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Postado em 09/06/2013 - 7:13
Conversas Infinitas
Mariel Zasso

Cinco entrevistas do artista e ativista chinês Ai Weiwei realizadas pelo curador suíço Hans Ulrich Obrist são reunidas em livro editado pela Cobogó

Aiweiwei Huo

Legenda: Ai Weiwei conversa com Obrist na Serpentine Gallery em 2012 (Divulgação)

O título fala por si: mais que um livro, Ai Weiwei Entrevistado por Hans Ulrich Obrist é um acontecimento. Ou vários. Duas das personalidades mais influentes no mundo das artes – no topo da venerada lista da Art Review em 2009 e 2010 – em cinco bate-papos tão envolventes que por vezes nos fazem rir junto.

Parte do projeto do curador suíço de “conversas infinitas”, o livro exibe recortes de um diálogo contínuo, registrado entre 2006 e 2009 em diversos encontros, capaz de mostrar ao leitor atento um artista como processo. A trajetória de Ai Weiwei, contada ao já amigo Hans Ulrich Obrist, dá conta não só de como o chinês transformou-se no artista-ativista-político que é hoje, mas também de um testemunho de circunstâncias peculiares do processo histórico políticocultural chinês. Da influência do regime comunista no dia-a-dia de um “filho de um inimigo do Estado”. Das consequências das barreiras que a Revolução Cultural impunha a tudo que fosse considerado cultura ocidental – “O nosso conhecimento parava no cubismo”. Da resistência, que forjou “uma geração incrível”, vanguarda cultural da qual o artista é hoje um ícone.

Nesse contexto, Ai Weiwei define-se com simplicidade: “Um chinês que mora em Pequim”. Jovem desenhista, filho de um dos maiores poetas modernos da China – Ai Qing, falecido em 1996 – foi (é) ceramista, pesquisador, curador, arquiteto, urbanista, fotógrafo, um prolífico blogueiro – tanto quanto o Obrist entrevistador, com mais de 2000 horas de entrevistas gravadas. Mas muito disso sem intenção. Seu relato e discurso deixam claro: não há planejamento na vida desse artista que, ao falar da vida, filosofa. 

Com uma obra plural como poucas, que faz lembrar os polivalentes artistas-pensadores renascentistas, “seria quase impossível compreendê-lo em uma única entrevista”, declara Obrist. História, memória, causos, biografia vão além de um portifólio de projetos e obras, e contam algo dos costumes orientais, dos choques culturais imininentes. Recorrente, contínua, infinita, a conversa entre Ai Weiwei e Obrist navega em um fluxo de acontecimentos que vale a pena descobrir. E não por acaso a conversa não acaba.”As pessoas estão sempre mais interessadas no produto final”, debatem. Mas para eles, a própria experiência – da arte ou do blog de Ai Weiwei, das curadorias ou das conversas infinitas de Obrist – é em si o objetivo. Em meio a centenas de fotos, vídeos, documentos e posts citados, é grande a vontade de tirar o ouvido da parede e entrar na sala para enxergar do que eles falam. Para ser melhor, só se fosse uma conversa hiperlinkada.

Serviço:

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Ai Weiwei entrevistado por Hans Ulrich Obrist

Ed. Cobogó, 2013, 136 páginas.

R$ 38,00

cobogo.com.br