um sítio próximo a cidade de Mogi das Cruzes no interior de São Paulo. O cenário brasileiro moldado pela disciplina confuciana serviu de inspiração para pintura daquele que é considerado um dos maiores mestres da pintura chinesa do século XX. 

Diang é comparado a Picasso_ suas obras chegam as cifras de milhões de dólares em leilões_ apesar de sua técnica remontar aos preceitos milenares que a pintura chinesa carrega tradicionalmente. Tais preceitos foram definidos no século 16 pelo estudioso Xie He e tratavam-se de seis verdades que um artista deveria carregar em sua obra: ressonância de espírito, quando o artista leva para a obra sua “alma”, o método do osso; que diz respeito a maneira correta de segurar o pincel; correspondência com o objeto observado; adequação da cor; divisão e plano, que diz respeito a composição e, por último, a capacidade de realizar cópias da obra original. 

Na mostra Seis séculos de pintura chinesa – Coleção do Musée Cernuschi, em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, é possível observar a evolução dos seis preceitos colocados em prática, e de certa forma, a maneira como evoluíram ao longo dos séculos. As 120 obras presentes na mostra abarcam uma produção feita entre 1368 e 1911, durante o período imperial e entre 1912-1942, da era Republicana, era que fez com que Zhang Diang procurasse o Brasil e expandisse os preceitos pictóricos centenários e os expandisse longe da vigilância estética que surgia com a ascensão do regime comunista chinês. 

A coleção, apresentada pela primeira vez no Brasil, é resultado das viagens que o economista italiano Henri Cernuschi fez pela China, colecionando 5 mil obras de arte daquele país, inclusive, obras do período moderno, como O monte Emei, pintado por Diang em 1955. Na pintura, a imensidão da montanha parece fundir-se as pequenas construções que a cercam, uma espécie de imagem metafórica para, talvez, o principal preceito da pintura chinesa, a ressonância de espírito, onde o artista se reconhece como parte harmoniosa de uma natureza sempre maior e dinâmica.

Seis séculos de pintura chinesa-Coleção Museé Chernuschi
até 04 de agosto
Praça da Luz, nº02
Pinacoteca de São Paulo, São Paulo