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Postado em 06/11/2014 - 10:33
Circuito alternativo
Feiras Parte, de arte, e MADE, de design, articulam temas e agendas para criar reverberação em torno de novas apostas e nomes consagrados a preços acessíveis
Luciana Pareja Norbiato

 

Tamara Perlman, co-organizadora da Parte ao lado de LinaWurzmann

 

Em sua quarta edição, a organização da Feira Parte decidiu fazer par com um reforço de peso vindo do design. Aliou-se informalmente à Feira MADE – mercado arte e design, voltada com mais ênfase para o último item, mas com um pezinho em visuais – como a participação da Luciana Caravello Galeria e a inclusão de instalações de artistas com curadoria de galeristas, caso dos neons de Alê Jordão selecionados por Baixo Ribeiro, chamada The Neon Traffic Dealer.

Vista da instalação de Alê Jordão com curadoria de Baixo Ribeiro na feira MADE – mercado arte e design

 

Este ano, os eventos resolveram dar as mãos e criar um circuito alternativo que privilegia artistas em ascensão, preços mais em conta para nomes consagrados e a criação com finalidade também utilitária. “Combinamos com o Waldick Jatobá (organizador da MADE) de realizar as iniciativas ao mesmo tempo, estamos em contato direto. Inclusive tivemos a ideia de fazer as aberturas cada uma em um dia”, diz Tamara Perlman, sócia de Lina Wurzmann na empreitada de arte acessível.

Com 60% das obras comercializadas com valores em torno dos R$ 5 mil, a Parte pretende ser uma plataforma de lançamento. “Queremos mostrar aqui o que vai estar na capa da seLecT daqui cinco anos”, brinca Perlman. O fato é que a continuidade do projeto da Parte, em sua quarta edição novamente no amplo subsolo do Paço das Artes, ajuda a emprestar visibilidade a jovens galerias e artistas.

Vista geral de um dos corredores da Parte (foto Denise Andrade)

 

Nino Cais, por exemplo, hoje já não pode mais ser exibido na feira dentro do conceito de low budget. Com sua inclusão na Bienal de 2012 e diversas individuais que consolidaram seu nome na cena, o artista valorizou a ponto de não caber mais nos preços reduzidos.

A galeria que o representa, a Central, também ganhou com a exposição na feira: este ano, foi convidada para participar da Art Basel Miami, razão pela qual não pode integrar a Parte. “Claro que queríamos que eles participassem, mas sabemos também que de alguma forma nossa feira contribuiu para essa visibilidade da galeria”, diz Perlman. Outra galeria que deixou de participar foi a Zipper, que atualmente está nas feiras maiores, SP-Arte e ArtRio.

A procura de internacionais continua bem. Com oito galerias vindas de fora no conjunto total de 44 escritórios de arte, as argentinas foram campeãs em inscrição. “Foram 20 inscritas, mas apenas cinco selecionadas”, diz a organizadora. No comitê de seleção deste ano, trabalharam o leiloeiro Aloisio Cravo, o ex-diretor do MAM da Bahia e curador do fundo de investimentos Brazil Golden Art Heitor Reis, a curadora Katia Canton, a coordenadora do Instituto Figueiredo Ferraz e curadora Rejane Cintrão e a fundadora e presidente do Conselho Administrativo do ICCo (Instituto de Cultura Contemporânea) Regina Pinho de Almeida.

As relações internacionais ajudam a articular contatos também de artistas com galerias no exterior. Rodolpho Parigi tem uma relação bem próxima com a colombiana Sketch, que atualmente exibe uma exposição com obras do brasileiro em Bogotá.

Design com estilo

Vista do pátio que ladeia os stands dos coletivos na feira MADE

 

Em sua segunda edição, a vizinha MADE aposta em uma ambientação que representa bem seu assunto, ao contrário da versão de estreia da feira carioca IDA, evento de design paralelo à ArtRio que parecia mal-ajambrado em um galpão sem divisórias. Aproveitando a amplitude e os gramados do Jockey Club, a produção da feira, dirigida por Kátia d’Avillez, apostou em espaços realmente criativos para mostrar os trabalhos de 15 galerias e 26 coletivos, além das já citadas instalações artísticas (seis no total).

Até o parquinho é instalação de design: ficou a cargo do Estúdio Roni Hirsch e se chama Erê-Lab. Até adultos ficam com vontade de fazer um test-drive. Os stands das galerias ocupam saletas de um dos prédios do Jockey de maneira simpática, com divisórias para acomodar duas galerias por espaço sem prejuízo do bom gosto visual.

A arte também está na ambientação. Graça Bueno, proprietária da Passado Composto Século XX, contou com a ajuda do irmão, o artista Rodrigo Bueno, na climatização de seu stand para fazer par com as tapeçarias de Genaro de Carvalho, pintor modernista que conferiu caráter maior à arte do bordado em tela.

A retrospectiva do baiano no espaço da galeria ganhou um chão de folhas aromáticas e um enorme arranjo de flores e frutas que remete à cultura de seu estado natal, em particular às oferendas do candomblé. Rodrigo Bueno e seu ateliê Mata Adentro são reconhecidos pelas intervenções que integram harmonicamente natureza e elementos produzidos pela mão humana.

Ambiente da Passado Composto Século XX com ambientação do artista Rodrigo Bueno remontando concepção de Lina Bo Bardi (foto Mariana Chama)

 

O ambiente é a reencenação da expografia de Lina Bo Bardi para a retrospectiva de Carvalho no MAM da Bahia, quando ainda era localizado no Teatro Castro Alves (primeira metade da década de 1960). A arquiteta ítalo-brasileira é uma das homenageadas da feira, com exposição que celebra o centenário de seu nascimento e menções em vários ambientes, como as cortinas de plástico que ela ajudou a introduzir e popularizar no Brasil.

Se a Luciana Caravello está na MADE, vem representando trabalhos de design que se relacionam com as visuais. Fortalecendo uma tendência que vem se consolidando no país com a abertura da joalheria de arte de Thomas Cohn, Caravello apresenta joias criadas pelo artista Walmor Corrêa, que trabalha pela primeira vez com design, a convite da própria galerista.

De Rodrigo Almeida, a galeria traz cadeiras. O designer está em mais dois espaços: na Legado Arte e em um dos nichos dos coletivos, com o Grupo Design Armorial. Formado por Almeida em dupla com Rodrigo Ambrosio, Sérgio José Matos e Zanini de Zanine, o combo foi aos grotões sertanejos de Pernambuco pesquisar elementos tradicionais com os quais criaram móveis e objetos, como a cadeira de cintos de couro.