O céu é elemento central na vida do sertanejo do Nordeste brasileiro. O sol inclemente, balizador dos humores e força insuperável nos ciclos da natureza, deixou marcas profundas na pele, no caráter e no trabalho do pintor paraibano Sergio Lucena.
O artista passou longo tempo de sua trajetória pintando a paisagem revelada pela luz do sertão. Até 2005 se concentrou na leveza e na dureza dos encontros entre céu e terra, entre céu e água, das terras onde cresceu. Desde então, a escolha pelo formato vertical dos suportes indicou um caminho de ascensão: da figuração da paisagem em direção à abstração etérea.
Em 2014, essa movimentação do olhar para o alto atingiu o ápice na tela “Éden” (2014/2015), que nas palavras da crítica Julia Lima em texto para o catálogo da individual do artista na Galeria Mezanino, em São Paulo, chega a um “estado absoluto de vibração tonal e luminosa”.
Somos tentados a acreditar que na obra de Sergio Lucena a figuração seja a terra, e a abstração seja o ar. Mas os títulos de suas telas quase monocromáticas não nos deixam enganar. Elas continuam afirmando a paisagem, se referindo ao ar, à terra, à agua, ao fogo. Mais que tudo, ao elemento místico, presente em todos os anteriores.
“Paisagem Que Santifica a Terra Onde Nasci” (2016); “Paisagem Como Vislumbre Cultivado nos Vales” (2016); “Paisagem Como Enigma” (2016) e as outras tantas paisagens da mostra “É Como o Vento”, devolvem ao corpo a condição de fragilidade diante do céu e da terra; e colocam o artista em torpor em relação aos mistérios da vida.
Serviço
Galeria Mezanino
Rua Cunha Gago, 208 – São Paulo
Até 21 de maio
De terça-feira a sábado, das 11h às 19h