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Verde Exército P302 - Amarelo Pote de Ouro R608 ("O Novo Grupo Verde e Amarelo"), 2019, na parede por trás da escultura Aculturação (Não) É Integração (Transamazônica), 2016, ambas de Beto Scwafaty (Fotos: Edouard Fraipont, Cortesia Galeria Luisa Strina)
Postado em 20/03/2019 - 10:32
Citações políticas e artísticas
Obras inéditas de Beto Shwafaty criticam avanço conservador no Brasil, comentam projetos políticos e citam outros artistas
Luana Fortes

Citação é a palavra-chave da individual que Beto Shwafaty apresenta na Galeria Luisa Strina, em São Paulo. Ao olhar os 16 trabalhos expostos, quase todos inéditos e feitos a partir de um desejo de responder ao contexto político atual, a sensação é sempre: eu já vi isso antes. Sim, você provavelmente já viu coisas semelhantes, como uma estátua esverdeada que derrama água de um vaso e a bandeira verde-amarela do Brasil. As citações e apropriações de Shwafaty não são dissimuladas. São claras. Basta que o artista introduza um novo elemento ao que é familiar e a situação ganha novos sentidos.

A obra que recebe o público na mostra Amanhã Não Lembrarei De Nada é uma parede pintada metade de verde, metade de amarelo. E a conversa segue em seu título Verde Exército P302 – Amarelo Pote de Ouro R609 (“O Novo Grupo Verde e Amarelo”), 2019. Um olhar mais demorado sobre o trabalho percebe que aquelas cores não são exatamente as da bandeira brasileira. Anuncia-se então uma crítica ao patriotismo excessivo que tem sido promovido pelos novos governantes do País.

Mas as citações de Shwafaty não se referem apenas à esfera política. É comum identificar relações entre as suas obras e as de outros artistas, como Cildo Meireles, Ivan Grilo e Marcelo Cidade. Na série Educação Moral e Cívica (2019), o artista amarra blocos de concreto – em formato de pessoas – em carteiras de madeira. Sempre em posições improváveis, os blocos-pessoas apoiam-se sobre livros de história e política. Por um lado, a obra coloca em pauta o problemático projeto Escola Sem Partido e discute a Educação Moral e Cívica, disciplina implantada e tornada obrigatória no currículo escolar durante a ditadura militar pós AI-5, em 1969. Somente em 1996 deixou de ser mandatória e recentemente volta a ser pleiteada por segmentos conservadores da sociedade.

Por outro lado, o trabalho relaciona-se com Parla (1982), de Cildo Meireles, que coloca uma figura humana, feita com blocos de concreto, sentada sobre uma cadeira, diante de um banquinho de concreto onde o público pode também sentar. Mas, se o trabalho de Meireles convida para o diálogo, o de Beto Shwafaty evidencia os perigos de propostas que buscam limitar a fala e o ensino. Esse sinal de alerta está presente em toda a exposição.

Serviço
Amanhã Não Lembrarei De Nada, de Beto Shwafaty
até 23/3/2019
Galeria Luisa Strina
Rua Padre João Manuel, 755
galerialuisastrina.com.br