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Postado em 29/11/2011 - 10:42
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Nina Gazire

Entrevista com Eli Sudbrack, do coletivo Assume Vivid Astro Focus, responsável pelo visual do mais novo projeto de Lady Gaga

No último dia 21 de novembro, véspera do dia de Ação de Graças, a cantora Lady Gaga inaugurou sua parceria com a Barneys, loja de departamento de luxo nova-iorquina. Chamada de Gaga’s Workshop, o projeto tomou conta do quinto andar de um dos edifícios da loja, que no ano que vem será interditado para reforma. A ideia de Workshop aqui é algo diferente da que nós estamos acostumados. A tradução, no caso, está mais próxima do termo “oficina”, mas não uma oficina como curso sobre alguma coisa, e sim, próxima de seu significado literal. 

Nessa época do ano é comum, nos EUA, que as lojas de departamentos criem vitrines, decorações e produtos com o tema Santa’s Workshop, que em bom portugês significa oficina do Papai Noel_ lugar onde o velhinho fabrica os presentes do natal. A aposta da Barneys esse ano em Gaga como papai noel fashion rendeu outras parcerias que trabalharam no projeto, como a colaboração com o coletivo Assume Vivid Astro Focus, do qual o brasileiro Eli Sudbrack faz parte. O AVAF, sigla pela qual o grupo é conhecido, ficou responsável pela identidade visual de todo o projeto do Gaga’s Workshop, criando desde a logomarca até as esculturas que enfeitam as gôndolas da loja temporária, com produtos de edição especial assinada por Lady Gaga. 

No dia de abertura, após o evento de inauguração, a entrada do público foi permitida a partir da meia noite e a loja permaneceu aberta durante toda a madrugada. Os produtos encontrados na espécie de “Pop Up Store”, que ficará aberta até o dia dois de janeiro, estão alinhados com o projeto artístico criado pelo AVAF, que trabalhou sob a curadoria de Nicola Formichetti, diretor criativo da Haus of Gaga e responsável pelo ressurgimento da grife Thierry Mugler. Os artigos vendidos vão de doces, enfeites de natal, velas e monstrinhos de pelúcia a aparelhos de porcelana. Os valores variam de $25 doláres a $695 dólares, que é o preço de uma xícara de chá incrustada com cristais Swarovski criada especialmente para o Workshop. Parte do lucro da venda com a marca Gaga’s Workshop será revertida para a Born This Way Foundation, fundação criada por Gaga e que trabalha no combate ao bullyng entre crianças e adolescentes. Em entrevista, Eli Sudbrack conta como foi o processo de criação da identidade visual do Gaga’s Workshop e como foi conhecer pessoalmente a grande diva do pop atual:

Como surgiu a parceria entre o Assume Vivid Astro Focus e Lady Gaga?

O Diretor Criativo da Loja de departamento Barneys, Dennis Freedman, trabalhou com minha agente comercial há milênios atrás. Já havíamos cogitado alguma possibilidade de trabalhar com a Gaga por meio de um contato com um galerista meu que a conhece. Discutiu-se, sem muito compromisso, a possibilidade de criar um set (projeto de identidade visual) para um dos shows dela, mas tudo muito remoto e em cima da hora. Daí, essa minha agente comercial me ligou dizendo que o Dennis Freedman estava fazendo um projeto com a Lady Gaga e nos convidou para fazer o projeto de identidade visual do Workshop da Barneys com a Lady Gaga. Topei na hora, achei super bacana.

O que vem a ser um Workshop da Gaga? Como criar um “oficina” da Lady Gaga dentro de uma loja de departamentos?

Essa ideia de Workshop é muito americana. Ela está ligada às tradicionais vitrines decoradas no natal com a Oficina do Papai Noel. Workshop aqui tem esse sentido de ser a oficina do Papai Noel que é tema de decoração de algumas lojas de departamento. No caso, a Barneys aproveitou o período de fim de ano com a chegada do feriado da Ação de Graças para criar uma espécie de Natal da Lady Gaga.

Em qual parte do projeto o AVAF trabalhou especificamente?

A Barneys possui dois edifícios. O set no qual trabalhei foi o projeto da decoração, mais especificamente no quinto andar do edifício de moda masculina, que será eliminado no ano que vem. O local foi transformado em uma loja temporária da Lady Gaga. Além disso, tive a função de criar a logomarca do Workshop, que é essa mão com as unhas afiadas e coloridas e a outra imagem, que é ela de cabelo azul, deitada. A partir disso fizemos todo o projeto das instalações da loja e das gôndolas onde os produtos de edição limitada com a marca são vendidos. O nosso logo foi usado como etiqueta em alguns produtos e muitas vezes transformados em motivos em alguns outros, como por exemplo, um lenço que tem a estampa com essa marca. Dos produtos, nós criamos apenas uma máscara que está sendo vendida nessa edição especial. A Barneys convidou outras pessoas ligadas à cantora, como por exemplo, a responsável pelas unhas da Lady Gaga, para criar uma linha de unhas postiças que estão sendo vendidas no Workshop. Tem até doces e balas especialmente feitos para o evento.

Como foi para o Assume Vivid Astro Focus, que é um projeto artístico, trabalhar dentro de um projeto comercial? Vocês tiveram liberdade de criação?

Por ser um trabalho comercial, tentamos criar dentro dos limites possíveis entre a liberdade artística e a de criar um resultado funcional. Eu não tenho problema nenhum com isso, mas realmente você não tem tanta liberdade quanto a de criar uma obra de arte especificamente. Mas dentro das restrições colocadas, a gente teve muita licença para realizar o projeto. O nosso diálogo se deu com o diretor de criação dela, que é o Nicola Formichetti, também responsável pela Mugler e que fez a decoração das janelas voltadas para a Madison Avenue. Ele adorava tudo que agente fazia. Quanto a pressão,  o que eles queriam imediatamente era a logomarca do projeto. Havia certa pressa, pois eles estavam fazendo outros produtos e precisavam disso. No começo, houve certo bate-volta com relação ao logo. A princípio estávamos fazendo algo bem mais ligado ao nosso imaginário, algo com uns ciclopes, mais ligado a ideia do monstro. Isso foi limado. Acho que a Lady Gaga está passando por um momento de ser mais chique e mais fina. Ela quer algo com uma moda mais refinada, como Yves Saint Laurent, por exemplo. Penso que ela está em um momento de transformação. Quanto ao uso da imagem dela, fizemos uma figura mais longilínea, tendo como referência as roupas que ela usa. Em uma das criações a transformamos em uma aranha, que serviu de referência para as bijuterias.

Lady Gaga constantemente realiza parcerias com criadores visuais ou artistas plásticos importantes fazendo uma ponte entre uma estética mais refinada e o pop vendável. No caso da parceria, até que ponto a produção de vocês tem a ver com a imagem da cantora? Como você vê esse modo de trabalhar da Lady Gaga?

Eu acho que o que ela quer, de uma forma ou de outra, é se aproximar do mundo da arte. Ela já trabalhou com outros artistas antes, enfim, eu acho que ela gosta de pessoas criativas. De certa forma, o mundo da arte inspira o trabalho dela, mas ela quer fazer outra coisa a partir disso que é mega pop e mais acessível. Eu mesmo nunca me senti muito conectado a ela. Acho que ela se monta super bem, sempre usa fantasias e roupas loucas, mas é outro mundo. É o mundo do pop star da música. Querendo ou não, ela está lidando com questões delicadas ao tentar fazer essa ponte. Ela não quer fazer algo meramente para aparecer, por exemplo. Do dinheiro arrecadado com este Workshop, 20% serão revertidos para uma fundação sem fins lucrativos que ela criou para proteger jovens e crianças que sofrem bullying. Ela também sempre traz a questão dos gays em seus discursos, não acho que seja uma pessoa conformada com sucesso, apesar de fazer tudo isso dentro da esfera pop.

Vocês trabalharam com Lady Gaga durante esse tempo por meio de uma série de intermediários. Vocês chegaram a conhecê-la pessoalmente?

Só no dia da abertura do evento. No dia da inauguração nós tivemos um horário marcado com ela. Ela foi fofa e super acessível. Claro, ela é uma mega star, cercada por seguranças e assessores. Na hora havia quatro seguranças com ela. Ela agradeceu muitíssimo o nosso trabalho, mas foi a primeira vez que ela viu o projeto. Ela estava super emocionada, a mãe dela estava com ela. Mas é um mundo a parte, é difícil para ela.