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Postado em 03/10/2011 - 6:15
Criaturas de vitrine
Juliana Monachesi

Haim Steinbach combina habilidades que vão da curadoria à visão de lince dos shopaholics

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“A criatura no título da última mostra individual de Haim Steinbach em uma galeria de Nova York é um enorme brinquedo de plástico, verde e escamoso baseado em The Creature From the Black Lagoon. Ele está disposto em uma coluna branca quadradona construída na horizontal, no nível dos olhos, atravessando uma sala da galeria [Tanya Bonakdar] em que um dos cantos está truncado por um grande plano triangular, também branco. A combinação é definitivamente impressionante: um ready-made de Haim Steinbach instalado em uma versão fantasmagórica das esculturas minimalistas cinzas de Robert Morris dos anos 1960”, escreve Roberta Smith no NYT sobre a exposição Creature, do artista americano nascido em Israel (Steinbach vive em Nova York desde 1957), um dos mais célebres apropriacionistas da arte contemporânea.

Depois de um segundo parágrafo apresentando o contexto da produção do artista – desde os anos 1970, Steinbach é um artista cujas preocupações centrais são ready-mades, minimalismo, modalidades expositivas e a suposta aura dos objetos de arte; e sua marca registrada são as prateleiras, laminadas com plástico monocromático, em forma de cunha -, a crítica do Times diz a que veio (a sua resenha): “Aqui, suas estantes mais recentes nos lembram que o Sr. Steinbach foi um praticante pioneiro da assemblage solta e da arte por arranjo que hoje em dia é algo como uma fúria”.

“Art by arrangement”, a tal arte por arranjo, é uma boa expressão para definir as assemblages de Steinbach, uma vez que ele não modifica os objetos de que se apropria, sejam eles do universo do consumo, do design ou da cultura popular. Mas a maneira de os expor, organizados em grupos sobre a base escultórica de parede que é sua marca registrada, ela sim determina a leitura da obra de “arte por arranjo”. No site da galeria Tanya Bonakdar há um preview da exposição, com registros de cada uma das salas e também das obras individualmente. Impressiona a limpeza com que Steinbach dispõe mordedores caninos, um coelho guerreiro Haremüngous (toy art assinada por Mike “Nemo” Mendez) com uma caveira tatuada no peito, o boneco de um soldado Storm Trooper, de Star Wars, e um bonsai de plástico sobre a estilosa prateleira azul sob o título Robot Poetry. Mas pensar nesta prática como uma fúria dos nossos dias é mesmo uma visão acurada?

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Smith não cita exemplos da “fúria arranjonista”, e prossegue defendendo a opinião de que Haim Steinbach é tão ou mais formalista do que é interessado em elevar o despercebido ou esvaziar o status especial da arte, “e sempre com extrema precisão”, afirma, como na obra Western Hills, por exemplo, em que “desenvolve uma intrincada permuta entre três formas volumosas, discorrendo sobre cor, patriotismo, machismo e violência: um vasilhame de cerâmica na forma de um xerife de barba vermelha, uma lata de lixo de alumínio feita nos Estados Unidos (e brilhantemente orgulhosa disso) e um brinquedo de empilhar com anéis coloridos”.

A crítica menciona outras instalações da exposição que envolvem papel de parede ou linguagem, mas afirma que as obras mais potentes são aquelas com arranjo de objetos, que refletem dons afiados, uma combinação de “aspectos de curador, designer de vitrine e comprador olho-de-águia”, o que seria especialmente aparente nas esculturas de arte popular incluídas em duas peças de estante. “Os objetos feitos de objetos do Sr. Steinbach sempre nos deram mais para olhar e para pensar a respeito do que suas críticas culturais ostensivas conduziriam você a esperar”, conclui Smith seu breve e denso texto que nos deixa curiosos para saber quem seriam os apropriacionistas atuais que estariam fazendo mera crítica cultural, sem oferecer algo para olhar e pensar a respeito…