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Postado em 27/05/2013 - 6:31
Como uma onda no mar
Paula Alzugaray

Criatividade, bom senso e profissionalismo marcam o projeto do Museu de Arte do Rio

Mar

Visto a distância, o Museu de Arte do Rio (MAR), inaugurado na região portuária como a primeira realização do projeto Porto Maravilha da prefeitura do Rio de Janeiro, poderia ser visto como um desafio fitzcarraldiano, um barco reluzente içado Morro da Conceição acima. Porém, uma primeira visita às suas oito galerias distribuídas em quatro pavimentos, que somam nada tímidos 2,4 mil metros quadrados de área expositiva ocupada por mostras temporárias, dissipa qualquer conceito antecipado ou miragem.

Sob a direção cultural de Paulo Herkenhoff, o MAR é um projeto pensado para a população do Rio que integra as funções de educação em arte e formação de coleção, e que corresponde à maturidade e ao brilhantismo de seu diretor. A integração com a cidade, seus habitantes, seus conhecimentos e soluções técnicas começa na estrutura arquitetônica. O projeto consiste em dois edifícios restaurados e adaptados – o museu e a Escola do Olhar, a primeira escola pública de arte do Rio –, unidos por uma cobertura fluida de concreto e Isopor, que foi moldada por uma equipe de profissionais que trabalham em escolas de samba. Se, no ano passado, a grande crítica sobre o projeto era o fato de ter sido pensado como um espaço sem acervo para abrigar coleções privadas, o problema foi resolvido pela equipe de Herkenhoff: o MAR nasce com 3 mil obras de acervo próprio, em formação. Na ocupação de estreia, no entanto, o museu não destaca a própria, mas duas importantes coleções privadas: 250 obras pertencentes ao advogado carioca Sergio Fadel e, com projeto cenográfico questionável, uma mostra de 136 peças do marchand romeno Jean Boghici, radicado no Rio.

Mas o verdadeiro presente para o público são as duas curadorias que pensam o passado e a atualidade da cidade. No terceiro andar, depois de vivenciar uma vista arrebatadora de 360 graus da cidade desde o alto do edifício, o público é convidado a mergulhar no Rio oitocentista, pintado pelas escolas francesa, italiana, alemã e holandesa. A exposição Rio de Imagens: Uma Paisagem em Construção transporta delicadamente o visitante ao longo de 200 anos de imagens da Cidade Maravilhosa até desaguar na atualidade dos trabalhos de Marcos Chaves, Ivens Machado, Antonio Dias e Caio Reisewitz. No térreo, a experiência contemporânea se adensa em O Abrigo e o Terreno: Arte e Sociedade no Brasil I. A mostra parte de uma pergunta lançada por Flávio de Carvalho: “Como progredir?” e investiga a cidade como ambiente político e social, a partir das reformas urbanas que hoje transfiguram o Brasil. Ernesto Neto, com seu incrível senso de oportunidade, realiza para a exposição a obra Mar Revolto É Coisa do Passado.

MAR – Museu de Arte do Rio

Aberto de terça a domingo, das 10 às 17h00
Praça Mauá, 5, Centro, Rio de Janeiro

*Publicado originalmente na edição impressa #11