Coleção Musée Chernuschi traz seiscentos anos de história da pintura chinesa em exposição inédita no Brasil
Monte Emei, Zhang Diang.
Entre 1953 e 1972, o pintor chinês Zhang Diang cuidou metodicamente de seu jardim, localizado em um sítio próximo a cidade de Mogi das Cruzes no interior de São Paulo. O cenário brasileiro moldado pela disciplina confuciana serviu de inspiração para pintura daquele que é considerado um dos maiores mestres da pintura chinesa do século XX.
Diang é comparado a Picasso_ suas obras chegam as cifras de milhões de dólares em leilões_ apesar de sua técnica remontar aos preceitos milenares que a pintura chinesa carrega tradicionalmente. Tais preceitos foram definidos no século 16 pelo estudioso Xie He e tratavam-se de seis verdades que um artista deveria carregar em sua obra: ressonância de espírito, quando o artista leva para a obra sua “alma”, o método do osso; que diz respeito a maneira correta de segurar o pincel; correspondência com o objeto observado; adequação da cor; divisão e plano, que diz respeito a composição e, por último, a capacidade de realizar cópias da obra original.
Na mostra Seis séculos de pintura chinesa – Coleção do Musée Cernuschi, em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, é possível observar a evolução dos seis preceitos colocados em prática, e de certa forma, a maneira como evoluíram ao longo dos séculos. As 120 obras presentes na mostra abarcam uma produção feita entre 1368 e 1911, durante o período imperial e entre 1912-1942, da era Republicana, era que fez com que Zhang Diang procurasse o Brasil e expandisse os preceitos pictóricos centenários e os expandisse longe da vigilância estética que surgia com a ascensão do regime comunista chinês.
A coleção, apresentada pela primeira vez no Brasil, é resultado das viagens que o economista italiano Henri Cernuschi fez pela China, colecionando 5 mil obras de arte daquele país, inclusive, obras do período moderno, como O monte Emei, pintado por Diang em 1955. Na pintura, a imensidão da montanha parece fundir-se as pequenas construções que a cercam, uma espécie de imagem metafórica para, talvez, o principal preceito da pintura chinesa, a ressonância de espírito, onde o artista se reconhece como parte harmoniosa de uma natureza sempre maior e dinâmica.
Seis séculos de pintura chinesa-Coleção Museé Chernuschi
até 04 de agosto
Praça da Luz, nº02
Pinacoteca de São Paulo, São Paulo