O escultor, babalorixá e escritor Mestre Didi (1917-2013) foi um iniciador dos estudos sobre cultura afro-brasileira e de pesquisas comparativas entre Brasil e África. Referência solar quando se fala em indissociação entre humanidade, natureza, espiritualidade e cultura, Mestre Didi é homenageado em Iwin Igbo – O Espirito da Floresta, curadoria de João Simões para o estande da 01.01 Art Platform na Sp-Arte.
01.01 (leia-se Um de Um, em referência ao dia seguinte da Revolução Haitiana) é uma plataforma focada em pesquisar e expor a produção artística afro-diaspórica, criada e conduzida pelos artistas e curadores Ana Beatriz Almeida, Moisés Patrício, Camilla Rocha Campos, João Simões e Keyna Eleison. A SP-Arte 2022 é a sua quarta participação em feiras.
Na 18ª edição da feira, eles plantaram uma floresta. “Uma floresta ancestral”, diz Moisés Patrício. “Quando a gente consegue atravessar essa jornada da vida, muitos iorubas tem a concepção de que voltamos para a as árvores. A árvore também é uma moradia dos espíritos”.
“Pensamos na exposição nessas formas verticais como árvores, que fazem a conexão entre o céu e a terra”, diz João Simões. Tudo começa por Antonio Olexede, neto de Mestre Didi, que dá continuidade à obra do grande artista, tanto na técnica de construção dos objetos, mas também como Babalorixá do mesmo terreiro assumido por Mestre Didi, em Salvador.
Kuta Ndumbu é um artista angolano que trabalha com os Nkisis, divindidades da natureza, dentro da matriz do candomblé de Angola, em esculturas com troncos de árvores colhidos em mangues. Moisés Patrício apresenta duas homenagens, construídas a partir de rezas: Comunidade – Uma Homenagem a Mestre Didi (2021) e Homenagem aos Ibejis (2022).
Alexandre dos Anjos, artista hoje residente no Pivô Arte e Pesquisa, apresenta peças da série Patuá, preenchidos com ervas. “Aqui ele evoca a sabedoria das plantas, as plantas professoras, que nos ensinam e protegem”, diz Simões. As colagens de Aretha Sadick trazem Oxumaré e as cobras para falar sobre a transformação enquanto mulher trans de terreiro. A série Restauros Negros, de May Agontinme, promove o restauro da pele negra em imagens de orixás de pele branca, com intervenções em crochê.
A comunidade florestal continua no site da SP-Arte, com obras de Ana Beatriz Almeida, Raphael Cruz, João Simões e Roger Cipó.